Descrição de chapéu ataque à democracia

PM do Distrito Federal, criticada após vandalismo, é a mais bem paga do país

Salário líquido médio era de R$ 9.743 em 2021, segundo Anuário da Segurança Pública

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Rio de Janeiro

A Polícia Militar do Distrito Federal, criticada pela inércia diante da depredação de prédios públicos em Brasília neste domingo (9), é a mais bem paga do país. Em 2021, os agentes recebiam em média um salário líquido de R$ 9.743 mensais.

O valor é 61% mais alto do que a média de todas as PMs brasileiras, de R$ 6.051.

O número inclui todas as patentes da corporação e foi publicado no último Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Se considerado o salário bruto, o DF (R$ 11.861) só perde para Goiás (R$ 11.928).

PMs e manifestantes com a bandeira do Brasil enrolada
Policiais militares filmam e conversam com manifestantes golpistas neste domingo (8), no DF - Reprodução

A capital federal também concede as maiores remunerações líquidas considerando apenas os soldados (R$ 7.172), cabos (R$ 8.347) e sargentos (R$ 9.924), a maioria do efetivo destacado para acompanhar manifestações nas ruas.

Nesta segunda (9), o comando da corporação virou alvo de uma investigação do Ministério Público Federal. O órgão vai apurar se houve omissão do comandante, coronel Fábio Augusto Vieira, e demais autoridades nas invasões às sedes dos Três Poderes.

Vídeos mostram policiais permitindo a entrada de golpistas nos edifícios, filmando a depredação e conversando com manifestantes. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decretou intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal até o fim de janeiro.

Ricardo Cappelli, por sua vez, foi nomeado interventor e determinou a troca do comando da corporação, escalando Klepter Rosa Gonçalves como interino —Gonçalves foi o responsável pela atuação do efetivo policial na posse do atual presidente.

Arthur Trindade, que foi secretário da pasta em 2015, no governo de Rodrigo Rollemberg (PSB), classifica a atuação da PM neste domingo como "uma negligência criminosa" e diz que os ataques eram facilmente reprimíveis.

"Há 60 anos as forças do DF fazem a segurança da esplanada contra manifestações, essa não era nada maior do que as outras. Não havia tropa de choque, o número de policiais era compatível a um evento esportivo comum e as Forças Armadas não foram acionadas, como de praxe", diz.

O sociólogo questiona também a demora de três horas para resolver a situação. "Não se pode atribuir isso a falta de competência ou ingenuidade. Deliberadamente alguém no planejamento não quis tratar isso com a seriedade necessária", opina ele, hoje membro do Fórum de Segurança.

Os altos salários da tropa se devem ao fato de a segurança pública do Distrito Federal ser majoritariamente paga com verbas da União, através do Fundo Constitucional do DF —também usado para financiar educação e saúde na capital federal.

O fundo receberá quase R$ 23 bilhões neste ano, uma alta de quase 50% com relação ao ano passado, porque é corrigido pela variação da receita federal.

As forças conseguiram um aumento em 2020, aprovado pelo Congresso Nacional e pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Policiais civis, militares e bombeiros do DF tiveram um incremento de cerca de 8% no salário real.

Em novembro, o governador bolsonarista Ibaneis Rocha (MDB), agora afastado do cargo por 90 dias por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal), encaminhou ao Governo Federal mais uma proposta de recomposição salarial de 18% ao setor.

Para Trindade, os aumentos salariais se refletem no grande apoio dos policiais de Brasília ao ex-presidente. "Bolsonaro prometeu aumento para as polícias de todo o Brasil, mas não cumpriu porque isso é de competência estadual. No caso do DF, porém, ele conseguiu", afirma.

Outro estudo divulgado em agosto pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que entrevistou 5.058 policiais pela internet, mostrou que 15% concordavam com a frase "em alguns casos seria justificável que os militares apoiassem ou tomassem o poder através de um Golpe de Estado".

Em agosto de 2021, a instituição também detectou que 38% dos policiais interagiam em ambientes digitais ligados ao bolsonarismo —21% o faziam em páginas e perfis onde teses golpistas eram defendidas abertamente.

Colaborou o UOL.

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