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Lira reage, atrai partidos da direita e da base do governo e forma maior bloco na Câmara

Grupo que inclui PP, União Brasil, PSB e PDT reúne 173 das 513 cadeiras; esquerda terá líderes e fala em governabilidade para Lula

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Brasília

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), conseguiu atrair partidos de centro, de direita e da base do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para formar um bloco com 173 deputados —tornando-se a maior força da Casa.

O grupo é formado por PP, União Brasil, PSDB-Cidadania, Solidariedade, Patriota e Avante, além das legendas de esquerda PDT e PSB.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) - Pedro Ladeira - 31.jan.23/Folhapress

A criação do bloco foi selada em reunião na manhã desta quarta-feira (12), segundo líderes afirmaram à Folha. A iniciativa é uma reação do presidente da Casa à criação de um bloco que rachou o centrão e uniu Republicanos, MDB, PSD, Podemos e PSC, com 142 parlamentares, ameaçando o poder interno de Lira.

Em rede social, o presidente da Câmara afirmou que o novo bloco "é a demonstração de compromisso e responsabilidade" com o Brasil.

"Vamos somar, não confrontar. Atuar juntos na construção de políticas em prol da sociedade. Respeitando as opiniões e a diversidade. Esse é o melhor caminho para apreciação dos projetos importantes para o país", disse.

O bloco construído por Lira terá 173 deputados, resultado da soma de cada bancada. Líderes partidários contam ainda com a incorporação de outros dois parlamentares ao bloco.

O pano de fundo dessa movimentação envolve a disputa de poder dentro do Congresso, a força que cada agrupamento terá na relação com o governo federal e a própria sucessão do presidente da Câmara —que ocorrerá em fevereiro de 2025.

No começo do ano, líderes da União Brasil e do PP tentaram costurar uma federação dos dois partidos, mas as articulações fracassaram.

O PT, do presidente Lula, e o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, não participarão dos blocos. O governo Lula trabalha atualmente alinhado a Lira e tenta montar uma base de apoio sólida, por isso tem buscado não interferir na disputa interna na Câmara com o receio de atrair desafetos em um dos lados.

Segundo líderes ouvidos pela Folha, é estratégico para o governo ter partidos da base, como PSB e PDT, próximos de legendas que se consideram independentes. Um dirigente afirma que o Planalto precisará desses partidos para ter governabilidade e que é preciso fazer essa aproximação.

Membros do governo afirmam que estão acompanhando com atenção esses movimentos, mas dizem que não enxergam na formação dos blocos, ao menos no momento, a possibilidade de alterar o quadro da base que o Executivo tenta costurar na Câmara.

Na tarde desta quarta, a criação do novo bloco foi anunciado por representantes dos partidos.

Num aceno ao Palácio do Planalto, inicialmente o bloco será liderado por deputados do PSB e PDT, ambos partidos da base de Lula.

O primeiro líder será Felipe Carreras (PSB-PE), seguido de André Figueiredo (PDT-CE).

"Esses partidos têm uma convergência com a pauta democrática e queremos, claro, fazer uma frente ampla que garanta a governabilidade para o governo federal e que tenhamos, aqui dentro do Parlamento, esse tempo de consenso em pautas que sejam importantes para o Brasil", afirmou Figueiredo.

Carreras também reforçou a questão da governabilidade afirmando que é um bloco que vai "procurar ajudar o presidente Lula a pavimentar governabilidade e ter uma base sólida aqui na Câmara".

O deputado Elmar Nascimento (BA), líder da União Brasil, afirmou ainda que o bloco simboliza que não há interesse de criar celeumas com o governo federal.

"Para significar que não há qualquer tipo de interesse de criar, sobretudo com o governo, qualquer tipo de celeuma, nós deputados, que estão aqui representados, compõem um bloco único na Casa que terá nesse colegiado de líderes um foro de discussão e decisões sempre pensando nos superiores interesses da população brasileira", disse.

No anúncio da aliança, foi divulgado um manifesto que reconhece as diferenças ideológicas dos partidos, mas defende união em torno de pautas como a reforma tributária e o arcabouço fiscal.

"É preciso encontrar convergência nos diferentes e viabilizar o diálogo para que a Câmara funcione efetivamente como a força motriz de um sistema de engrenagens que possibilite o desenvolvimento do Brasil em todos os seus aspectos. Sem isso, projetos fundamentais para este momento correm o risco de serem bombardeados no Parlamento. Isso vai desde a tão esperada reforma tributária à garantia de verbas para a execução de políticas públicas. Do novo Marco Fiscal ao Bolsa Família", diz o texto.

"Ainda que nossa história passe por divergências ideológicas, estamos nos reunindo para selar um pacto pelo desenvolvimento pleno do Brasil nos âmbitos econômico e social, defendendo as pautas de maior interesse dos brasileiros."

Além do simbolismo político de reunir o maior contingente de cadeiras, a união dos partidos em blocos dá aos maiores grupos um poder de mando na composição das comissões mistas (entre Câmara e Senado) que devem ser retomadas para a análise das medidas provisórias, na Comissão de Orçamento e no dia a dia das votações em plenário.

O tamanho dos blocos partidários também interfere em diversos aspectos do funcionamento do Legislativo: da atuação em plenário e das possibilidades de fala dos congressistas à distribuição de relatorias de projetos importantes.

A sucessão de Lira também está em jogo, embora muita coisa possa mudar até fevereiro de 2025, quando está marcada a próxima eleição para o comando da Casa (Lira não pode disputar a reeleição).

Elmar Nascimento é considerado por vários parlamentares como o candidato de Lira à sua sucessão.

Mas a recente articulação de Republicanos, MDB, PSD, Podemos e PSC colocou em evidência outros possíveis candidatos, como o vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (Republicanos-SP), e o líder do MDB, Isnaldo Bulhões Jr. (AL).

Veja o tamanho da base de Lula nos infográficos abaixo:

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