Comando do Exército sob Bolsonaro vetou desocupação de QG, diz PM preso por ordem de Moraes

Coronel Naime implicou generais em depoimento à Polícia Federal

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Brasília

Um oficial da PM do Distrito Federal apontou em depoimento para a Polícia Federal a cúpula do Exército do governo de Jair Bolsonaro (PL) como responsável por impedir a desocupação do acampamento golpista em frente ao quartel-general em Brasília.

Ex-chefe do setor de operações da PM, Jorge Naime narrou em sua oitiva que o DF esteve pronto em diversas ocasiões para retirar os manifestantes do local antes da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas as tentativas foram frustradas pelo comando do Exército.

Naime está preso desde terça-feira (7) por ordem de Alexandre de Moraes. Ele é investigado também pelo episódio do dia 8 de janeiro.

Soldados do Exército desmontam e retiram objetos do acampamento bolsonarista em frente ao QG do exército em Brasília
Soldados do Exército desmontam e retiram objetos do acampamento bolsonarista em frente ao QG do exército em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

Os generais citados foram o então comandante do Exército, Marco Antonio Freire Gomes, e o chefe do Comando Militar do Planalto, Gustavo Henrique Dutra.

Na versão do PM apresentada à PF, ele descreveu aos investigadores uma reunião no Palácio do Planalto com a participação de policiais e militares em que foi apresentado o plano para retirada dos bolsonaristas do QG antes da posse.

Foi do QG do Exército que partiram os bolsonaristas que atacaram o prédio da PF em 12 de dezembro e, também, os envolvidos nas depredações contra as sedes dos três Poderes.

Parte das investigações em andamento vê a manutenção do acampamento como um dos pontos que facilitaram os ataques do dia 8.

Como mostrou a Folha, os órgãos de investigação civis avançaram até o momento sobre parte dos vândalos, mas nada até o momento respingou em integrantes das Forças Armadas.

Naime disse que, após a reunião no Planalto, a PM disponibilizou os meios necessários para a operação. "Mais de 500 policiais, tropa de choque e aeronave", disse.

"Que ficaram em condições para efetuar a operação de retirada do acampamento em frente à Igreja Rainha da Paz; que, posteriormente chegou a informação que o general Dutra, por ordem do comandante do Exército, havia suspendido a operação."

Naime disse à PF que essa foi "apenas uma das reuniões nas quais se tentou retirar o acampamento" e que "houve diversas outras reuniões com esse objetivo, mas o Exército frustrou todos os planejamentos e tentativas."

O policial afirmou que essas informações foram repassadas a ele pelo ex-comandante da PM Fábio Augusto Vieira, exonerado do cargo após os ataques antidemocráticos do dia 8 de janeiro e que chegou a ser preso por determinação de Moraes.

As tentativas foram reveladas pela Folha no dia 3 de janeiro. Militares ouvidos pela reportagem argumentavam que havia risco de uma ação no local acabar inflamando os bolsonaristas.

O general Marco Antonio Freire Gomes foi substituído por Julio Cesar Arruda, que ficou apenas 24 dias no posto, demitido por Lula após os ataques golpistas.

Naime também detalhou em seu depoimento como o Exército barrou a entrada da PM no QG logo após os ataques e impediu a prisão de golpistas. O episódio já tinha sido mencionado.

Assim que chegou no local após os ataques, Naime conta que começou a discutir como seriam realizadas as prisões. Nesse momento, diz ele, um oficial do Exército informou que havia sido montada uma linha de choque inclusive com blindados, para impedir a entrada da PM.

Segundo Naime, o general Dutra chegou no local e passou a discutir com o interventor Ricardo Cappelli. O interventor defendia a entrada, e Dutra negou a permissão.

Dutra foi vitorioso na discussão uma vez que a PM não pode entrar na noite do dia 8 e somente realizou a retirada na manhã da segunda (9), quando vários golpistas já haviam deixado o local.

Como a Folha mostrou, neste momento de tensão, o presidente Lula deu aval para o Exército realizar a operação de desmonte somente no dia seguinte após ouvir que havia chance de, sem planejamento prévio, o ato resultar em conflito e mortes.

Desde 8 de janeiro, ao menos 1.420 pessoas foram presas em flagrante ou durante operações deflagradas pela Polícia Federal. Daqueles presos em flagrante, 916 tiveram a prisão convertida em preventiva (sem prazo determinado) e 464 obtiveram liberdade provisória, mediante medidas cautelares.

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