Militar que tenta eleição perde o gosto pelas Forças Armadas, diz Múcio

Ministro tenta evitar que proposta do PT para extirpar Garantia da Lei e da Ordem dos militares avance no Congresso

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Brasília

O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmou nesta quarta-feira (29) que os militares que voltam às Forças Armadas após se licenciar para disputar eleições perdem os princípios de hierarquia e disciplina e não deveriam voltar à ativa.

A declaração do ministro ocorre duas semanas após a pasta enviar ao Palácio do Planalto uma minuta de PEC (proposta de emenda à Constituição) para proibir que militares permaneçam na ativa caso tentem disputar eleições ou assumam cargo no Executivo.

Ministro da Defesa, José Múcio Monteiro tenta avançar com PEC para proibir que militares fiquem na ativa após disputar eleições. - Pedro Ladeira/Folhapress

"Você não pode imaginar como isso é salutar para o país, para a democracia. O militar tem carreira, serve ao Estado brasileiro. Você sai para a política, tem insucesso [na eleição] e volta: você não é mais nem militar e fica sonhando com uma nova eleição", disse o ministro.

Múcio disse ainda que, após a filiação partidária, o militar "começa a seguir os princípios do partido, e as regras não seguem a hierarquia e disciplina".

"[O militar que tenta a política] perde os princípios hierárquicos e perde o gosto pelas Forças Armadas. Nós não estamos proibindo. Quem for que seja feliz na política. Quem ficar que seja forte como militar", completou.

O ministro afirmou também não concordar com a PEC gestada pelo PT para alterar o artigo 142 da Constituição e tirar do Exército as operações de GLO (Garantia da Lei e da Ordem).

"Não há necessidade de mexer agora. Eu sou de uma tese de que quem tem o negócio de golpe na cabeça não precisa de regras. A gente precisa conversar [com os parlamentares] para chegar a uma solução consensual, que se estabeleça uma resultante para o que as pessoas desejam", afirmou Múcio.

Como mostrou a Folha, o PT tenta desde a Assembleia Nacional Constituinte tirar das Forças Armadas a atribuição de atuar como garantidora da lei e da ordem —o que possibilita que militares atuem na segurança pública interna do país.

Após a participação intensa de militares no governo Jair Bolsonaro (PL) e os ataques golpistas de 8 de janeiro, o partido voltou a discutir uma mudança constitucional sobre os deveres das Forças Armadas.

O deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP), que tem levantado as discussões, se reuniu com o comandante do Exército, Tomás Paiva, e ouviu os relatos sobre a resistência das Forças contra uma mudança mais profunda nas atribuições militares, como deseja o PT.

Diante da ofensiva no Congresso, os comandantes das Forças e Múcio Monteiro prepararam uma proposta para limitar as mudanças no artigo 142 da Constituição e tirar somente a possibilidade de militares que se candidatarem a cargos políticos permanecerem na ativa.

Segundo relatos de generais feitos à Folha, uma proposta do tipo busca evitar que mudanças mais profundas, como a sugerida pelo PT, avancem no Congresso Nacional —apesar de a assessoria parlamentar do Exército ver pouca chance de uma PEC sobre o assunto prosperar.

Múcio conversou com jornalistas após o fim de uma cerimônia do STM (Superior Tribunal Militar) para a condecoração de militares e civis.

Entre os que receberam a principal honraria estavam o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, os comandantes Tomás Paiva (Exército), Marcos Olsen (Marinha) e Marcelo Damasceno (Aeronáutica) e o chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, almirante Aguiar Freire.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também foi chamado para receber a maior honraria, a grã-cruz da Ordem do Mérito Judiciário Militar, mas faltou à cerimônia. Militares presentes afirmaram, sob reserva, que a presença do senador foi cancelada após Arthur Lira ter confirmado a participação.

Na lista do cerimonial, Pacheco e Lira ficariam lado a lado. Os dois estão com problemas na relação diante das divergências sobre a tramitação das MPs (medidas provisórias).

"Há uma certa tensão [sobre o impasse das MPs], porque o governo tem a necessidade de que essas coisas sejam aprovadas, mas isso vai ser resolvido", disse Múcio ao fim da cerimônia.

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