Bolsonaro diz à PF que postou vídeo golpista de forma acidental sem ver a íntegra; leia depoimento

Ex-presidente foi ouvido em investigação de ataques golpistas e afirmou que postagem ocorreu por 'clicar duas vezes' em compartilhar

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Brasília

Jair Bolsonaro (PL) afirmou à Polícia Federal que compartilhou publicação que questionava o resultado das eleições de forma acidental após "clicar duas vezes na opção compartilhar" no Facebook. O ex-presidente disse ainda que não havia assistido ao vídeo postado "em sua integralidade".

Interrogado nesta quarta-feira (26) no inquérito do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a autoria intelectual dos ataques golpistas de 8 de janeiro, Bolsonaro afirmou que "tem o costume de encaminhar todas as postagens que lhe interessam para o seu WhatsApp para posterior visualização".

O ex-presidente Jair Bolsonaro ao deixar a sede da Polícia Federal, em Brasília, onde prestou depoimento - Pedro Ladeira-26.abr.23/Folhapress

"Que, para encaminhar para o WhatsApp, precisa acionar a opção compartilhar; que, ao acionar a opção compartilhar, é aberto um menu de opções de ícones de diferentes aplicativos (Instagram, WhatsApp, E-mail, SMS e Facebook); que, todavia, ao clicar duas vezes na opção compartilhar, o vídeo passa a constar nas postagens da sua própria página no Facebook", afirmou, segundo trecho do depoimento.

Conforme antecipado por sua defesa nesta quarta, Bolsonaro disse à PF ter publicado por engano, quando estava sob efeito de medicamentos, vídeo questionando a lisura das urnas eletrônicas dois dias após os ataques às sedes dos três Poderes. A postagem foi apagada por ele logo em seguida.

Bolsonaro afirmou que o Facebook é a rede social que menos utiliza e que no dia 8 de janeiro passou mal com obstrução intestinal, o que o levou ao hospital. Ficou internado até o dia 10 e, durante a internação, disse ele, foi medicado com morfina, conforme documentação médica que a defesa anexou aos autos do inquérito.

O ex-presidente afirmou que, ao retornar para o local onde estava internado, "visualizou o vídeo postado na página do Facebook de uma pessoa desconhecida, que se interessou em assisti-lo com mais cuidado posteriormente", quando acidentalmente, segundo alegou à PF, publicou o conteúdo.

Questionado a respeito de sua opinião sobre o processo eleitoral, Bolsonaro disse que, "ao postar o vídeo, não havia o assistido em sua integralidade e, em momento algum, emitiu juízo de valor sobre ele".

"Em relação ao conteúdo do vídeo, considera a eleição de 2022 uma página virada em sua vida", afirma trecho do depoimento.

Bolsonaro permaneceu na sede da PF em Brasília das 8h45 às 11h20. Estava acompanhado dos advogados Bueno e Daniel Tesser, além de Fabio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.

Ao longo de seu mandato (2019-2022), Bolsonaro acumulou declarações de cunho golpista e, ao perder as eleições, resistiu a reconhecer o resultado e incentivou apoiadores a permanecer em acampamentos que pediam às Forças Armadas um golpe que impedisse a posse do atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Veja abaixo a íntegra do depoimento de Bolsonaro:

Cientificado que, caso tenha envolvimento com os fatos criminosos investigados, tem o direito de permanecer em silêncio, de não produzir provas contra si mesmo e de ser assistido por um advogado. Inquirido a respeito dos fatos investigados, RESPONDEU:

QUE, inicialmente, os advogados apresentam o declarante para prestar esclarecimentos a respeito da postagem em vídeo na rede social FACEBOOK no dia 10/01/2023, como foi requerido pelo Ministério Público Federal;

QUE fica à disposição para prestar novos esclarecimentos sobre outros fatos de interesse da investigação em outra oportunidade;

QUE, no dia 08/01/2023, fez uma postagem na rede social TWITTER repudiando os atos de vandalismo ocorridos no mesmo dia; QUE a rede social TWITTER é a que utiliza com maior frequência;

QUE o FACEBOOK é a rede social que o declarante menos utiliza;

QUE, no dia 08/01/2023, passou mal com obstrução intestinal;

QUE acionou o médico na madrugada do dia 09/01/2023 e permaneceu internado do dia 09/01/2023 até a tarde do dia 10/01/2023;

QUE, enquanto esteve internado, foi medicado com morfina, conforme documentação médica apresentada;

QUE, no dia 10/01/2023, tão logo saiu do hospital, já em sua residência, visualizou o vídeo postado na página do FACEBOOK de uma pessoa desconhecida, que se interessou em assisti-lo com mais cuidado posteriormente;

QUE tem o costume de encaminhar todas as postagens que lhe interessam para o seu WHATSAPP particular para posterior visualização;

QUE, para encaminhar para o WHATSAPP, precisa acionar a opção compartilhar;

QUE, ao acionar a opção compartilhar, é aberto um menu de opções de ícones de diferentes aplicativos (Instagram, Whatsapp, E-mail, SMS e FACEBOOK);

QUE, todavia, ao clicar duas vezes na opção compartilhar, o vídeo passa a constar nas postagens da sua própria página no FACEBOOK;

QUE o declarante apresentará vídeo ilustrativo do procedimento de compartilhamento;

QUE este vídeo foi postado sem seu real interesse em publicá-lo;

QUE o declarante não tem o hábito de repostar vídeos de pessoas desconhecidas;

QUE foi alertado que houve uma postagem em seu FACEBOOK;

QUE, ao perceber o erro, providenciou a retirada da postagem;

QUE não sabe se essa postagem foi repostada por outras pessoas e que não leu ou acompanhou qualquer comentário;

QUE, em relação ao conteúdo do vídeo, considera a Eleição de 2022 uma página virada em sua vida;

QUE, indagado a respeito de sua opinião sobre o processo eleitoral, afirma que, ao postar o vídeo, não havia o assistido em sua integralidade e, em momento algum, emitiu juízo de valor sobre ele;

QUE não conhece a pessoa que fez o discurso no vídeo postado;

QUE se fosse a intenção de divulgar o vídeo para os seus seguidores, o faria em todas as suas redes sociais e não apenas na sua rede social de menor repercussão;

QUE, em relação a demais fatos que tratem da questão eleitoral, poderá prestar esclarecimentos posteriormente;

QUE, por fim, o declarante reitera que repudia e condena todo e qualquer ato que vise a abalar a ordem democrática e que durante os seus quatro anos de governo sempre atuou dentro das "quatro linhas" da Constituição Federal.

Nada mais havendo, este Termo de Declarações foi lido e, achado conforme, assinado pelos presentes.

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