CPI do 8/1 trava na reta final e deve acabar sem ouvir mais militares

Convocação de representante da Força Nacional de Segurança foi rejeitada nesta terça por 14 votos a 10

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Brasília

O presidente da CPI do 8 de janeiro, deputado federal Arthur Maia (União Brasil-BA), avisou nesta terça-feira (3) que o último depoimento da comissão será na quinta (5), com o policial militar do Distrito Federal Beroaldo José de Freitas Júnior.

A base de Lula (PT) ainda tenta convencer Maia a ouvir o general Walter Braga Netto, ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) e ex-candidato a vice-presidente da República. Braga Netto já foi convocado pela comissão, mas teve seu depoimento adiado duas vezes.

O presidente da CPI do 8/1, deputado Arthur Maia - Pedro Ladeira-31.ago.23/Folhapress

Com o poder de marcar e desmarcar depoimentos, Maia chegou a afirmar que a CPI só ouviria Braga Netto se algum representante da Força Nacional de Segurança Pública fosse convocado. O requerimento de convocação de Sandro Queiroz, ex-comandante do batalhão de pronto emprego, foi rejeitado por 14 votos a 10.

A votação, antes do depoimento desta terça, pegou os parlamentares de surpresa e gerou reclamações da base de Lula. Minutos antes, a oposição não sabia sequer quem deveria ser convocado. Uns defendiam a convocação do então diretor da Força, Ivair Matos Santos; outros, do chefe das tropas.

Bolsonaristas querem ouvir a Força Nacional para desgastar o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB). Como revelou a Folha, o órgão alertou sobre a possibilidade de atos violentos em Brasília contra o resultado das eleições por parte de CACs (caçadores, atiradores e colecionadores).

O documento da Força Nacional, produzido em 5 de janeiro, é um dos poucos relatórios de inteligência sobre o risco de ataques em 8 de janeiro, já que a própria Abin (Agência Brasileira de Inteligência) admite ter enviado apenas "alertas" de inteligência por WhatsApp.

Além do documento da Força Nacional, só há registro do relatório produzido pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal dois dias antes do episódio. O teor do texto foi revelado pela Folha em 14 de janeiro.

A comissão ouviu nesta terça-feira o empresário Argino Bedin, apontado como um dos financiadores do acampamento em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília. Bedin é um dos integrantes do movimento de direita Verde Amarelo.

Na segunda (2), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Dias Toffoli decidiu que o ruralista deveria ir à sessão, mas poderia ficar em silêncio para não produzir provas contra si mesmo.

O empresário não quis responder, por exemplo, se enviou caminhões para a capital federal ou se participou do bloqueio de estradas após a derrota de Bolsonaro.

Argino Bedin em sessão da CPI - Ton Molina /Fotoarena/Folhapress

O ruralista se emocionou ao ser elogiado pelo deputado bolsonarista Filipe Barros (PL-PR). "As suas lágrimas, senhor Argino, são lágrimas de um brasileiro honesto, que trabalhou a sua vida toda para deixar um Brasil melhor para seus filhos e seus netos", disse o parlamentar.

Depois do episódio, o empresário recebeu um abraço da senadora Tereza Cristina (Progressistas-MS), ex-ministra da Agricultura de Bolsonaro. Argino também foi confortado pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF), ex-ministra da Mulher.

Além de Braga Netto, parte dos deputados e senadores da base defendem o depoimento do ex-comandante da Marinha Almir Garnier. O nome do militar veio à tona após as informações sobre o suposto aval a um plano golpista de Bolsonaro.

Outros parlamentares, no entanto, avaliam que a ida do militar ao Congresso pode desgastar a relação do governo com as Forças Armadas, e defendem que a Polícia Federal continue à frente do caso.

O grupo que é contra o depoimento de Garnier também argumenta que eventuais informações trazidas por ele podem atrapalhar a busca de provas a partir da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

A leitura do relatório da senadora Eliziane Gama e de eventuais votos em separado da oposição estão marcados para o próximo dia 17.

Pode haver pedido de vista (mais tempo para análise), o que levaria o debate e a votação para uma sessão posterior.

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