Descrição de chapéu Governo Lula

Lula abre brecha para disputar reeleição e defende punição a Bolsonaro

Presidente altera tom sobre o tema em relação à campanha e cogita candidatura em caso de 'situação delicada' no país

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu declaração durante uma entrevista abrindo a possibilidade de concorrer à reeleição em 2026, apesar de ter descartado essa hipótese ao longo da última campanha eleitoral.

À RedeTV! o presidente disse que precisa "aproveitar a vida" e que agora não pensa em ser candidato. No entanto, fez uma ressalva: afirmou que isso pode acontecer se houver "uma situação delicada" e ele se sentir com a saúde perfeita.

"Se eu puder afirmar para você agora, eu falo 'não serei candidato em 2026'. Eu vou estar com 81 anos de idade. Eu preciso aproveitar um pouco a minha vida, porque eu tenho 50 anos de vida política. Isso é o que eu posso te dizer agora. Agora, se chegar num momento, tiver uma situação delicada e eu estiver com a saúde, porque também só posso ser candidato se eu tiver com saúde perfeita, mas com saúde perfeita, 81 de idade, energia de 40 e tesão de 30 [aí posso ser candidato]", afirmou na entrevista exibida nesta quinta-feira (2).

0
Presidente Lula durante reunião com governadores no Palácio do Planalto - Gabriela Biló/Folhapress

A ressalva vai em direção oposta a declarações dadas durante a campanha eleitoral do ano passado. Em evento em setembro, por exemplo, o atual presidente disse: "Todo mundo sabe que eu tenho quatro anos. Todo mundo sabe que não é possível um cidadão com 81 anos querer a reeleição".

Logo na primeira semana da gestão, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, defendeu a hipótese de Lula concorrer em 2026. "Vocês estão partindo de um fato consumado de que Lula não irá disputar a reeleição. Eu não parto desse fato consumado."

Correligionários viram o início dessa discussão como precipitada, por antecipar indevidamente a próxima disputa eleitoral, e pelo risco de atrapalhar o próprio governo.

Na primeira vez que ocupou a Presidência (de 2003 a 2006), Lula dizia ser "filosoficamente" contrário à reeleição, instituída no país em 1997. Mas acabou disputando um segundo mandato —e vencendo a eleição.

Ainda à emissora, Lula disse que é preciso construir novas lideranças que possam ser candidatas em 2026. Citou ainda alguns auxiliares que foram governadores e que agora estão na Esplanada, entre eles Rui Costa (Casa Civil), Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social), Flávio Dino (Justiça) e Renan Filho (Transportes).

O presidente chamou Jair Bolsonaro de genocida em pelo menos dois momentos da entrevista. Afirmou que ele cometeu crime de extermínio de um povo contra os yanomamis, cuja crise humanitária ganhou grande relevo no início do atual governo.

"Eu acho que é necessário [punir Bolsonaro] pelo seguinte: ele deve ser julgado por genocídio no caso dos yanomamis, mas [também] no caso de Covid-19, porque ele foi um presidente que se colocou contra tudo que é cientista desse país. Ele se colocou contra praticamente todo mundo que clamava para que a gente comprasse vacina rápida, clamava para que o governo fizesse publicidade da necessidade de tomar vacina. Ele não. Ele fez o contrário.".

Lula também afirmou que Jair Bolsonaro deve ser julgado em algum momento, que há a possibilidade de parentes de vítimas da pandemia abram um processo em cortes internacionais.

O atual chefe do Executivo também citou as ofensas em série de Bolsonaro e que ele desrespeitou "tudo aquilo que a gente tinha de normalidade na política brasileira". Mencionou os ataques contra o Supremo Tribunal Federal, contra o Congresso Nacional, contra o papa Francisco, o presidente francês Emmanuel Macron e sua esposa.

Sobre os atos golpistas de 8 de janeiro e outras ações antidemocráticas, Lula disse ter certeza que Bolsonaro "preparou um golpe".

"Hoje eu tenho consciência e vou dizer aqui em alto e bom som. Esse cidadão preparou o golpe. Eles queriam fazer aquela bagunça no dia 1º de janeiro, mas eles perceberam que não dava porque tinha muita polícia e muita gente na rua. Eu tenho certeza que o Bolsonaro participou ativamente disso e ainda está tentando participar."

O petista classificou o adversário como "quase que um psicopata". "Esse cidadão não pensa, ele não raciocina, ele vomita as coisas com o maior desrespeito do mundo, com a maior falta de objetividade e de sinceridade do mundo", completou.

O presidente depois acrescentou que o ex-adversário na disputa eleitoral precisa responder por esses crimes.

"Eu acho que o Bolsonaro em algum momento vai ter que ser julgado. Eu acho que, não sei se a pena dele, se vai ficar inelegível ou não, mas ele cometeu um crime na minha opinião. Ele tem que ser julgado em algum momento por genocídio, contra a população vítima do Covid e pelo que aconteceu com os yanomami."

Apesar das críticas a Bolsonaro, Lula fez acenos a eleitores que votaram no ex-presidente. Entre outros pontos, disse considerar que o "bolsonarismo raiz" é um movimento bastante inferior ao porcentual de votos recebido por Bolsonaro na eleição de outubro —49,1%.

O presidente também voltou a defender uma ação internacional para conter o avanço da extrema-direita. Entre as medidas, citou o combate à desinformação e a necessidade de responsabilizar plataformas digitais que divulguem conteúdo sabidamente mentiroso.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.