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Morre a socióloga Mara Kotscho, cofundadora do Datafolha

Mara foi responsável por criar instituto de pesquisa nos anos 1980, a partir de método desenvolvido na USP

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São Paulo

A socióloga Mara Kotscho, uma das fundadoras do Datafolha, em 1983, morreu neste sábado (11), aos 70 anos, em decorrência de um tumor no cérebro descoberto no ano passado.

Entre os sucessores de Mara no instituto, ela é descrita como pioneira e competente, cujo trabalho nos primórdios foi fundamental para que o Datafolha se tornasse uma referência de rigor e credibilidade. Para a família, Mara foi uma mulher acolhedora e atenciosa.

O jornalista Ricardo Kotscho com a mulher Mara Kotscho, antes de apresentação da orquestra Bachiana Filarmônica Sesi-SP, na sala São Paulo - Greg Salibian - 17.ago.2015/Folhapress

Casada com o jornalista Ricardo Kotscho desde 1972, Mara deixa duas filhas, a também jornalista Mariana e a cineasta Carolina, e cinco netos. Ela nasceu em São Paulo, em 1953. Seu pai, Paulo Chagas Nogueira, era engenheiro e sua mãe, Maria Lúcia Chagas Nogueira, pianista.

"Mara era uma pessoa que cuidava de tudo, da família, dos filhos. Não tinha tempo ruim para ela, que resolvia tudo. Até telhado ela consertou. Agora ela vai consertar as coisas no céu. Eu só pude ser jornalista e repórter graças a ela", diz Kotscho, que como repórter da Folha nos anos 1980 dividiu a Redação com a mulher por alguns anos.

Socióloga formada pela Universidade de São Paulo, Mara foi escolhida para colocar em prática uma ideia de Octavio Frias de Oliveira (1912-2007), então publisher da Folha –criar um instituto de pesquisa no jornal.

Segundo Kotscho, Mara tinha orgulho do seu trabalho no Datafolha e acompanhou as realizações do instituto ao longo da vida.

Como conta Frederico Vasconcelos em reportagem de 2008, "o futuro instituto era só uma mesa, no meio da Redação, onde a socióloga Mara Kotscho, com sua máquina de calcular, orientava os entrevistadores, estudantes da PUC (Pontifícia Universidade Católica)".

"Mara teve uma contribuição muito importante. A credibilidade do Datafolha, que é a característica que melhor define o instituto, vem desse início", afirma a diretora do Datafolha, Luciana Chong.

Sob o comando de Mara, o Datafolha se dedicou no princípio a pesquisas de comportamento, sobretudo com o intuito de revelar qual era o perfil do leitor da Folha. A socióloga aplicou a metodologia desenvolvida por Reginaldo Prandi, professor da USP.

Em 1985, ela deixou o instituto, mas seguiu trabalhando em pesquisas com uma consultoria própria, inclusive prestando serviços ao Datafolha.

"Ela era uma grande pesquisadora do comportamento humano, do comportamento do consumidor. Tinha uma sensibilidade apurada para análise das pesquisas qualitativas", afirma Mauro Paulino, que foi diretor do Datafolha.

"Mara se ocupou da implementação do Datafolha segundo as diretrizes de Octavio Frias de Oliveira, de adaptar o método científico utilizado na universidade como um instrumento de apuração jornalística. Era preciso ter agilidade, precisão e rigor científico", completa Paulino.

Antonio Manuel Teixeira Mendes, primeiro diretor do Datafolha e ex-superintendente do Grupo Folha, diz que Mara tem o mérito das primeiras pesquisas do instituto, que "se tornou uma marca sinônimo de pesquisa, democratizou a informação de pesquisa de opinião e criou um padrão de qualidade".

Mara tinha 15 anos quando conheceu Kotscho, então com 20 anos, durante um período de férias em Caraguatatuba. "Ela sempre me acompanhou em tudo, e as meninas também", diz o jornalista.

Ele lembra que, no período em que foi correspondente do Jornal do Brasil na Europa, a família estava pronta para voltar ao país quando morreu o papa João Paulo 1º, em 1978. "Então fomos com as malas para o Vaticano, eu era o único repórter com a família toda lá", conta.

"Ela que segurou a barra da família, sempre apoiou muito. Era um doce de pessoa. Magra, baixinha, aparentemente frágil fisicamente, mas de uma força monstruosa, carinhosa e muito amiga. Nunca negou o ombro dela para ninguém", diz o jornalista Marcelo Auler, que trabalhou com Kotscho na Folha de 1980 a 1985.

Albino Castro, repórter que dividiu coberturas com Kotscho na Europa, afirma que Mara era uma mulher de fibra. "Estava sempre com as duas filhinhas a tiracolo", escreveu em mensagem a colegas.

"Eu e minha irmã sempre falamos brincando que temos uma pequena grande mãe. Porque ela tem 1,57 m, mas tem aquele coração enorme. […] A amiga que sempre deu ouvidos, atenção, dedicada. Aquela que sempre se lembras dos aniversários e manda mensagens carinhosas", escreveu Mariana Kotscho em um texto de homenagem à mãe, publicado no UOL em novembro passado.

Jornalistas e familiares lembram ainda da boa relação de Mara e Kotscho com o presidente Lula (PT) e sua então esposa, Marisa Letícia. Amigas, as famílias já se reuniram no sítio dos Kotscho em Porangaba (SP), para onde serão levadas as cinzas de Mara.

Foram Mara e Kotscho que abrigaram por alguns meses em sua casa a filha de Lula, Lurian, quando em 1989 a mãe dela, Miriam Cordeiro, apareceu na campanha de Fernando Collor fazendo acusações ao petista. "Mara era a mãe que todo mundo queria ter", escreveu Lurian em suas redes sociais.

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