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Pivô de crise de Lula com militares assume novo cargo no Exército

Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, será responsável por definir instruções para treinamentos militares

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Brasília

Um mês após ter sua nomeação suspensa para o comando de um batalhão, o tenente-coronel Mauro Cid foi realocado na estrutura do Exército para um cargo na direção do Coter (Comando de Operações Terrestres do Exército).

Na chefia do Preparo da Força Terrestre, Cid —que foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)— será responsável por cuidar das instruções gerais dadas aos treinamentos militares. Entre as suas atribuições está a de auxiliar no preparo de GLOs (Garantias da Lei e da Ordem), com exercícios para habilitar as tropas para a atuação nessas operações.

A função é administrativa e ligada à burocracia do Coter —diferentemente do cargo que o ex-assessor de Bolsonaro ocuparia no 1º Batalhão de Ações de Comandos, em Goiânia, no qual seria o responsável pelo comando da tropa.

Mauro Cid e Jair Bolsonaro - Adriano Machado-18.jun.19/Reuters

A nova ocupação, no entanto, pode ser provisória. Segundo pessoas próximas, Cid pretende se inscrever para o processo seletivo interno do Exército para assumir em 2024 o comando de outro batalhão.

A expectativa no entorno do militar é que as pendências dele na Justiça já estejam resolvidas até o início do segundo semestre, quando o resultado do processo deverá ser anunciado.

Eles citam, por exemplo, que a PGR (Procuradoria-Geral da República) já se manifestou favoravelmente ao arquivamento do inquérito em que Cid e Bolsonaro são investigados por associar vacinas contra Covid ao falso risco de desenvolver o vírus da Aids.

O receio de interlocutores de Cid é que a investigação da Polícia Federal sobre as transações suspeitas realizadas pelo ex-ajudante de ordens demore mais que o esperado. Assim, ainda sob suspeita, o tenente-coronel pode ter de ficar mais um ano em cargo administrativo —o que poderia prejudicar sua promoção para coronel.

O Comando de Operações Terrestres é o órgão responsável por coordenar o preparo e emprego dos militares do Exército. Também cabe ao Coter inspecionar as Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros Militares.

Mauro Cid foi ajudante de ordens de Bolsonaro durante todo o período em que o político esteve no Palácio do Planalto. Ele deixou a função após acompanhar o ex-presidente na viagem para os Estados Unidos, no fim de dezembro.

O elo desenvolvido com Bolsonaro e as crises do ex-presidente com o Judiciário dificultaram a situação de Cid no Exército.

Primeiro lugar nas turmas de mestrado e doutorado da Força, ele foi designado em maio de 2022 para assumir o batalhão de Goiânia —um dos principais cargos que podem ser ocupados por tenentes-coronéis, já que a organização é considerada uma tropa de elite.

A nomeação, porém, foi anulada por ordem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para atender a demanda presidencial, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, demitiu o então comandante do Exército, general Júlio César de Arruda, que resistiu à mudança no cargo de Cid.

O novo comandante, Tomás Paiva, conseguiu um acordo com Cid para adiar a nomeação para o cargo de comando.

Em reunião com o Alto Comando do Exército horas depois, Tomás afirmou que a justificativa para a mudança era o fato de Cid ser investigado pela Polícia Federal por ter feito transações suspeitas em benefício da família e amigos de Bolsonaro. Mas esse não é o único problema na Justiça que envolve o ex-ajudante de ordens.

O tenente-coronel passou a ser investigado por participar da organização da live de 29 de julho de 2021, quando o presidente fez o então mais duro ataque contra o sistema eleitoral; e depois da live de 4 de agosto de 2021, quando Bolsonaro divulgou informações de inquérito sigiloso sobre um ataque hacker ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Foi essa segunda apuração que complicou a situação de Cid.

O militar teve o sigilo quebrado por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Os investigadores identificaram no telefone do militar mensagens que levantaram suspeitas.

Conversas por escrito, fotos e áudios trocados por ele e outros funcionários da Presidência sugerem a existência de depósitos fracionados e saques em dinheiro.

A movimentação se destinava a pagar contas pessoais da família presidencial e também de pessoas próximas da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Bolsonaro nega qualquer irregularidade.

Em sua defesa, Cid apresentou os extratos do cartão corporativo que tinha a responsabilidade de gerir. Os documentos mostram que, nos quatro anos de governo, não houve nenhum gasto na conta bancária.

Segundo essa linha de defesa, o tenente-coronel apenas teria pago contas do presidente com recursos próprios da família dentro de suas atribuições como ajudante de ordens de Bolsonaro.

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