Descrição de chapéu Eleições 2024

Pré-candidata do Novo em SP quer CET armada, critica Nunes e vê risco com Boulos

Marina Helena afirma que partido caiu na real ao admitir a possibilidade de usar verba pública e chama Amoêdo de cacique

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Opção do partido Novo para a Prefeitura de São Paulo, Marina Helena, deputada federal suplente, afirma que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) é ausente e não estimula a geração de renda, enquanto Guilherme Boulos (PSOL) é um risco e defende que o bandido é vítima da sociedade.

A economista, que foi CEO do Instituto Millenium e diretora de Desestatização no ministério de Paulo Guedes, defende armar os agentes de trânsito da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e financiar a defesa de médicos que indicarem internação compulsória na cracolândia.

Marina Helena, pré-candidata do Novo à Prefeitura de São Paulo, posa na av. Rebouças após conceder entrevista - Marlene Bergamo/Folhapress

Marina Helena diz à Folha que o Novo "tinha um idealismo muito grande" e "caiu na real" ao considerar o uso de verba pública na campanha. Em 2020, ela foi candidata à vice-prefeita, mas renunciou à chapa depois que Filipe Sabará foi expulso da legenda.

Pesquisa Datafolha de agosto mostra Boulos com 32%, seguido de Nunes, com 24%, Tabata Amaral (PSB), com 11%, e Kim Kataguiri (União Brasil), com 8%. Na época, o ex-deputado Vinicius Poit foi testado como candidato do Novo e obteve 2%.

O que a anima a concorrer à Prefeitura de São Paulo?
Não estou satisfeita com as opções que a gente tem. Temos um prefeito muito ausente. A gente está em uma cidade com muito descaso. Para mim, a maior dor do paulistano é a segurança. Hoje São Paulo gasta 0,8% da receita com segurança e gasta seis vezes mais tapando buraco. Não vejo essa pessoa [Nunes] me representando.

A gente tem um risco, que é o risco do Boulos. Vim para São Paulo em busca de oportunidade, e não vejo que o Boulos é alguém que se preocupa com isso. Acho que o primeiro emprego dele foi agora, como deputado federal. Outro ponto é a questão da segurança. Tem muito essa ideia de que o bandido é vítima da sociedade. Isso está gerando muita impunidade.

Como foi o processo de escolha no Novo para chegar ao seu nome?
Fui pega de surpresa. Eles fizeram várias consultas, e surgiu o meu nome. Eu tinha descoberto que estava grávida e pedi um tempo. Depois que vi que estava tudo bem [com a gravidez], avisei o partido disso e eles continuaram insistindo. Foi algo interessante, nem todo partido agiria dessa maneira.

O campo da direita tem um congestionamento de candidatos, com Ricardo Salles (PL), Kim e Nunes. Como pretende se diferenciar?
Nunes não é de direita. Vejo até o próprio [Jair] Bolsonaro com uma dificuldade muito grande de declarar apoio [a Nunes]. No governo do Nunes, está a Marta [Suplicy]. A prefeitura, os subprefeitos, as secretarias, tudo continua bem loteadinho, como sempre foi. Não vejo ele [agir] pela bandeira da segurança. Ele não tem responsabilidade fiscal, não está favorecendo o empreendedorismo e a vida de quem quer trabalhar.

E em relação ao Salles e ao Kim?
O Salles não anunciou ainda a candidatura. O Kim tem as questões partidárias. Tenho certeza de que o meu nome vai estar nas urnas.

São Paulo é bastante dividida entre esquerda e direita, sendo que a esquerda venceu em 2022. Quer tentar conquistar eleitores de esquerda?
Eu me diferencio com propostas totalmente sensatas, reais, exequíveis. E aí não tem essa de direita e esquerda, os problemas estão aí e as pessoas querem que solucione.

O que pretende fazer em relação à segurança?
Tem que se tornar prioritária. Isso passa por aumentar a operação delegada, ampliar o efetivo da Guarda Civil, investir em inteligência de dados. Esse intercâmbio com o estado tem que existir. A gente vê a CET e a GCM muito focadas em aumentar essa indústria de multas e já é permitido o porte de arma pelo agente de trânsito. É muito importante o treinamento dos agentes de trânsito para que eles possam andar armados.

Mas segurança é algo que depende muito do governo estadual e federal. Colocar esse tema como prioridade não é prometer demais ou enganar o eleitor?
A gente precisa investir nisso, mas não é a única prioridade. Educação é outra bandeira, estou falando do cuidado com a criança. Outra bandeira é estimular o trabalho. O prefeito teve a opção de acelerar isso, com a Lei de Liberdade Econômica, e optou por não fazer. Tanto na saúde como na educação, tem um espaço grande para fazer parcerias públicas e privadas. O Brasil fez isso quando a gente fez o ProUni, que deu bolsa para estudar em escola privada.

Como resolver a cracolândia?
Tolerância zero com o crime organizado. E segundo passo é uma questão que envolve assistência social e a Secretaria de Saúde. Sou favorável à internação compulsória. Sei que não é uma decisão do prefeito, mas a gente precisa conversar com a comunidade médica. Muitos médicos têm receio de levar um processo por autorizar uma internação. A prefeitura pode, por exemplo, pagar advogados para eles.

Como diminuir a distância entre Morumbi e Paraisópolis?
Principalmente com geração de emprego e oportunidade. Muito mais importante que a questão da desigualdade é a questão da pobreza, inaceitável em uma cidade como a nossa. E resolver passa por educação de qualidade, por assistência social. Mas essa assistência tem que estar dada em conjunto com ferramentas que permitam que essa pessoa tenha um trabalho digno.

Por que pobreza é mais importante que desigualdade?
Porque a desigualdade acaba sendo uma consequência inevitável do sistema capitalista. Qualquer tentativa de igualar o seu ponto final, seu ponto de chegada, acabou em miséria. É só ver o que está acontecendo na Venezuela.

A pandemia demonstrou que é importante ter uma rede de proteção social, não?
É fundamental. Mas não existe rede de proteção que não dê o mínimo, que é segurança. Quando a gente fala de rede de proteção social, isso obviamente passa pelo setor público, mas a gente está falando, sim, de segurança, de educação, da privatização de uma Sabesp, que vai levar tratamento de esgoto para as comunidades mais pobres.

Perguntei sobre desigualdade porque os demais candidatos têm relação com a periferia. O que a sra. conhece da periferia?
Conheço bastante, fiz campanha em toda ela. Sei que eu gasto duas horas para chegar em Parelheiros para fazer uma reunião lá, porque eu já fui e voltei algumas vezes. A mesma coisa no Jardim Ângela, a mesma coisa em Perus, a mesma coisa em vários lugares que visitei. E eu morei na periferia do Maranhão. Fugi de casa quando fui abusada e tive uma chance, porque meus pais eram separados. A educação e o trabalho mudaram a minha história.

A sra. tem um programa diferente da esquerda, mas Boulos lidera e o PT venceu na capital em 2022. Por que a esquerda tem tanta adesão?
A gente sempre cai no discurso populista de que a gente precisa apostar em justiça social. O que é justiça social na realidade? É um Estado absolutamente inchado. Você está tirando dinheiro do pobre para sustentar uma elite que toma conta do poder.

A sra. se preocupa com as declarações do governador Zema, que é do Novo, sobre o Nordeste, já que São Paulo tem um eleitorado grande do Nordeste?
Inclusive eu, porque morei dez anos em São Luís. Eles saíram de lá em busca de oportunidade. Veja o que está acontecendo com a criminalidade nesses estados governados pela esquerda. O governador foi completamente mal interpretado. O que ele falou é que os estados do Sul e do Sudeste são sub-representados em Brasília.

Em 2020, o Novo lançou Filipe Sabará para a prefeitura e a sra. como vice. Ele foi expulso do partido no meio da campanha por inconsistências no currículo. Por que o eleitor deveria dar uma chance ao partido?
Tenho que agradecer porque, como candidata a vice, coordenei o programa de governo e foi um grande aprendizado. O Novo mudou demais desde aquelas eleições. Isso tinha a ver muito com a centralização de poder que havia, que a gente tinha de fato um cacique.

Está falando do João Amôedo?
Sim. Isso acabou respingando em São Paulo, toda essa disputa.

O partido vai usar fundo eleitoral na campanha? Quanto a sra. deve usar?
A gente ainda tem uma convenção nacional para decidir se esses recursos vão ou não ser usados. Acredito que isso vai passar. A gente caiu na real. Continuamos contrários [ao uso do dinheiro público], porque esses fundos atingiram valores muito elevados.

Hoje estamos indo para a guerra de canivete. Se a opção for por utilizar, provavelmente vou usar um valor ínfimo comparado com os outros candidatos. A gente tinha um idealismo muito grande. Para mudar essa realidade com a qual a gente não concorda, vamos precisar de fato estar no páreo. Só recursos privados não são suficientes nessa luta que é muito desigual.

Paulo Guedes vai ser seu cabo eleitoral? Vai participar de um eventual governo?
Para mim seria o máximo. Ele que me fez o convite para ir para Brasília e me fez ver de perto o quanto o Brasil precisa de boas lideranças. Adoraria poder contar com ele, mas é uma decisão dele.

Como ex-integrante do governo Bolsonaro, a sra. vai trazer a polarização nacional ou o discurso bolsonarista para a campanha?
Agora esse termo bolsonarista vale para tudo. Eu votei no Bolsonaro no segundo turno, como milhões de brasileiros. Isso não significa que essas pessoas são bolsonaristas. Mas vejo que o Bolsonaro teve vantagens, ainda mais em relação ao governo atual, principalmente no rumo da economia.

A sra. se considera bolsonarista?
Acho que o Bolsonaro foi… É ainda uma grande liderança na direita. Tem pautas que eu convirjo não só com ele, mas com os membros da direita, como a liberdade de expressão, a questão de que nosso Estado é inchado. Defendo essas pautas porque elas são minhas, são do partido Novo.

Por que resolveu falar abertamente sobre ter sofrido abuso sexual?
É muito mais comum do que se imagina. Se fala muito de justiça social, de cuidado com os mais frágeis. Cadê? Isso continua acontecendo.


Raio-X | Marina Helena, 43

Deputada federal suplente, foi diretora de Desestatização do Ministério da Economia no governo Bolsonaro e CEO do Instituto Millenium. Em 2020, seria candidata a vice-prefeita, mas a candidatura de Felipe Sabará, expulso do Novo, foi indeferida. Nascida em Brasília, viveu até os 13 anos em São Luís (MA). Fez graduação e mestrado em economia na Universidade de Brasília (UnB) e trabalhou em bancos. Em 2022, declarou patrimônio de R$ 8,67 milhões. É pré-candidata à Prefeitura de São Paulo em 2024

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.