Bolsonaro depõe por escrito à PF e diz que ação contra empresários serviu para calar Hang

Polícia investiga conversas em que ex-presidente estimula o disparo de notícias falsas por WhatsApp

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Brasília

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) prestou depoimento na tarde desta quarta-feira (18) à Polícia Federal no âmbito da investigação sobre um grupo de WhatsApp no qual empresários defenderam um golpe caso Lula (PT) ganhasse as eleições.

Bolsonaro entregou manifestação por escrito à PF e negou intenções golpistas. A PF investiga mensagens repassadas por Bolsonaro sugerindo, sem provas, fraude nas eleições de 2022.

O ex-presidente Jair Bolsonaro após prestar depoimento na sede da Polícia Federal nesta quarta (18) - Pedro Ladeira/Folhapress

O ex-presidente disse que o inquérito foi usado para calar o empresário Luciano Hang, dono da Havan.

"O que de importante aconteceu no início desse inquérito, o objetivo foi atingido, calar o Luciano Hang, que tinha 10 milhões de seguidores. Inibir também outras pessoas que eram simpáticas a mim", afirmou Bolsonaro após deixar a sede da PF, em Brasília.

O inquérito tem como relator Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e foi parcialmente arquivado. Resta ainda a apuração contra os empresários Meyer Nigri, da Tecnisa, e Hang.

Os advogados do ex-presidente defendem que o caso não deveria tramitar no Supremo, mas em primeira instância.

A PF havia convocado Bolsonaro para depor no fim de agosto, mas os advogados pediram o adiamento da oitiva. O ex-presidente foi intimado após conversas encontradas pela polícia no celular de Meyer Nigri e por causa da relação do ex-presidente com Hang.

Em uma conversa com Nigri, Bolsonaro pediu que ele repassasse "ao máximo" uma mensagem que sugeria, sem provas, uma fraude do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Bolsonaro disse que a ação contra empresários "mostra, no mínimo, a imparcialidade na condução das eleições [de 2022]".

Após entregar a defesa à PF, o ex-presidente se esquivou de questionamentos da imprensa sobre relatos de que ele e militares avaliaram um golpe contra a vitória de Lula na disputa a presidente.

Ele afirmou que responde apenas pelo que assinou enquanto era presidente. "Você viu movimentação de um soldado", disse ainda, sem responder se articulou ou não uma ação golpista.

Uma das mensagens que foram enviadas pelo contato identificado como o de Bolsonaro a Nigri, contidas no relatório da PF, trata da atuação do ex-presidente do TSE Luís Roberto Barroso.

"O ministro Barroso faz peregrinação no exterior sobre o atual processo eleitoral brasileiro, como sendo algo seguro e confiável. O pior, mente sobre o que se tentou aprovar em 2021: o voto impresso ao lado da urna eletrônica, quando ele se reuniu com lideranças partidárias e o Voto Impresso foi derrotado. Isso chama-se INTERFERENCIA", diz uma das mensagens transcritas pela PF que teriam sido enviadas pelo ex-presidente.

Os advogados de Bolsonaro entregaram à PF, nesta quarta, documento de 14 páginas afirmando, entre outros pontos, que o ex-presidente escolheu se manifestar por escrito "diante da evidente atipicidade dos fatos investigados e da incompetência da Suprema Corte, garantindo, também, que nenhuma falsa narrativa seja construída com base em suas declarações".

"Vê-se que as condutas ora apuradas carecem de uma base mínima de evidências e, desde o princípio, são claramente atípicas. Tem-se, em verdade, manifesta ausência das elementares dos tipos penais imputados e de atos efetivos que respaldem a suposta prática de incitação ao crime, associação criminosa, abolição violenta do Estado democrático de Direito e deposição do atual presidente da República, uma vez que não há qualquer evidência de tentativa real e iminente de alcançar tais objetivos por meio de violência ou grave ameaça", diz o texto assinado pelos advogados Paulo Cunha Bueno e Daniel Tesser.

As conversas entre empresários em grupo de WhatsApp que foram reveladas na época pelo site Metrópoles. Após a divulgação das mensagens, participantes negaram intenção golpista.

A revelação da troca de mensagens resultou em mandados de busca e apreensão da PF contra os empresários após autorização de Moraes, em agosto de 2022.

Como a Folha mostrou, a decisão tinha como base somente a reportagem sobre conversas de teor golpista —nenhuma outra diligência preliminar havia sido realizada.

Quando arquivou parte do caso, Moraes citou conversas encontradas nos celulares apreendidos pela PF. O ministro decidiu manter a investigação sobre Nigri com a justificativa de que era necessário fazer novas diligências já que foi encontrado vínculo entre o empresário e Bolsonaro, com o objetivo, sobretudo, de disseminar notícias falsas.

Os investigadores apontam que a relação de Nigri com o ex-presidente teria a "finalidade de disseminação de várias notícias falsas e atentatórias à democracia e ao Estado democrático de Direito, utilizando-se do mesmo modo de agir da associação especializada investigada no Inq. 4874".

Moraes, porém, mandou arquivar as investigações sobre os empresários José Isaac Peres (Multiplan), Ivan Wrobel (W3 Engenharia), José Koury (Barra World Shopping), André Tissot (Grupo Sierra), Marco Aurélio Raimundo (Mormaii) e Afrânio Bandeira (Coco Bambu).

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