Descrição de chapéu Folhajus

Governador do Acre lavou dinheiro de corrupção com carros de luxo e aviões, suspeita a PF

OUTRO LADO: Defesa diz que Gladson Cameli (PP) já prestou 'devidos esclarecimentos e colocou-se à disposição das autoridades'

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Brasília

A Polícia Federal encontrou na investigação da operação Ptolomeu indícios de que o governador do Acre, Gladson Cameli (PP), valeu-se de transações envolvendo compra de veículos de luxo, aviões, imóveis e operações em dinheiro vivo e cartão de crédito para lavar dinheiro proveniente de corrupção.

Cameli foi alvo nesta quinta (9) da 3ª fase da Ptolomeu. Ele teve contra si uma ordem para entrega do passaporte e sequestro de bens expedida pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Segundo a PF, as investigações indicam a existência de uma "organização criminosa, controlada por agentes políticos e empresários ligados ao Poder Executivo estadual acreano, que atuavam no desvio de recursos públicos, bem como na realização de atos de ocultação da origem e destino dos valores subtraídos, através da lavagem de capitais".

O governador do Acre, Gladson Cameli (PP), durante uma sessão no Senado Federal
O governador do Acre, Gladson Cameli (PP), durante uma sessão no Senado Federal - Divulgação/Senado

No total, a pedido da PF, foi autorizado o sequestro de R$ 120 milhões em bens dos investigados.

Do governador são alvos da medida judicial um carro blindado avaliado em R$ 200 mil, uma aeronave modelo Beech Aircraft de R$ 1,5 milhão e três imóveis —sendo um apartamento de R$ 6,5 milhões em São Paulo, uma casa de R$ 7 milhões em Rio Branco (AC) e um imóvel em Brasília avaliado em R$ 600 mil.

Além de Cameli, são investigados seu pai, a esposa, dois primos, dois tios e dois irmãos.

O governador, por meio de seus advogados, disse que já prestou "devidos esclarecimentos, colocou-se à disposição das autoridades e assim permanece".

Em nota, a defesa do governador afirmou ainda ver com surpresa a nova fase da operação baseada em um "inquérito que se arrasta há dois anos".

"Trata-se de uma investigação baseada em uma pescaria probatória e uma devassa financeira ilegal, que atacou a família do governador como forma de driblar o foro adequado", afirmam os advogados.

A PF acessou os sigilos fiscais de Cameli entre os anos de 2018 e 2021. A análise dos dados, de acordo com a apuração, indicou um aumento exponencial no patrimônio do governador e a existência de considerável diferença entre o que foi declarado e o patrimônio oculto.

Após ser eleito governador, em 2018, o patrimônio, segundo a apuração, cresceu quase cinco vezes em relação ao declarado ao iniciar o mandato.

O valor oficialmente declarado naquele ano foi de R$ 2,8 milhões, e os dados mostram que, em 2021, o patrimônio real era de R$ 16 milhões, um crescimento de mais de 470%.

No caso dos carros de luxo, a PF desconfiou das transações do governador após o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) encaminhar uma comunicação da Bolsa de Valores sobre vários veículos cujos financiamentos estavam registrados em nome de uma mesma pessoa e com diferença substancial no preço se comparado com o praticado no mercado.

Com base na informação, os investigadores acharam um emaranhado de transações com veículos de luxo operadas direta e indiretamente pelo governador.

As negociações resultaram num acréscimo de R$ 2,8 milhões no patrimônio de veículos de Cameli. Em 2018, em declaração ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ele afirmou ter R$ 202 mil em automóveis, o que significa um aumento de 1.400%.

Entre os veículos citados estão um Jaguar E.Pace, uma Land Rover Discovery, um VW Jetta, um Hyundai Azera, uma Pajero Hpe e uma Amarok.

Os policiais federais apreenderam joias, relógios, dinheiro em espécie (reais, dólares e euros) e veículos de luxo na Operação Ptolomeu
Em fase da operação em 2021, policiais federais apreenderam joias, relógios, dinheiro em espécie (reais, dólares e euros) e veículos de luxo - Divulgação/Polícia Federal do Acre

Outra suspeita da PF é sobre os gastos do governador e de sua esposa com cartão de crédito. As informações amealhadas indicam que há uma incompatibilidade entre os valores gastos e renda do casal. Desde 2018 até 2020, foram gastos R$ 2,9 milhões com as faturas.

Também chamou atenção dos investigadores a forma de pagamento das faturas, com fracionamento de pagamentos e quitação feita por terceiros que indicam possível lavagem de dinheiro.

As quebras de sigilo mostram que R$ 345 mil das faturas foram pagas por pessoas não identificadas e outros cerca de R$ 145 mil foram quitados por terceiros.

Os investigadores também analisaram a compra de aviões pelo governador e encontraram suspeitas sobre a forma de aquisição e pagamento das aeronaves.

A primeira aeronave de Cameli foi uma da marca Embraer modelo B810D declarada no valor de R$ 350 mil em 2018. A PF encontrou indícios de que o avião foi pago com dinheiro em espécie e em depósitos fracionados.

No ano seguinte, Cameli adquiriu outra aeronave, uma Beech Aircraft modelo BE58. Assim como no caso da primeira, a PF suspeita da majoração dos valores dos aviões para se criar um lastro financeiro a ser utilizados no futuro para esquentar valores ilegais.

Ao transferir a propriedade da aeronave, o governador declarou R$ 1,5 milhão, mas à Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) informou o valor de R$ 1,1 milhão.

A PF também aponta como suspeita de lavagem de dinheiro a "inexplicável predileção" do governador por transações com dinheiro em espécie. A quebra de sigilo de suas contas revela 375 depósitos em suas contas que somam R$ 2,3 milhões desde 2018.

A investigação mostrou que a maioria dos repasses tem origem em servidores do estado do Acre, familiares de Cameli e em empresas nas quais ele tem participação.

Do total recebido, de acordo com a apuração, cerca de R$ 900 mil foram depositados de forma fracionada, característica comum a transações irregulares para ocultar a origem dos valores.

A PF cita como exemplo o dia 19 de agosto de 2020, quando a conta recebeu 20 depósitos feitos em um caixa eletrônico. Desse total, 13 foram feitos no valor de R$ 2,500 cada.

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