Descrição de chapéu Rio de Janeiro Folhajus

MP-RJ identifica repasses de R$ 2 milhões a chefe de gabinete de Carlos Bolsonaro

Investigação sobre 'rachadinha' analisa se filho de ex-presidente se beneficiou nas transações; OUTRO LADO: Gabinete diz estar à disposição das investigações

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Rio de Janeiro

Laudo do Ministério Público do Rio de Janeiro identificou repasses de R$ 2 milhões ao chefe de gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) feitos por funcionários do gabinete do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro na Câmara Municipal.

As transferências foram feitas num intervalo de dez anos (2009 a 2018) e reforçam os indícios da prática de "rachadinha" no gabinete de Carlos em modelo semelhante ao apontado pela Promotoria no antigo gabinete do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na Assembleia Legislativa.

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O vereador Carlos Bolsonaro, em Brasília - Pedro Ladeira-27.jan.22/Folhapress

A investigação, ainda não concluída, busca analisar se esse dinheiro foi repassado de alguma forma para Carlos, seja em espécie, seja por meio de pagamento de contas pessoais. Informações iniciais indicam que Jorge Fernandes, atual chefe de gabinete, pagou alguns boletos do vereador.

Os repasses, revelados nesta quinta-feira (4) pelo jornal O Globo e confirmados pela Folha, foram identificados a partir da quebra de sigilo bancário de 25 servidores ou ex-servidores de Carlos na Câmara, e de cinco empresas.

A defesa de Carlos Bolsonaro afirma que o vereador "está totalmente à disposição para prestar esclarecimentos e fornecer qualquer tipo de informação ao Ministério Público".

"É preciso apurar se ocorreu, mais uma vez, o lamentável vazamento de possíveis documentos e informações que estão sob sigilo determinado pelo Poder Judiciário. Aparentemente, a matéria divulga, de forma seletiva, algumas informações sigilosas com o nítido intuito de promover ataques ao vereador", diz o advogado Antônio Carlos Fonseca em nota.

Os repasses identificados nas contas de Jorge foram feitos por seis servidores de Carlos, incluindo sua mulher, Regina Célia Sobral Fernandes.

O laudo foi produzido pelo Laboratório de Tecnologia de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro do Ministério Público do Rio.

Esta foi a unidade que rastreou as contas de Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz, apontado como operador financeiro do esquema atribuído ao senador. Queiroz, amigo do ex-presidente há mais de 30 anos, chegou a ficar preso por três semanas em 2020 em decorrência de investigação.

Denúncia apresentada naquele ano contra o senador e o ex-assessor foi posteriormente arquivada com a anulação de provas. O "caso Queiroz", revelado após a divulgação de relatório sobre a movimentação financeira dele tornado público ainda antes da posse de Bolsonaro, em 2018, se tornou uma das principais dores de cabeça do governo do então presidente.

A investigação contra Carlos foi aberta depois de notícias sobre funcionários lotados no gabinete de Carlos que aparentemente não prestavam serviço para o vereador.

A Folha revelou dois desses casos, em 2019.

À época, a reportagem descobriu que Carlos empregou até janeiro uma idosa que mora em Magé, município a 50 km do centro do Rio. Nadir Barbosa Goes, 70, negou à Folha que tenha trabalhado para o vereador. Ela recebia, como oficial de gabinete, uma remuneração de R$ 4.271 mensais.

Outra funcionária suspeita de ser fantasma revelada pela Folha é Cileide Barbosa Mendes, 43, espécie de faz-tudo da família Bolsonaro.

O Ministério Público também aponta suspeitas no uso de dinheiro vivo por parte do vereador. Ele cita o uso de R$ 150 mil em espécie na aquisição de um imóvel, e para o pagamento de uma dívida de R$ 15,5 mil com uma corretora de valores.

Em 2021, reportagem da Folha também mostrou que uma casa do ex-presidente Bolsonaro constava no cadastro da Receita Federal ou da Câmara Municipal do Rio como endereços informados por quatro pessoas suspeitas de serem funcionários fantasmas de Carlos Bolsonaro.

Esses servidores eram cunhados ou irmãos de Ana Cristina Valle, que foi casada com o ex-presidente até 2008.

Na época da quebra do sigilo, em 2021, Carlos Bolsonaro falou em perseguição política. "Na falta de fatos novos, requentam os velhos que obviamente não chegaram a lugar nenhum e trocam a embalagem para empurrar adiante a narrativa. Aos perdedores, frustrados por não ser o que sempre foram, restou apenas manipular e mentir. É o que mais acusam e o que mais fazem!", escreveu na ocasião o filho do presidente.

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