Bolsonaro discursa no PL após silêncio na PF e exalta mulher na política ao lado de Michelle

Ex-presidente evita tema das joias; ex-primeira-dama diz que ficou forte 'graças às pedradas'

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Brasília

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro discursaram em um evento voltado para mulheres do partido neste sábado (2), em Brasília, na mesma semana em que optaram em ficar em silêncio diante da Polícia Federal no inquérito das joias.

Bolsonaro não fez referências sobre as investigações em seu discurso de cerca de cinco minutos e optou por exaltar o trabalho de sua esposa na sigla. O evento aconteceu no Hípica Hall, durou cerca de duas horas e foi acompanhado pela Folha.

Durante o discurso, Bolsonaro disse que, "pela primeira vez, há um movimento no Brasil para de fato inserir a mulher na política brasileira e assim fazer que ela realmente dê um norte verdadeiro para o país".

O ex-presidente Jair Bolsonaro discursa em encontro do PL Mulher, em Brasília - Reprodução

"As mulheres têm um sentimento muito mais aguçado do que o nosso. Nós, homens, por vezes somos muito imediatistas. Vocês são mais perseverantes e pensam bem mais a longo prazo. O que tem sido feito pelo PL, tendo à frente no âmbito nacional a senhora Michelle, mostra isso. Nós precisamos de vocês, dessa concentração, dessa vontade de mudar", disse Bolsonaro.

O ex-presidente encerrou seu mandato no fim de 2022 com apenas uma mulher como ministra titular dentre seus 23 ministérios: Cristiane Britto, à frente da pasta da Mulher, Família e Direitos Humanos.

Declarado inelegível pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) após mentiras e ataques ao sistema eleitoral em reunião com embaixadores, Bolsonaro também afirmou que faltam políticos com coração verde e amarelo "para movimentar essa massa e colocar o Brasil no lugar de destaque que merece".

Ele disse ainda que deu "tudo de si" nos quatro anos de mandato e que o ano passado "é página virada".

"Acredito que, ao longo dos últimos quatro anos juntos, nós plantamos ideias e ideais para o nosso país. Se o mundo está preocupado conosco, é porque temos coisas boas."

Já Michelle afirmou que "estão querendo apagar o legado" do que fizeram no governo e pediu para que "estejam atentos a mentiras".

"Não aceitem o retrocesso desse desgoverno", disse ela, aludindo ao governo Lula (PT). "Nós trabalhamos com a verdade e com a Justiça."

A ex-primeira-dama também disse que teve depressão em 2019 e que pensou "até em morrer", segundo ela, por ataques que recebeu da mídia.

"Eles atiraram pedradas, falavam mal da minha filha. Hoje me tornei uma mulher forte graças às pedradas, lutando pelo que acredito. Estou aqui para passar a mensagem, a quem pensa em se candidatar, de que as pedradas virão, o assassinato de reputação vai acontecer sim, mas não percam as esperanças, porque nós devemos confiar no nosso propósito."

Michelle também mostrou em um telão um gráfico e imagens de sua trajetória na política, que teria começado ainda na adolescência como voluntária, e afirmou querer institucionalizar seu trabalho.

"Quando cheguei a Brasília como primeira-dama pude ver que, quando a mulher é muito forte e quer fazer, ela faz acontecer. Falei que não queria fazer desfile de moda, mas colocar em prática tudo o que está no meu coração. Como primeira-dama, chegando ali no Palácio da Alvorada, eu pude institucionalizar esse trabalho", disse.

Ela ressaltou e mostrou suas atividades à frente do extinto programa Pátria Voluntária, que recebia doações para ações destinadas pelo projeto.

O governo Lula criou um grupo de trabalho para passar um pente-fino no projeto, que já foi alvo do TCU (Tribunal de Contas da União). A corte encontrou indícios de irregularidades na execução das verbas recebidas.

Como revelou a Folha, o governo de Bolsonaro desviou a finalidade da verba da empresa doada especificamente para a compra de testes rápidos da Covid e repassou o recurso ao programa coordenado por Michelle.

No último dia 26, Michelle disse, em um evento do PL Mulheres em Pernambuco, que de tanto ser questionada sobre o escândalo das joias vai lançar uma linha de produtos chamada "Mijoias". A declaração irônica causou desconforto em integrantes do partido.

Ela também afirmou, na ocasião, que a investigação da PF sobre o suposto esquema de venda ilegal de joias recebidas como presentes oficiais ao ex-presidente serve para desviar o foco da CPI dos atos de 8 de janeiro.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro discursa durante evento do PL Mulher, em Brasília - Reprodução

Intimado para comparecer à PF na última quinta (31), o casal usou o argumento, por meio de seus advogados, de que a PGR (Procuradoria-Geral da República) não reconhece a competência do STF (Supremo Tribunal Federal) e do ministro Alexandre de Moraes para o caso. Por isso, eles dizem que decidiram silenciar.

A Procuradoria, sob Augusto Aras, pediu ao STF o envio do inquérito das milícias digitais, em que está a investigação do suposto esquema de venda, recompra e devolução de joias recebidas por Bolsonaro, à primeira instância —o que a tiraria da relatoria de Moraes.

Desde 2020, quando a apuração se aproximou do círculo mais próximo do ex-presidente, a PGR tenta arquivá-lo. A partir do início do governo Lula, mudou levemente de postura, apoiando a investigação sobre fraudes no cartão de vacinação de Bolsonaro, mas mantendo o pedido de envio do caso das joias à Justiça de Guarulhos (SP), feito neste mês.

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