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Entidades de imprensa reagem a ataque de líder petista a jornalista da Folha

Deputado do PT critica jornalista por reportagem sobre omissão em currículo da esposa de Rui Costa

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Recife

A Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), o Sinjorba (Sindicato dos Jornalistas da Bahia), a Associação Bahiana de Imprensa e a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) reagiram, nesta terça-feira (28), ao ataque do deputado estadual Rosemberg Pinto (PT) ao jornalista João Pedro Pitombo, da Folha.

O líder do governo de Jerônimo Rodrigues (PT) na Assembleia Legislativa da Bahia contestou reportagem que revelou que a esposa do ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), omitiu em seu currículo que ocupa um cargo na Secretaria de Saúde do estado há pelo menos nove anos, incluindo os oito anos em que seu marido foi governador.

Aline Peixoto, que é enfermeira e concorre a uma vaga de conselheira no Tribunal de Contas dos Municípios, foi nomeada no dia 5 de maio de 2014 como assessora especial da Secretaria Estadual de Saúde da Bahia.

O deputado estadual Rosemberg Pinto (PT) - Reprodução

Em vídeo gravado e publicado na segunda (27) pelo portal Aratu On, Rosemberg Pinto acusa o jornalista de escrever "contra a Bahia" e classifica João Pedro Pitombo como "mentiroso".

"Ele que escreve contra a Bahia. Ele é mentiroso, o currículo dela diz que ela trabalhou, foi assessora especial", diz o deputado, ao ser interrompido pelo repórter.

Nesse momento da gravação, o repórter diz que no currículo há menção ao trabalho de 2012 a 2014, mas não ao vínculo desde então, ao passo que o parlamentar petista responde: "Não sei, para a Assembleia não interessa, só interessa se ela tem capacidade de ser conselheira".

"A crítica tem sido feita por alguns jornalistas, a exemplo do que escreveu a matéria da Folha de S.Paulo, que não gosta dos baianos, só fala mal da Bahia, dos políticos, principalmente de esquerda. [Ele] faz uma crítica ácida a Aline. Na minha opinião, isso é um machismo por trás de quem está escrevendo", afirma Rosemberg.

Em nota conjunta, a Fenaj, o Sindicato dos Jornalistas da Bahia e a Associação Bahiana de Imprensa manifestaram solidariedade a João Pedro Pitombo e frisaram que não há mentira na reportagem publicada.

"À luz da prática do bom jornalismo, como defendem as entidades –tão necessário nesse tempo de circulação de fake news– , não há qualquer inverdade na referida matéria, apurada segundo critérios técnicos, com informações confirmadas por fontes da Secretaria de Saúde do Estado e corroborada pelo ex-secretário da pasta, o médico Fábio Vilas-Boas, a quem Aline Peixoto, concorrente a uma vaga de conselheira no Tribunal de Contas dos Municípios, esteve subordinada."

As entidades ainda chamaram "atenção da imprensa e de outros segmentos sociais, para a necessidade de se discutir os critérios não técnicos que sempre foram utilizados na indicação aos postos dos tribunais de contas, inclusive na Bahia".

Para a Abraji, afirmações como a do deputado "servem apenas para incentivar a violência contra os jornalistas".

Segundo a associação, em mensagem por WhatsApp, o deputado afirmou à Abraji que sua fala se tratou de uma resposta pessoal. "Tenho o direito de opinar pelo que entendo de verdades e mentiras."

"Nós, da Abraji, temos contabilizado mais de uma centenas de ataques de violência política nos últimos meses e acompanhamos de perto como manifestações desse tipo têm servido para desqualificar o jornalismo e seu papel fundamental de oferecer informações de interesse público", diz a entidade em nota.

A reportagem procurou o deputado Rosemberg Pinto nesta terça, após a reação de entidades. A assessoria de imprensa do parlamentar disse que ele não se manifestaria sobre o assunto.

Rosemberg, porém, utilizou seu tempo de discurso na Assembleia nesta terça dizendo não retirar as críticas contra o jornalista.

"Primeiro, tenho um respeito muito grande pela imprensa. Não fiz nenhuma agressão à imprensa. Segundo, quando o jornalista me questionou sobre um determinado tema, e ele leva a palavra do órgão de imprensa, eu fiz questão, para respeitar a imprensa, de separar a imprensa e fazer uma afirmação personalizada, que não retiro, personalizada", disse o petista.

Rui Costa, então governador da Bahia, e sua esposa Aline Peixoto no Carnaval de Salvador em 2019 - Raul Spinassé/Folhapress

Esposa de Rui Costa, Aline Peixoto permaneceu no cargo no governo mesmo após o marido assumir o Governo da Bahia em janeiro de 2015.

No mesmo período, passou a ocupar a presidência das Voluntárias Sociais, entidade sem fins lucrativos tradicionalmente liderada pela primeira-dama do estado e que atua em parceria com o governo.

No currículo enviado à Assembleia Legislativa para registrar sua candidatura à vaga de conselheira do Tribunal de Contas, Aline informou que ocupou um cargo na Secretaria de Saúde entre 2012 e 2014 e disse que a partir de 2015 assumiu a gestão das Voluntárias Sociais.

O ministro Rui Costa tem atuado nos bastidores pela indicação da sua esposa para o cargo, que é vitalício e tem salário mensal de R$ 41,8 mil. A iniciativa, contudo, gerou desconforto e constrangimento entre deputados aliados, além de críticas de eleitores petistas.

Erramos: o texto foi alterado

As declarações do deputado foram dadas ao portal Aratu On, não ao site Informe Baiano como afirmado em versão anterior deste texto.

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