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Vídeo em que Alckmin e Moraes são hostilizados é de 2016 e foi gravado na USP

São enganosos posts que sugerem ser atuais e em Brasília protesto contra o vice-presidente e o ministro do STF

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São Paulo

É enganoso um vídeo que mostra o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes sendo cercados e vaiados por uma multidão, supostamente em um restaurante de Brasília. Uma das publicações cita: "É pra divulgar. Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes juntos em restaurante, são quase linchados em Brasília. NÃO terão paz!!!".

O vídeo original, cujo trecho viralizou fora de contexto, como verificou o Projeto Comprova, foi gravado em fevereiro de 2016, no centro de São Paulo, pela TVT, durante um ato público realizado por estudantes para denunciar a violência da Polícia Militar. Coincidentemente, enquanto os manifestantes preparavam o ato, em frente à Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo), no Largo São Francisco, o então governador paulista, Geraldo Alckmin, e o, à época, secretário da Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, participavam, no mesmo local, da solenidade de posse de Dimas Ramalho como presidente do TCE-SP (Tribunal de Contas de São Paulo).

A confusão começou quando os manifestantes tentaram dialogar com Geraldo Alckmin, que os ignorou.

Alexandre de Moraes está de costas, no canto esquerdo da foto, olhando para a direita, e Alckmin está a sua frente, olhando na mesma direção. Os dois são brancos e vestem camisa clara e paletó escuro. Estão em ambiente fechado com bandeira do Brasil e parede de madeira ao fundo
Alexandre de Moraes e Geraldo Alckmin, quando eram secretário de Segurança Pública e governador de São Paulo, respectivamente; hoje, eles são ministro do STF e vice-presidente do Brasil - Zanone Fraissat - 9.mai.2016/Folhapress

Conforme noticiado pela Folha e pelo UOL, na ocasião, Alckmin e Moraes saíram escoltados do local. No caminho até o carro, os estudantes gritavam "assassino" e "governador, cadê a merenda?", em referência, respectivamente, às mortes causadas pela PM de São Paulo e às investigações de desvios na merenda escolar que envolviam integrantes da administração e políticos do PSDB.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance

O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 10 de abril, a publicação no Twitter teve 38,7 mil visualizações, 1,9 mil curtidas e 589 compartilhamentos. No TikTok, o post alcançou 6,3 mil visualizações, 856 curtidas, 77 comentários e 369 compartilhamentos.

Como verificamos

Primeiramente, procuramos no Google pelas palavras-chave "Alckmin", "Moraes" e "hostilizados", o que resultou em verificações de outras agências de fact-checking, como UOL Confere, Lupa, AFP Checamos, Estadão Verifica, Aos Fatos e Reuters.

Ao assistir ao vídeo, percebemos que no canto superior esquerdo havia o logotipo da emissora TVT. Procurando pelo termo "TVT" no Google, chegamos ao canal no YouTube da Rede TVT, que se apresenta como "um veículo de comunicação educativo". Neste canal, usamos o campo de busca para pesquisar por "Alckmin" e "Moraes".

Tendo pistas de que o vídeo investigado era antigo, rolamos a página com os resultados até encontrar uma publicação feita há sete anos, que citava as palavras "Alckmin" e "protesto". O título era este: "Em protesto contra PM, manifestantes se deparam com Alckmin". Ao assistir ao vídeo original, identificamos trecho com as cenas usadas na peça de desinformação, que começa a partir dos 38 segundos.

Por fim, o Comprova buscou os responsáveis pelas publicações enganosas nas redes sociais.

O que diz o responsável pela publicação

Os posts virais foram publicados pelos perfis @9876mel no Twitter e @jral2010 no TikTok. A conta responsável pela publicação na primeira plataforma não contém informações de contato, e a busca pelo perfil em outras redes sociais não retornou resultados. No entanto, no dia 4 de abril, a usuária afirmou em uma publicação que sabe que o vídeo é antigo, mas que a "intenção é mostrar que ambos [Alckmin e Moraes] estão juntos há muito tempo, supostamente sempre tramando alguma coisa e nunca foram bem quistos pela população".

Como o TikTok não permite o contato entre contas que não se seguem mutuamente, o Comprova encontrou um perfil correspondente do usuário no Instagram e encaminhou uma mensagem. Não houve retorno até a publicação desta checagem.

O que podemos aprender com esta verificação

É comum que vídeos antigos viralizados há mais tempo sejam explorados por disseminadores de desinformação. Eles são utilizados fora de contexto, em geral, na tentativa de sugerir, de forma enganosa, que um determinado episódio ocorreu recentemente. Outra tática empregada é a utilização de vídeos com baixa qualidade de imagem, que dificultam a identificação das pessoas e do local mostrado no conteúdo.

No caso de conteúdos com essas características, uma pesquisa no Google pode ajudar a identificar a data e o contexto original do vídeo, e a descobrir se a informação é atual ou se está desatualizada.

Por que investigamos

O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984. Sugestões e dúvidas relacionadas a conteúdos duvidosos também podem ser enviadas para a Folha pelo WhatsApp 11 99486-0293.

Outras checagens sobre o tema

O mesmo conteúdo também foi verificado por UOL Confere, Lupa, AFP Checamos, Estadão Verifica, Aos Fatos e Reuters.

O Comprova já checou peças de desinformação que utilizam vídeos antigos para sugerir de forma enganosa que um determinado episódio ocorreu recentemente. É o caso das verificações que mostram que homens dançando ao som de "Infiel" não são ministros de Lula e que a Marinha não penalizou o presidente por autorizar navios do Irã no Brasil.

A investigação desse conteúdo foi feita por Plural Curitiba, Grupo Sinos e imirante.com e publicada em 11 de abril pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 41 veículos na checagem de conteúdos virais. Foi verificada por Folha, Estadão, O Popular e NSC.

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