Tarcísio conclui nomeações em primeiro escalão com pouca diversidade em cargos

Mesmo após pressão, há somente 5 mulheres e 2 pessoas negras em secretariado com 25 nomes

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Com a conclusão dos anúncios para o primeiro escalão do Governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) montou um gabinete com apenas 5 mulheres e 2 pessoas negras para as 25 secretarias estaduais.

São 12 pessoas brancas para cada negro, e 5 homens para cada mulher que acompanhará o governador no novo mandato, iniciado no domingo (1º).

O número foi levantado pela Folha e confirmado com a assessoria de Tarcísio.

Marcos Pontes (PL-SP) cumprimenta Tarcísio no dia de sua diplomação - Bruno Santos - 19.dez.22/Folhapress

Entre as mulheres estão Sonaira Fernandes (Republicanos-SP), na Secretaria da Mulher; a coronel Helena Reis (Republicanos-SP), no Esporte; além de Natália Resende (Infraestrutura), Laís Vita (Comunicação) e Marília Marton (Cultura e Economia Criativa).

Haverá duas mulheres autodeclaradas pretas e pardas na administração —Sonaira e Helena Reis. O governo também nomeou o coronel Henguel Pereira como secretário-chefe da Casa Militar, subsecretaria vinculada à Segurança Pública, mas que não consta no primeiro escalão.

No segundo escalão e em órgãos independentes, além de Pereira, o novo governo decidiu manter a procuradora-geral do Estado, Inês Coimbra, a primeira pessoa negra a ocupar a função.

Apesar disso, a diversidade é maior em relação à dos últimos dois chefes do Executivo estadual, Rodrigo Garcia (PSDB) e João Doria (ex-PSDB). O gabinete de Rodrigo possuía quatro mulheres e nenhum negro, e Doria nomeou três mulheres após eleito, repetindo a ausência de pretos e pardos no primeiro escalão.

Especialistas afirmam, porém, que o aumento do número da diversidade no novo governo estadual ainda é incipiente, e os indicados devem criar e apoiar políticas públicas capazes de garantir direitos e melhorar a vida das minorias étnicas e sociais.

Segundo Paula Nunes, da Coalizão Negra por Direitos, a indicação de mulheres e negros nas secretarias veio combinada de vários outros retrocessos em áreas como a segurança pública.

Nunes lembrou o vaivém da Secretaria de Pessoas com Deficiência, que seria extinta por Tarcísio, mas foi mantida após pressão da sociedade civil.

Ela demonstrou preocupação com a nomeação de Sonaira Fernandes por avaliar que, apesar de ser mulher e negra, não representa avanços na diversidade por ser contra questões importantes para as mulheres e para as pessoas negras.

Entre os projetos que Sonaira apresentou estão a proibição de cotas raciais em instituições públicas e privadas na cidade de São Paulo, e o veto a conteúdo "pornográfico, erótico ou sensual" nas escolas municipais, com pena de 4 a 8 anos de prisão para professores e diretores que adotarem a prática.

Ela também cita o capitão Derrite, secretário da Segurança Pública e visto como um integrante linha-dura da Polícia Militar, e diz que as políticas de segurança propostas pelo novo governo, como a remoção das câmeras nos uniformes dos policiais, podem ameaçar ainda mais a segurança de pessoas negras e habitantes das periferias e favelas em todo o estado.

Tarcísio não divulgou nenhuma proposta para pessoas negras em seu plano de governo, tampouco para mulheres, indígenas ou a população LGBTQIA+. O documento também não cita palavras como "negro", "negra" ou "indígenas".

Já na propaganda eleitoral da TV e do rádio, o bolsonarista trouxe algumas promessas para o público feminino, como uma secretaria para mulheres e linhas de crédito exclusivas para pequenas empreendedoras, ainda sem contemplar a questão racial.

Apesar disso, o novo inquilino do Palácio dos Bandeirantes foi pressionado por organizações e entidades da pauta racial e por grupos de oposição, após vencer a disputa estadual e romper com 28 anos de administração tucana.

Na diplomação dos eleitos, em 19 de dezembro, a bancada do Movimento Pretas levantou uma faixa que dizia "O povo preto quer viver". Já a Bancada Feminista do PSOL ergueu cartazes que pediam justiça a Felipe, que morreu durante visita de Tarcísio a Paraisópolis.

Um mês antes, a Educafro, organização que luta pela equidade racial em espaços políticos, enviou documento ao governador eleito pedindo a maior inclusão de pessoas negras no primeiro e no segundo escalão do governo.

A carta afirma que o voto de pretos e pardos foi decisivo para o pleito e, agora, deve ser convertido em inclusão e políticas para o estado, que possui cerca de 17 milhões de pessoas negras, numericamente o maior do Brasil.

Frei David, coordenador da instituição, diz ter conversado com Tarcísio e que o governador afirmou estar se sentindo vítima de preconceito por ser mais compreensível com a pauta étnico-racial do que se imagina, afirmando que a população preta e parda paulista terá surpresas com ele.

No entanto, Frei David demonstrou preocupação com o perfil de primeiro escalão do novo governador, considerado por ele pouco diverso, e com pessoas que, apesar de negras, lutam contra pautas importantes para a obtenção da equidade —como Sonaira.

Segundo o coordenador da instituição, a conversa com Tarcísio abarcou outras propostas, como a utilização de cotas raciais nos concursos públicos paulistas —o sistema atual é de pontuação acrescida, quando todos concorrem na mesma lista, mas pessoas pretas e pardas recebem pontos a mais—, algo que o governador disse avaliar.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.