Tentaram corromper a Polícia Rodoviária para não deixar pobre votar, diz Lula

Sem mencionar Bolsonaro, presidente afirma que houve tentativa de compra de votos nas eleições de 2022

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Rio de Janeiro

Um dia após a prisão do ex-diretor-geral da PRF (Polícia Rodoviária Federal) Silvinei Vasques, o presidente Lula (PT) afirmou nesta quinta-feira (10) que "tentaram corromper" a corporação para não deixar eleitores pobres votarem.

"Eu estou aqui por causa do povo brasileiro. Porque o povo brasileiro resolveu dizer não aos quase R$ 300 bilhões que foram utilizados no ano da campanha, jogado dinheiro no ralo para ver se comprava votos. Foi utilizado e tentaram corromper a Polícia Rodoviária Federal para não deixar pobre votar. Eles não contavam que Deus é maior do que tudo isso", disse o presidente.

O presidente Lula discursa em evento em Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro, durante anúncio de investimentos na cidade
O presidente Lula discursa em evento em Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro, durante anúncio de investimentos na cidade - Mauro Pimentel/AFP

Silvinei foi preso na quarta-feira (9) sob suspeita de interferência da corporação no segundo turno das eleições presidenciais de 2022, vencidas pelo petista.

A declaração de Lula foi em evento no Rio de Janeiro no qual anunciou financiamento a projetos tocados pela prefeitura da capital, comandada pelo aliado Eduardo Paes (PSD).

O discurso do petista foi centrado em críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, políticas lançadas pelo governo antecessor e sua atuação no combate à pandemia.

"A tal da Casa Verde e Amarela não saiu até agora, e não vai sair. O povo não quer casa verde e amarela. O povo quer casa pintada da cor que ele quiser, do jeito que ele quiser", disse.

"A fase da mentira acabou. O momento de um presidente que não gostava de governador, que não gostava de prefeito, que não gostava do povo, que não gostava de sindicalista, não gostava de preto, não gostava de quilombola, não gostava de índio, acabou", disse ele.

Lula também chamou Bolsonaro de negacionista no combate à pandemia. "Vai carregar nas costas a responsabilidade de metade das pessoas que morreram de Covid porque ele não respeitou, não respeitou a medicina, não respeitou a OMS [Organização Mundial de Saúde]."

"Nunca imaginei na vida que esse país pudesse ter um presidente que contasse 11 mentiras por dia. Um cidadão que fala em Deus com a maior cara de pau do mundo, porque não acredita no que ele fala. Um homem que insuflou a sociedade a não tomar vacina."

O presidente anunciou parceria de R$ 2,6 milhões entre o governo federal e a Prefeitura do Rio de Janeiro. De acordo com a gestão municipal, os recursos serão usados para a compra de quase 700 ônibus, a requalificação do corredor de ônibus Transoeste e a construção de terminais e garagens públicos.

Parte da verba também será destinada para a construção de um anel viário em Campo Grande, na zona oeste da cidade, investimento de cerca de R$ 1 bilhão.

O bairro, um dos mais populosos da cidade, foi onde Eduardo Paes (PSD), anfitrião do evento desta quinta, teve seu pior resultado na eleição de 2020 contra o ex-prefeito Marcelo Crivella (Republicanos). Bolsonaro também venceu Lula na região no ano passado.

Ao longo do evento, o governador Cláudio Castro (PL), que apoiou Bolsonaro no ano passado, foi vaiado sempre que mencionado nos discursos. Lula defendeu o governador fluminense.

"O governador do Rio foi meu adversário nas eleições. Mas agora acabou. Ele é governador e é com ele que temos que fazer acordos", disse o presidente.

Castro não discursou e aplaudiu as falas de Lula que mencionavam investimentos e parcerias. Durante a sequência de críticas a Bolsonaro, o governador ficava de cabeça baixa sem aplaudir.

Apesar de ser uma agenda oficial, o evento desta quinta deixou o tom impessoal e teve clima de campanha para Lula. Antes da cerimônia, a organização do evento chegou a tocar jingles do petista, enquanto o cerimonialista puxava exaltando o chefe do Planalto.

Por diversas vezes, o cerimonialista do evento exaltou Lula antes do início da cerimônia. "Lula é uma ideia, que não se prende, não se mata e não acaba", disse, logo emendando: "O Brasil venceu o ódio. O Brasil sorri de novo".

O tom eleitoral do evento já antecipa as movimentações para a corrida municipal do ano que vem. Com as obras, Paes tenta ampliar sua popularidade pela zona oeste da cidade, reduto eleitoral bolsonarista.

Já a parceria com o governo federal estreita os laços de Paes com Lula, relação que teve percalços este ano —entre eles, a não indicação do deputado federal Pedro Paulo (PSD-RJ), braço direito do prefeito, para um ministério e os imbróglios para beneficiar o aeroporto Galeão, pauta cara ao alcaide.

Paes quer tentar manter o PT dentro de seu arco de alianças na campanha do ano que vem. Uma ala do PT exige o posto de vice, de olho numa possível saída do prefeito para a disputa ao governo estadual em 2026.

O prefeito, porém, quer Pedro Paulo ao seu lado na chapa. Uma ala petista defende que, sem esse espaço, o partido lance candidato próprio na capital fluminense ou apoie um nome indicado pelo PSOL.

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