Em 5 pontos, entenda a CPI do MST na Câmara

Comissão foi instalada sob o comando de representantes do agronegócio e da oposição a Lula

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São Paulo e Brasília

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), instalou na semana passada a CPI que busca investigar a atuação do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

A iniciativa ocorre em meio às ações do movimento neste ano e à crescente pressão da bancada ruralista pela instalação da comissão. Parlamentares presentes no plenário da Câmara aplaudiram após a leitura de Lira.

Essa CPI tende a ser mais uma dor de cabeça para o governo Lula (PT), por atingir um aliado estratégico e também por obrigá-lo a mobilizar parte de uma base ainda reduzida e não formada no Congresso.

A seguir, perguntas e respostas sobre a CPI.

Novo acampamento do MST é erguido em área nos arredores de fazenda da Embrapa em Petrolina (PE)
Novo acampamento do MST é erguido em área nos arredores de fazenda da Embrapa em Petrolina (PE) - Adriano Alves-22.abr.23/Folhapres

1) De quem partiu a ideia da CPI, como ela será composta e qual seu objetivo? A CPI partiu de um requerimento do deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), com apoio de membros da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), mais conhecida como bancada ruralista.

A CPI possui 27 membros titulares e 27 suplentes. O primeiro passo para a criação da comissão foi a leitura do requerimento, ocorrida no dia 26 de abril. A instalação, porém, deu-se apenas na primeira sessão da comissão, em 17 de maio.

Ricardo Salles (PL-SP), ex-ministro do Meio Ambiente do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), é o relator da CPI, enquanto a presidência ficou com o deputado Zucco, e a vice-presidência, com Kim Kataguiri (União Brasil-SP).

O objetivo da CPI é investigar as invasões de terra pelo MST, como seus objetivos e fonte de financiamento. Na prática, um dos objetivos é apontar o vínculo do movimento com o governo Lula, já que a frente que se mobiliza para a comissão é formada por apoiadores de Bolsonaro.

2) O que motivou a corrida por assinaturas e a criação da CPI? O MST iniciou em abril o que chamam Jornada Nacional de Luta pela Terra e pela Reforma Agrária com a invasão de fazendas, incluindo uma área que pertence à Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), além de sedes do Incra.

As ações provocaram reações não apenas do agronegócio, mas do próprio governo Lula.

As invasões de abril marcam o aniversário do massacre de Eldorado do Carajás, quando, em 16 de abril de 1996, 19 trabalhadores sem-terra foram mortos por tropas da Polícia Militar do Pará. O massacre é um símbolo nacional e internacional de impunidade, e as ações dos sem-terra desde então passaram a ser chamadas de abril vermelho.

3) Quais são as preocupações do governo com a CPI? São basicamente quatro as preocupações:

  • O governo não terá o controle da comissão. Nomes da oposição e do agronegócio foram escalados como presidente e relator da CPI;
  • Quer evitar que deputados concentrem forças e atenções nessa e em outras CPI e deixem em segundo plano votações consideradas importantes pelo governo, como as novas regras fiscais e a reforma tributária, além de medidas provisórias na fila para votação antes que percam a validade;
  • Tentar, ao mesmo tempo, proteger um aliado histórico e evitar que depoimentos e documentos da comissão sejam usados pela oposição contra o governo;
  • Evitar que o desgaste com o funcionamento dessa e de outras CPIs atrapalhe os planos do governo para consolidar uma base aliada sólida tanto na Câmara como no Senado, algo que ainda parece distante.

4) O que diz o MST sobre a CPI? João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST, afirma que a CPI não tem um objeto definido e é "mais um palco para destilar ódio contra nossa luta".

Em entrevista à Folha ele disse que a direita vai usar o Parlamento federal e as Assembleias Legislativas do país inteiro para enfrentar o MST.

"Junto com isso, há os meios de comunicação deles, as fake news e as milícias armadas dos clubes de tiro e dos CACs [Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores]. É uma mistura demoníaca."

"Essa CPI é preventiva sobre o futuro. Não é sobre o passado porque não há fato que a justifique. Nossas ações estão dentro do marco na democracia. Se o Congresso reafirmar essa CPI, será uma perseguição política. Nós vamos judicializar junto ao Supremo Tribunal Federal porque ela é inconstitucional."

5) Qual é a relação entre Lula e o MST? O presidente e o MST têm uma relação histórica, em geral, de aliança, mas também recheada de atritos. No meio de seu segundo mandato (2007-2010), por exemplo, Lula foi chamado por eles de "traidor". A relação depois ganhou peso com o apoio dos sem-terra a Lula na Lava Jato e nas eleições de 2022.

O movimento foi criado em 20 de janeiro de 1984 e, um ano depois, no primeiro congresso dos sem-terra, elegeu a sua primeira direção nacional. Esse primeiro comando dos sem-terra se formou com 18 homens e 2 mulheres. Eles e elas representavam os dez estados nos quais o movimento estava organizado (RS, SC, PR, MS, SP, RJ, MG, ES, BA e RO).

O presidente Lula na campanha eleitoral de 2022
O presidente Lula na campanha eleitoral de 2022 - Ricardo Chicarelli-19.mar.22/AFP

O presidente carrega um histórico de promessas de que faria a reforma agrária na marra e na "canetada". Nunca fez. Em seus dois mandatos anteriores fez um programa simplista de desapropriar terras a esmo, criando assentamentos sem infraestrutura e longe das bases acampadas do MST.

Lula, por exemplo, nunca cumpriu a promessa de atualizar os índices agropecuários usados para medir a produtividade de fazendas passíveis de desapropriação para a reforma agrária.

Além disso, Lula tem uma dívida política com os sem-terra. Foram eles que ajudaram a liderar as mobilizações a favor do presidente no auge da Lava Jato e no período em que ele ficou preso na Polícia Federal de Curitiba. O MST também mobilizou suas bases para a campanha eleitoral do ano passado.

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