Morre aos 100 anos Tito Costa, prefeito de São Bernardo nas greves do ABC dos anos 70

Ele conviveu com o hoje presidente Lula (PT) nos tempos de sindicato e em oposição à ditadura militar

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São Paulo

O advogado, ex-prefeito e ex-deputado constituinte Antonio Tito Costa morreu neste sábado (28) em Torrinha (SP) aos 100 anos.

Tito Costa, como era conhecido, foi prefeito de São Bernardo do Campo (1977-1982) pelo então PMDB durante as greves dos metalúrgicos nos anos 70, quando ali conheceu e conviveu com o hoje presidente Lula (PT) em oposição à ditadura militar.

Tito Costa, então ex-prefeito de São Bernardo do Campo e deputado constituinte
Tito Costa, então ex-prefeito de São Bernardo do Campo e deputado constituinte - Luiz Carlos Murauskas - 7.ago.88/Folhapress

Lula lamentou em suas redes sociais a morte do colega de Congresso nos anos de 1987 e 1988.

"Tito Costa foi político, prefeito de São Bernardo do Campo, meu colega constituinte e um grande advogado e jurista", afirmou o presidente.

"Atuou de forma democrática durante as greves do ABC nos anos 1970, em tempos difíceis e de muita pressão contra a organização dos trabalhadores. Convivemos e dialogamos muito naquela época e nas décadas seguintes na nossa São Bernardo do Campo. Meus sentimentos aos seus filhos, netos e amigos."

Em 2018, pai de cinco filhos, Tito Costa deu entrevista à Folha e falou sobre sua relação com o petista.

A relação dos dois havia começado em 1976, quando Lula apoiou a eleição de Costa para prefeito numa das raras frestas que a ditadura abria para participação política. Venceu com cerca de 60 mil votos.

"Fomos bons amigos, a ponto de eu subir no palanque durante os movimentos sindicais", lembrou o ex-prefeito.

Em imagem de 1979, Lula transmite instruções recebidas da polícia para desocupação de prédio em intervenção do sindicato, em São Bernardo do Campo (SP); De pé, além de Lula, os deputados Antonio Resk e Alberto Goldman. Na mesa, o prefeito Tito Costa e os delegados de polícia Nivaldo Leme e Deodato Araújo
Em imagem de 1979, Lula transmite instruções recebidas da polícia para desocupação de prédio em intervenção do sindicato, em São Bernardo do Campo (SP); De pé, além de Lula, os deputados Antonio Resk e Alberto Goldman. Na mesa, o prefeito Tito Costa e os delegados de polícia Nivaldo Leme e Deodato Araújo - Luiz Novaes - 23.mar.1979/Folhapress

Também estiveram juntos nas greves no estádio da Vila Euclides, comandadas por Lula no final daquela década.

Mesmo após deixar o MDB em 1990, depois que terminou um mandato de deputado federal, nunca se afastou do cenário político —manteve uma coluna semanal no jornal Folha do ABC, com crônicas e bastidores do poder.

Em 2015, após anos de distanciamento, Costa escreveu uma carta aberta ao amigo ex-presidente. Na época, estava preocupado com os rumos do PT, que surgiu com a promessa de dar esperança à população, mas, segundo ele, se perdeu no meio do caminho.

A morte de Tito foi anunciada na rede social de um de seus filhos, Antônio Costa Filho. "Com muita tristeza, comunico o falecimento do meu pai Antonio Tito Costa nesta data. O velório será na cidade de Torrinha."

Em 2018, Tito Costa em entrevista à Folha
Em 2018, Tito Costa em entrevista à Folha - Karime Xavier - 16.abr.2018/Folhapress

A Prefeitura de São Bernardo do Campo decretou luto de três dias.

"Registro aqui a minha tristeza e ao mesmo tempo o reconhecimento deste homem público de tamanha importância, que não apenas serviu como prefeito a cidade de São Bernardo, mas colaborou muito para a democracia do nosso país", afirmou em nota Orlando Morando, prefeito do município.

O decreto de luto oficial destaca a trajetória do ex-prefeito e sua importância na política nacional e no direito eleitoral.

Nas redes sociais, entidades e políticos repercutiram a morte.

O presidente nacional do MDB, deputado federal Baleia Rossi (SP), destacou a coragem de Tito Costa frente a movimentos trabalhistas.

"Meus sentimentos à família do jurista e ex-deputado Tito Costa. Ele foi prefeito de São Bernardo do Campo (SP) e soube com diálogo, moderação e coragem lidar com os movimentos da classe trabalhadora que foram fundamentais para a retomada da democracia no início anos 80."

O deputado federal Alex Manente (Cidadania-SP), de São Bernardo do Campo, chamou Tito de "eterno prefeito".

"Exemplo de pessoa, político e gestor. O eterno prefeito Tito Costa nos deixa. Exemplo de relação com os servidores públicos escolheu o dia 28 de outubro para partir. Meus sentimentos aos familiares e amigos."

O sociólogo e colunista da Folha Celso Rocha de Barros, autor do livro "PT, uma história", afirmou que o prefeito era visto pelos líderes grevistas e pelos sindicatos como um prefeito democrata em meio ao regime autoritário.

"Tito Costa foi apoiado pelo sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema em 1976. Os líderes grevistas de 1978 sempre entenderam que ter um prefeito democrata na cidade naquele momento foi importantíssimo. Foi um exemplo do sucesso do velho MDB na utilização de pequenos espaços de liberdade para lutar pela redemocratização."

Roberto Freire, ex-deputado federal e ex-presidente do Cidadania, destacou o enfrentamento de Tito à ditadura.

"Pesar pelo falecimento de Tito Costa, ex-prefeito de São Bernardo, um democrata na luta contra a ditadura. A prefeitura sob seu comando foi espaço de luta junto ao sindicato dos metalúrgicos em greve (Lula à frente). Sempre lembrado constituinte. Meus sentimentos à família e amigos", disse.

Marcos da Costa, secretário estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo, escreveu que Tito foi um dos maiores nomes do direito eleitoral brasileiro.

"Triste com a notícia do falecimento do amigo Tito Costa, aos 100 anos de idade. Um dos maiores nomes do direito eleitoral brasileiro, foi Prefeito de São Bernardo, Deputado Constituinte de nossa Constituição de 1988, vice-presidente da OAB-SP na gestão do saudoso Guido Andrade."

A Abradep (Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político) publicou uma longa nota de pesar destacando sua trajetória política e atuação como eleitoralista.

"Estamos todos de luto. Tito foi professor de todos nós. De todos os eleitoralistas. Um guerreiro da democracia. Um dos grandes homens desse país. Nos deixa um legado, um exemplo. E muita saudade."

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