Blocão de Lira será liderado por partidos de esquerda, que falam em governabilidade para Lula

Líder da União Brasil, Elmar Nascimento, diz que grupo simboliza que não há interesse em criar celeuma com o governo

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Brasília

O recém-criado bloco da Câmara dos Deputados que une o PP, do presidente da Casa, Arthur Lira (AL), e partidos da base aliada do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), será comandado, inicialmente, por deputados do PSB e PDT.

O grupo será formado por PP, União Brasil, PSB, PDT, PSDB-Cidadania, Solidariedade, Patriota e Avante. No total, serão 175 deputados —tornando-se a maior força da Câmara.

No site da Casa, a soma dos partidos resulta em 173 parlamentares, mas líderes partidários contam com a incorporação de outros dois deputados ao bloco.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) - Pedro Ladeira - 31.jan.23/Folhapress

A liderança do bloco será trocada a cada dois meses, num rodízio entre os partidos. O primeiro líder será Felipe Carreras (PSB), seguido de André Figueiredo (PDT), ambos de legendas da base de Lula.

"Esses partidos têm uma convergência com a pauta democrática e queremos, claro, fazer uma frente ampla que garanta a governabilidade para o governo federal e que tenhamos, aqui dentro do Parlamento, esse tempo de consenso em pautas que sejam importantes para o Brasil", afirmou Figueiredo.

Ele disse ainda que essa escolha dos líderes simboliza "que os partidos do campo da esquerda não serão meros acessórios" na atuação do bloco. "Mas, sim, darão a diretriz. Principalmente que nesse primeiro semestre as pautas principais serão votadas."

Carreras também reforçou a questão da governabilidade afirmando que é um bloco que vai "procurar ajudar ao presidente Lula a pavimentar governabilidade e ter uma base sólida aqui na Câmara".

O deputado Elmar Nascimento, líder da União Brasil, afirmou ainda que o bloco simboliza não haver interesse em criar celeumas com o governo federal. Ele disse, no entanto, que isso não significa que a União Brasil passará a integrar a base do governo —apesar de ter indicado três ministros no governo, o partido se diz independente.

"Para significar que não há qualquer tipo de interesse de criar, sobretudo com o governo, qualquer tipo de celeuma, nós deputados que estão aqui representados pelos seus líderes, compõem um bloco único aqui na Casa que terá nesse colegiado de líderes um foro de discussão e decisões sempre pensando nos superiores interesses da população brasileira", disse.

Questionado sobre as declarações de Carreras e Figueiredo sobre a garantia de governabilidade de Lula e se isso não indicaria uma mudança da posição da União Brasil, Elmar aproveitou para provocar o PT.

"Nesses temas que estão pautados e que para mim são os mais importantes para o Brasil, talvez esse bloco seja mais firme com as propostas do governo, na área econômica, propostas do ministro [Fernado] Haddad, do que o próprio partido do governo".

A proposta de regra fiscal apresentada por Haddad em substituição ao teto de gastos tem sido alvo de críticas de membros do próprio PT.

Durante reunião do Diretório Nacional do partido nesta semana, por exemplo, a presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, fez ressalvas à proposta e afirmou que ela ameaça inibir o crescimento econômico.

Outro que criticou o arcabouço foi o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ). Em entrevista à Folha, ele comparou o arcabouço a uma tentativa frustrada de pacto com diabo.

No anúncio da criação do bloco na tarde desta quarta, foi divulgado um manifesto que reconhece as diferenças ideológicas dos partidos, mas defende união em torno de pautas como a reforma tributária e o arcabouço fiscal.

"É preciso encontrar convergência nos diferentes e viabilizar o diálogo para que a Câmara funcione efetivamente como a força motriz de um sistema de engrenagens que possibilite o desenvolvimento do Brasil em todos os seus aspectos. Sem isso, projetos fundamentais para este momento correm o risco de serem bombardeados no Parlamento. Isso vai desde a tão esperada reforma tributária à garantia de verbas para a execução de políticas públicas. Do novo Marco Fiscal ao Bolsa Família", diz o texto.

A criação do bloco foi selada em reunião na manhã desta quarta. A iniciativa é uma reação do presidente da Casa à criação de um bloco que rachou o centrão e uniu Republicanos, MDB, PSD, Podemos e PSC (com 142 parlamentares) e que esvaziou o poder interno de Lira.

O pano de fundo dessa movimentação envolve a disputa de poder dentro do Congresso, a força que cada agrupamento terá na relação com o governo federal e a própria sucessão do presidente da Câmara —que ocorrerá em fevereiro de 2025.

Em rede social, Lira afirmou que o bloco "é a demonstração de compromisso e responsabilidade com o país".

"Vamos somar, não confrontar. Atuar juntos na construção de políticas em prol da sociedade. Respeitando as opiniões e a diversidade. Esse é o melhor caminho para apreciação dos projetos importantes para o país", continuou.

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