Ministro de Lula rebate colega e diz que não há comparação entre 8/1 e ações do MST

Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário, também critica CPI sobre sem-terra e cita lançamento de 'plano emergencial' de reforma agrária

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São Paulo

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, participou de evento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) neste sábado (29) e rebateu as falas do colega Carlos Fávaro, ministro da Agricultura, que comparou as invasões do movimento em abril aos ataques golpistas de 8 de janeiro.

"Não vejo nenhuma relação das ocupações do MST com 8 de janeiro; 8 de janeiro foi um ataque à democracia, uma destruição do patrimônio público, não há correlação entre ambas", disse.

Teixeira ponderou, no entanto, que seu relacionamento com Fávaro é bom e que o ministro já deu sinais de "boa relação" com o MST ao comparecer a um assentamento no Paraná.

O advogado Marco Aurélio de Carvalho (de camisa vermelha) com o ministro Paulo Teixeira, em evento em São Paulo - Marlene Bergamo/Folhapress

Na quinta-feira (27), Fávaro teceu duras críticas à invasão de terras produtivas e disse: "Eu comparo, e já disse isso com muita tranquilidade, ao ato repugnante da invasão do Congresso Nacional".

Paulo Teixeira também afirmou neste sábado que todas as diretorias do Incra serão mudadas, incluindo as de Alagoas e do Amapá, onde se encontram aliados do deputado Arthur Lira (PP) e do senador David Alcolumbre (União Brasil), respectivamente.

Ele criticou a CPI do MST, que será instalada na Câmara, por "falta de um fato determinado". "O setor público não pode perseguir uma instituição por divergências. Se tiver que investigar conflitos no campo é preciso fazer isso a partir do relatório da Comissão Pastoral da Terra, que mostra atos de grilagens, pistoleiros atuando na região do sul do Pará, no Matopiba e no sul do Amazonas", afirmou.

O ministro ainda disse, sem detalhar, que o presidente Lula deve anunciar o lançamento de "um plano emergencial de reforma agrária".

"O nosso problema é o seguinte: estamos há seis anos e nenhum centímetro de terra foi entregue para fins de reforma agrária, por isso tem um represamento. Daí a razão dessas reivindicações dos movimentos."

Segundo Teixeira, o Plano Nacional de Reforma Agrária está praticamente pronto e será divulgado no meio de maio.

Dirigentes do MST e políticos aliados do governo se reuniram neste sábado na capital paulista em evento para anunciar o retorno da Feira Nacional da Reforma Agrária, interrompida durante a pandemia. A feira será realizada no Parque da Água Branca, em São Paulo, de 11 a 14 de maio, e deve reunir 1.200 feirantes e comercializar 500 toneladas de alimentos.

Outro ministro de Lula, Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, também compareceu. Em breve fala a jornalistas, disse que, a partir de análise do requerimento da comissão parlamentar, "não existe fato determinado a ser investigado que justifique a criação da CPI".

Já o líder do MST João Pedro Stedile afirmou que a CPI é uma iniciativa do "agronegócio bolsonarista" para "desfocar o debate e esconder seus crimes". "Tinha que ter CPI no Brasil para investigar quem desmata, quem invade terra indígena, quem invade área de quilombola, quem usa agrotóxico."

"Eles querem enquadrar o governo. É muito mais uma luta política. É como dizer ao governo: não avance com a reforma agrária, não ajude o MST", afirmou.

Outros líderes do movimento reverberaram o argumento de que a criação da CPI é meramente política e que tem o intuito de desgastar o início do governo petista. "É a quinta CPI que vamos enfrentar na história. A quinta vez desse abuso de poder parlamentar, mas estamos tranquilos por entender o contexto político em que [a CPI] está inserida", afirmou Ceres Hadich, integrante da direção nacional do MST. "É um movimento da extrema direita para nos desmoralizar."

Stedile, que viajou na comitiva de Lula à China, também comentou a possibilidade de o governo federal cortar a verba do Banco do Brasil à Agrishow, feira de agronegócio que começa em 1º de maio.

O impasse entre o governo e a feira começou depois que o presidente da Agrishow sugeriu a Carlos Fávaro que comparecesse no segundo dia do evento, já que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estaria no dia da abertura.

"Ofenderam o ministro. Estupidez. Cá entre nós, o que Bolsonaro tem a ver com agricultura? Nunca viu um pé de melancia. Não sabe diferenciar melancia de abóbora", disse Stedile.

MST inaugura a Cozinha Escola Pra Brilhar Dona Ilda Martins, em São Paulo, neste sábado (29) - Marlene Bergamo/Folhapress
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