União Brasil aposta em prefeituras e espólio do PSDB após ficar fragilizada em SP

Depois de derrota tucana, partido teve redução de bancada e perdeu controle de verbas no governo

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São Paulo

Maior parceira dos tucanos em São Paulo, a União Brasil sofreu um baque com o colapso do PSDB, ao perder deputados e espaço no governo paulista.

Até o ano passado, o partido ocupava posto cobiçado na mesa diretora da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) e era responsável por comandar orçamento bilionário no Executivo.

Com a derrota de Rodrigo Garcia (PSDB) no primeiro turno da eleição ao governo, cujo vice era Geninho Zuliani (União Brasil), o partido apoiou Tarcísio de Freitas (Republicanos), mas ficou de fora dos cargos de primeiro escalão.

Além disso, teve redução significativa nas bancadas da Alesp e dos deputados paulistas na Câmara.

Agora, a aposta da legenda é usar o atrativo de verba e tempo de TV para tentar atrair prefeitos do interior e ocupar espaços, inclusive os que hoje são do PSDB.

Convenção para a fusão dos partidos PSL e DEM, formando a União Brasil
Convenção para a fusão dos partidos PSL e DEM, formando a União Brasil - Pedro Ladeira - 6.out.21/Folhapress

A crise na União Brasil não se restringe a São Paulo: um racha levou a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, e ao menos outros cinco deputados do Rio de Janeiro a pedir ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) suas desfiliações sem perda dos mandatos.

Na Alesp, na comparação com o ano passado, a bancada do partido caiu de 11 para 7 deputados. Agora, em vez de ocupar a segunda secretaria da Casa, o partido ficou com a segunda vice-presidência.

A bancada paulista da União Brasil na Câmara dos Deputados, hoje, conta com seis membros, dois a menos que no ano passado.

Durante a gestão tucana de João Doria e depois de Rodrigo Garcia, a sigla ainda comandava uma das principais engrenagens da máquina estadual, a cobiçada pasta de Transporte e Logística, dona de um orçamento de R$ 11,5 bilhões no ano passado.

A estrutura da pasta, agora, está nas mãos de Natália Rezende, uma técnica que trabalhou com Tarcísio no Ministério da Infraestrutura.

Um dos principais dirigentes do partido no estado, o presidente da Câmara de São Paulo, Milton Leite, minimiza o impacto da derrota tucana sobre a União Brasil. Originariamente do DEM, ele sustenta que a diminuição na bancada aconteceu devido à não reeleição da ala vinda do PSL.

"Se olharmos que era o DEM, nós crescemos", diz à reportagem, em uma sala do diretório municipal do partido na capital, no dia em que a chapa única que encabeça foi eleita para comandar a União na cidade.

Milton Leite, com o governador Tarcísio de Freitas, os filhos Alexandre e Milton Leite Filho e o vice-presidente da União Brasil, Antônio Rueda
Milton Leite (ao centro), com o governador Tarcísio de Freitas, os filhos Alexandre (de preto) e Milton Leite Filho (à dir.) e o vice-presidente da União Brasil, Antônio Rueda - alexandreleite.sp no Instagram

A sede municipal fica na zona sul da capital paulista, região onde a dinastia de Leite, formada também pelos seus filhos, os deputados Milton Leite Filho (estadual) e Alexandre Leite (federal), é quase onipresente.

Ali, a reportagem encontrou movimentos sociais, sindicalistas e membros de escola de samba, entre outros grupos da base do clã.

Entre os planos da União, diz o vereador que se elegeu presidente da Câmara pela terceira vez, está manter a aliança com o grupo de Ricardo Nunes (MDB) no poder na capital paulista e expandir a legenda no interior. Inclusive, às custas de uma previsível redução do espaço do PSDB, agora alijado da máquina estadual.

Em dezembro, o PSDB tinha 238 prefeitos e, logo atrás, vinha a União, com 78.


Raio-X da União Brasil

Deputados federais: 59 (6 de SP), a terceira maior bancada

Senadores: 9 (nenhum de SP), quarta maior bancada

Deputados estaduais na Alesp: 7, quinta maior bancada

Presidente nacional: Luciano Bivar

Fundação: 6 de outubro de 2021


Diferentemente dos tucanos, a União Brasil tem grande bancada na Câmara, atrás apenas de PL e PT, e possui o atrativo de verba e tempo de TV que pode seduzir novos aliados.

"Pelo quadro, é possível que o PSDB perca prefeituras. Não estou aqui praguejando nem demonizando nem desejando mal ao PSDB, mas a gente vê hoje a situação deles um pouco mais frágil que outrora", diz Leite.

A disputa pelo espólio tucano será acirrada com partidos mais alinhados a Tarcísio, como o PSD de Gilberto Kassab, o PL e o Republicanos.

Na capital paulista, a briga também será dura. Leite é o fiador da ideia de que Ricardo Nunes embarque no plano da tarifa zero no sistema de transportes, uma cartada que, nos cálculos dele, poderia render a reeleição do prefeito no primeiro turno, contra um adversário competitivo como Guilherme Boulos (PSOL) e sob o risco de ter de concorrer com algum bolsonarista.

O filho de Leite, Alexandre Leite, é um dos cotados para a vice de Nunes, embora o líder da União Brasil afirme que o partido tem diversos nomes e que o partido deixará o atual prefeito à vontade para decidir.

Na esfera estadual, Leite diz que não tem o que reclamar de Tarcísio e, sem dar detalhes, que o partido está contemplado pelo governador. Nos bastidores, porém, há cobranças.

Para o vereador paulistano Adilson Amadeu (União Brasil), o partido mereceria mais espaço, até pelos resultados na pasta de Transporte e Logística. "Se o governo do estado não quiser aproveitar a União Brasil, quem perde é o governador", diz.

Amadeu compara a situação da União, após a derrota na disputa ao governo, com a de um paciente em recuperação. "Foi abalado, tiraram apêndice, está em recuperação. Não era uma cirurgia grave", afirma.

O partido se formou da junção do DEM com o PSL em 2021. Esta última sigla surfou na onda do bolsonarismo em 2018, mas não conseguiu manter o fôlego longe de Jair Bolsonaro (PL) e não reelegeu vários dos seus nomes.

"A União Brasil nasceu dizendo que era muito grande, mas quando foi para o jogo real percebeu que seu tamanho não era aquele", diz o cientista político Bruno Silva, pesquisador do Laboratório de Política e Governo da Unesp Araraquara.

No estado de São Paulo, lembra Silva, com a eleição de Tarcísio o principal campo de atração passou a ser os partidos que orbitam o bolsonarismo.

O pesquisador diz que, enfraquecida pela debacle tucana, restaria à União Brasil abraçar o bolsonarismo ou tentar se cacifar no cada vez mais restrito espaço para a direita moderada, que, hoje, comanda o partido.

Se o antipetismo é a regra no estado, a situação é mais complexa no cenário federal, uma vez que o partido chegou a receber três ministérios no governo Lula (PT).

Entre os deputados federais paulistas da sigla não reeleitos, por exemplo, está Junior Bozella, hoje trabalhando com Marcelo Freixo (PSB) na Embratur, da ala egressa do PSL.

Na esfera estadual, ele admite que o partido ficou em situação menos vantajosa que outros aliados de primeira hora de Tarcísio, mas diz acreditar que a composição deve acontecer com os deputados estaduais da sigla, que tem a quinta maior bancada da Alesp.

Na Casa, um dos acenos do governador à União foi a indicação de Guto Zacarias como vice-líder do governo.

Ele faz parte da ala do partido que é composta por integrantes do MBL (Movimento Brasil Livre), com Kim Kataguiri, como deputado federal. Se o grupo de fato conseguir viabilizar a criação de um partido, conforme chegaram anunciar seus integrantes, ambos os deputados podem ser novas baixas da União Brasil no futuro.

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