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Ombudsman da Folha tem mandato renovado por um ano

José Henrique Mariante diz que cobertura do governo Lula e regulação das redes sociais são desafios para o jornal

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São Paulo

Este é um ano sem eleições para o primeiro escalão da política brasileira. Não faltam, porém, desafios expressivos para a Folha, segundo o ombudsman José Henrique Mariante.

Para ele, o primeiro ano do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a deterioração ambiental no Brasil e no mundo e a regulação das redes sociais estão entre os temas que exigirão cada vez mais atenção e preparo da equipe do jornal.

Mariante acaba de ter seu mandato de ombudsman da Folha renovado por um ano. Assim, seu período no cargo se estenderá até maio de 2024.

O jornalista José Henrique Mariante, ombudsman da Folha - Eduardo Anizelli - 7.mai.2021/Folhapress

Ele é o 14º profissional a ocupar o posto, criado pela Folha em 1989. Entre as funções do ombudsman, estão a produção de uma coluna semanal, publicada aos domingos, e de uma crítica interna de segunda a sexta, distribuída à Redação. Também é responsável por encaminhar aos jornalistas queixas e comentários de leitores.

Para garantir a independência do ocupante da função, ele não pode ser demitido durante esse período.

Na Folha desde 1991, Mariante exerceu diversos cargos, entre eles os de editor de Esporte e secretário-assistente de Redação (em dois períodos diferentes).

Em relação às reportagens sobre o governo Lula, o ombudsman defende que o jornal abra espaço para um grupo mais variado de fontes, oferecendo novos pontos de vista aos leitores.

"As discussões sobre o arcabouço fiscal são um exemplo. Uma pessoa reiteradamente ouvida pela Folha é o Marcos Mendes, um dos pais do teto de gastos [adotado no governo Michel Temer, em 2016], ou seja, parte interessada", afirma.

"O jornal também precisa ouvir especialistas que não estejam ligados ao mercado. Quando há uma abertura assim, surgem ponderações que enriquecem o debate."

Também cabe à Folha, segundo ele, acompanhar todos os lances da discussão a respeito da regulação das redes sociais, "que têm papel importante para eclosão de episódios danosos".

O PL das Fake News deveria ter sido votado pela Câmara dos Deputados no início de maio, mas Arthur Lira (PP-AL), presidente da Casa, decidiu pelo adiamento.

Por fim, entre esses desafios mais urgentes, Mariante aponta as questões ambientais. "O assunto tem conquistado mais espaço no jornal, mas precisa ganhar transversalidade, ou seja, todas as editorias deveriam tratá-lo como prioritário."

Ao avaliar os últimos meses, ele lembra iniciativas da Folha que incomodaram um número significativo de leitores. Editoriais —textos que expressam a opinião do veículo— com críticas mais duras a Lula têm suscitado reações enfáticas.

Leitores se contrariaram, por exemplo, com o tom agressivo do editorial "É a economia, Lula", de 8 de outubro do ano passado.

"Lula pode e deve ser cobrado, por óbvio, mas nunca mais do que Bolsonaro. É o presidente que está em débito com a democracia e promete aumentar o rombo institucional se perder ou se ganhar nas urnas no segundo turno. Normalizar o naufrágio não é opção", escreveu o ombudsman em sua coluna uma semana depois.

Outro momento de reclamações contundentes aconteceu em dezembro, quando o jornal dispensou colunistas de diferentes perfis devido à contenção de despesas. Os leitores, conta Mariante, reclamaram especialmente da saída de Janio de Freitas. "A demissão dele desagradou especialmente àqueles que começaram a ler o jornal nos anos 1970 e 1980."

Por outro lado, a Folha teve bons momentos na cobertura das eleições de 2022. Uma das reportagens destacadas por ele é "Plano de Guedes prevê salário mínimo e aposentadoria sem correção pela inflação passada".

O texto revelou, dias antes do segundo turno, um plano do então ministro da Economia, Paulo Guedes, para reformular o teto de gastos e frear o crescimento de despesas em caso de reeleição de Jair Bolsonaro (PL).

O jornalista liga as eleições a outros dois momentos da vida política recente do país: um anterior ao pleito, as manifestações pró-democracia da sociedade civil, que tiveram seu ápice em agosto do ano passado; e o outro posterior, os atos golpistas de 8 de janeiro deste ano.

"A Folha fez a melhor cobertura dos eventos de agosto. Ajudou a chamar a atenção, especialmente das elites, para os riscos institucionais que o país vivia naquele momento. Mas o jornal deveria ter ido além, deveria ter se colocado como participante ativo do movimento, como fez nas Diretas nos anos 1980."

Ainda é cedo, diz ele, para fazer um balanço do desempenho do jornal na cobertura dos ataques aos três Poderes. Sobre esse tema, lança uma provocação: "Nós como sociedade, não apenas a mídia, estamos discutindo seriamente o que aconteceu para que episódios desse tipo não sejam normalizados?".

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