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Tribunal de Justiça de MG quer criar 521 cargos de até R$ 23 mil para apadrinhados

Iniciativa ocorre em momento de profunda crise financeira do estado; TJ diz que postos são para 'gestão de acervos enormes de processos'

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Belo Horizonte

A cúpula do TJ-MG (Tribunal de Justiça de Minas Gerais) quer criar 521 cargos com salários de até R$ 23 mil sem a necessidade de concurso público, ou seja, com as indicações a serem feitas por integrantes da corte.

Uma minuta de ato normativo contendo projeto de lei que cria os cargos já aprovada pela Comissão de Organização e Divisão Judiciárias do tribunal prevê ainda outros 104 postos que poderão ser ocupados somente por servidores efetivos.

O impacto total, juntando os 625 postos, é de R$ 156,1 milhões em 2024 e R$ 161 milhões em 2025, conforme contas da corte. O projeto agora precisa ser enviado e aprovado pela Assembleia Legislativa. O texto ainda não chegou à Casa.

O TJ justifica a criação dos cargos afirmando haver necessidade de gestão de processos.

Edifício sede do Tribunal de Justiça de Minas Gerais
Cúpula do Tribunal de Justiça de Minas Gerais quer criar cargos com salários de até R$ 23 mil para apadrinhados. - Robert Leal/Divulgação

"A estrutura dos gabinetes de magistrados no Judiciário de Minas Gerais é composta por tais cargos, fundamentais à gestão de acervos enormes de processos, de modo que a criação dos referidos cargos é premissa à instalação de novas unidades judiciárias no estado", diz a corte, em nota.

A tentativa de aumento de cargos pelo TJ, e, consequentemente, de gastos com pessoal, ocorre em momento de profunda crise financeira do Governo de Minas Gerais, o pagador das despesas do tribunal.

A dívida do estado com a União é de R$ 160 bilhões, e o governo corre contra o tempo para tentar aprovar até a próxima quarta-feira (20), também na Assembleia Legislativa, projeto que autoriza Minas Gerais a aderir ao RRF (Regime de Recuperação Fiscal).

Caso não consiga aprovar o texto, o estado terá que desembolsar, já em janeiro, R$ 15 bilhões no pagamento de serviço da dívida.

O TJ tem 1.795 cargos de indicação pessoal, conforme números de setembro de 2023. Os 521 possíveis novos contratados, portanto, representam elevação de 29,02% no número de cargos para livre indicação dos integrantes da corte.

As despesas do tribunal com cargos sem a realização de concurso atingiram R$ 249 milhões em 2022, saindo de R$ 48,2 milhões no primeiro trimestre para R$ 64,2 entre abril, maio e junho, R$ 68,2 milhões de julho a setembro, e 68,4 milhões nos últimos três meses daquele ano.

Nos primeiros três meses de 2023 houve uma queda, para R$ 53,4 milhões. Nos três meses seguintes, porém, a conta quase dobrou, indo a R$ 101,1 milhões. Entre julho, agosto e setembro, o último dado disponibilizado pela corte, o valor pago aos apadrinhados foi de R$ 92,8 milhões.

Os valores oscilam de acordo com benefícios recebidos pelos servidores. No mês passado, por exemplo, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) abriu investigação para apurar a realização de plantões por servidores e magistrados do Poder Judiciário de Minas Gerais, com pagamento de R$ 29,1 milhões desde junho de 2021.

Até setembro, o gasto da Corte com pessoal (integrantes do Poder Judiciário, servidores concursados e por indicação) somou R$ 3 bilhões. Em todo o ano passado, esse montante foi de R$ 3,7 bilhões.

Os cargos a serem criados são, por exemplo, para assessor de juiz, assistente de juiz e assistente judiciário. Os salários variam de R$ 5.552,50 a 23.680,84.

A assessoria de comunicação do TJ disse que a diferença "entre os cargos de assessores, assistentes de juiz e de assistente judiciário decorrem das atribuições de cada uma das funções, previstas nas respectivas legislações mineiras".

Há ainda cargos para atender a cúpula do Poder, na presidência, primeira, segunda e terceira vice-presidências, corregedoria-geral de Justiça e superintendência administrativa, conforme consta na minuta do ato normativo.

Na justificativa do projeto de lei, incluída na minuta, o presidente do TJ, José Arthur de Carvalho Pereira Filho, também fala que o aumento no número de cargos é por conta do crescimento de processos judiciais.

"Não se pode olvidar que o cenário atual em que se encontra o Poder Judiciário Nacional é preocupante, diante do crescimento progressivo de demandas postas à sua apreciação", disse.

O TJ contava com a criação dos cargos ainda este ano. A minuta aprovada pela comissão já projetava gastos com os novos postos para 2023, de R$ 41,7 milhões. A minuta foi aprovada em votação eletrônica da instância ocorrida entre 27 e 31 de outubro.

Na nota enviada à reportagem, a corte afirma que o número de cargos sem necessidade de concurso público a serem criados é de "cerca de 400".

A nota diz ainda que "mais 100 cargos" no TJ serão extintos "em medida de reestruturação administrativa". Na minuta aprovada, a reportagem identificou o fim de dez cargos. Todos de recrutamento limitado, ou seja, que só podem ser ocupados somente por servidores concursados.

A reportagem enviou as contas feitas a partir da minuta do projeto de lei, que apontaram a criação de 521 vagas, e pediu para que fosse feita verificação. Não houve resposta.

Sobre a data de remessa do projeto para aprovação da Assembleia, a corte afirmou que o envio "depende do decurso do prazo regimental de publicação do texto no DJe", o Diário do Poder Judiciário de Minas Gerais.

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