Padilha minimiza revés e diz que Lula assumirá articulação sempre que precisar

Ministro também afirma que, a pedido de Lula, cobrará fidelidade de bancadas no Congresso

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Brasília

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), minimizou nesta segunda-feira (8) a primeira grande derrota sofrida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Congresso, na semana passada, e afirmou que o que mais interessa ao governo é um conjunto de vitórias em matérias mais importantes.

Na última quarta-feira (3), a Câmara derrubou mudanças promovidas pela atual gestão no Marco do Saneamento, o que evidenciou as dificuldades na articulação política nestes primeiros meses de mandato.

"Temos tido muitas vitórias. Tivemos uma derrota na semana passada. É raríssimo time ser campeão invicto. Em um campeonato você perde, você empata. Para ser campeão, você não pode perder a final", afirmou Padilha.

O ministro Alexandre Padilha durante evento para anunciar retomada de projetos econômicos na área da saúde - Gabriela Biló - 3 abr.23/Folhapress

Ele acrescentou que Lula vai participar da articulação política sempre que necessário. "Toda vez que precisar entrar em campo, ele vai entrar", afirmou.

Padilha disse também que, a pedido do próprio presidente, vai realizar reuniões com as bancadas de partidos que indicaram ministros para cobrar votos.

"E vamos, o presidente Lula pediu, me delegou a tarefa, como coordenador político do governo, de fazer reuniões junto com líderes da Câmara para discutirmos a atuação na Câmara, a atuação que está sendo feita e o cumprimento do calendário de votações até o final do primeiro semestre, até o recesso que deve acontecer na metade do mês de julho", afirmou o ministro.

Ao mesmo tempo, Padilha buscou minimizar as conversas de que Lula entraria ele próprio na articulação política para melhorar o desempenho do governo no Congresso. Afirmou que o mandatário está atuando desde o início de seu mandato, conversando com parlamentares, convidando alguns deles para o acompanharem em viagens pelo Brasil.

O ministro também disse que vai realizar reuniões a partir desta semana, com as bancadas de outros partidos e ministros indicados por elas para cobrar mais fidelidade nas votações. Acrescentou que a primeira deve ser com o PSD e depois com o PSB —sigla do vice-presidente Geraldo Alckmin.

"Ele [Lula] reforçou que essas reuniões têm que ser coordenadas e lideradas pela Secretaria de Relações Institucionais, com a Casa Civil, junto com os ministros de cada área. Devemos fazer a primeira já com os ministros do PSB, PSD. Devemos marcar com ministros do MDB, na volta do líder do MDB da Câmara, com os ministros do União Brasil", afirmou.

Padilha citou o ministro das Cidades, Jader Barbalho Filho (MDB), cuja pasta é uma das autoras do decreto do saneamento.

"Você vê a bancada do MDB, [que] votou contra. Então é o momento inclusive do ministro, com um conjunto dos representantes da bancada, com a coordenação política, compreender quais foram os motivos", afirmou, durante entrevista a jornalistas.

A decisão de cobrar votos das bancadas que indicaram ministros acontece em meio a uma disputa nos bastidores dentro do Palácio do Planalto, entre a Casa Civil, comandada por Rui Costa, e a Secretaria das Relações Institucionais, de Padilha.

O pano de fundo é a disputa pelos recursos que seriam destinados para as emendas. A Casa Civil pretende destiná-los para turbinar o novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), cujos eixos principais já foram anunciados pelo Planalto.

A pasta de Padilha, por sua vez, considera fundamental que os recursos sejam pagos aos parlamentares, no formato de emendas, para garantir a governabilidade e a aprovação de matérias de interesse do governo.

Interlocutores do Planalto afirmam que essa não é uma disputa fratricida entre os dois ministros, que estaria provocando uma divisão no governo. Mas há essas diferentes visões.

Além disso, o governo ainda se debruça para decidir com os chamados restos a pagar, resultando de acordos firmados ainda na gestão Bolsonaro. É preciso decidir se a gestão Lula vai honrá-los, o que significaria não contemplar uma boa parte do Congresso, formada por novos parlamentares.

Padilha vem sendo alvo de críticas devido a problemas na articulação política do governo com o Congresso Nacional. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), chegou a elogiar a sua educação, mas acrescentou que a articulação do governo não está funcionando.

A questão se tornou mais latente com a primeira derrota do governo na semana passada, com a derrubada na Câmara de mudanças feitas pelo governo federal no Marco do Saneamento.

Lula, porém, saiu em defesa do seu ministro nos últimos dias, descartando por enquanto mudanças na articulação política.

"O Padilha é o que o país tem de melhor na articulação política", afirmou em Londres, onde acompanhou a festa para a coroação de Charles 3º.

"Se tiver desavença em política, tudo se acerta. O mais difícil é ir sempre acertando. São 513 deputados e um só coordenador político. Às vezes pode acontecer um certo desacordo, que vamos acertar. Na política tudo tem jeito. A única coisa impossível é Deus pecar. O resto, tudo é possível", disse o presidente.

Nesta segunda, o ministro também se defendeu das críticas que vem recebendo.

"Estou acostumado com as tarefas desse cargo. Não sou marinheiro de primeira viagem. Sei que é um cargo que o tempo todo as pessoas discutem", afirmou o ministro, relembrando que já exerceu a função nos mandatos anteriores de Lula e no governo Dilma Rousseff.

Em relação ao Marco do Saneamento, Padilha disse que o governo vai buscar reverter no Senado a derrota imposta pelos deputados federais.

"Nessa reunião de hoje nós tomamos uma decisão de dialogar no âmbito do Senado, líder Jaques Wagner, juntamente com o ministro das Cidades, ministro da Casa Civil, dialogar junto ao Senado para explicar o mérito do decreto do saneamento, as questões que envolvem esse decreto do saneamento, estabelecendo que não tem nada ali que seja contra o que está estabelecido na lei, fazer esse esclarecimento aos senadores", afirmou, reforçando que o ministro Jader Filho vai participar de audiência na Casa.

O ministro ainda afirmou que Fernando Haddad (Fazenda) deve se encontrar nesta semana com o relator da proposta do novo marco fiscal na Câmara, deputado Cláudio Cajado (PP-BA). A previsão é que o texto do relator seja apresentado nos dias 10 ou 11. O governo espera votar a proposta na próxima semana.

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