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Lula e Tarcísio trocam afagos em Santos e celebram parceria sob vaias e aplausos

Presidente da República e governador de São Paulo têm segundo encontro nesta semana

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Santos

O presidente Lula (PT) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), trocaram afagos nesta sexta-feira (2) em evento oficial no porto de Santos, no litoral sul do estado.

Eles disseram ter disposição para trabalharem juntos em projetos estratégicos para o estado, como é o caso do túnel entre Santos e Guarujá —os dois governos anunciaram ter chegado a um entendimento para financiar a obra em conjunto e encerrar disputas pela sua paternidade e, portanto, dos louros políticos da obra.

O presidente Lula e o governador Tarcísio de Freitas durante celebração dos 132 anos do porto de Santos
O presidente Lula e o governador Tarcísio de Freitas durante celebração dos 132 anos do porto de Santos - Adriano Vizoni/Folhapress

Em seu discurso, Tarcísio disse que era preciso celebrar os acordos recentes entre governo federal e governo paulista, como na construção da obra no litoral. "O que importa é enxergar o interesse público", disse o governador, que foi aplaudido ao ser anunciado, mas também ouviu algumas vaias e xingamentos.

"Vamos deixar esse legado trabalhando juntos. Muito obrigado pela parceria, presidente Lula."

Lula falou em seguida e saiu em defesa de Tarcísio. Disse que é preciso restaurar a "normalidade" política para que ele e o governador possam atuar em conjunto em programas para o estado, com "respeito às diferenças" dentro da democracia.

"O governador merece ser tratado com muito respeito nas atividades públicas que nós fazemos", afirmou. "Parabéns pela relação democrática entre Brasil e São Paulo", completou Lula ao final de sua fala.

"Nós estamos juntos. Em quem eu vou votar é problema meu, em quem ele votar é problema dele", disse o presidente. Em seguida, um dos convidados da plateia gritou: "Vota no PT, Tarcísio". O governador riu com a brincadeira.

Lula e Tarcísio são adversários políticos, mas têm feito gestos de aproximação pragmática em torno de projetos comuns entre os governos para o estado.

Tarcísio foi ministro do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e é apontado como possível candidato ao Planalto em 2026 —o que ele nega, visto que pode vir a disputar a reeleição em SP. Bolsonaro, por sua vez, seu padrinho político, foi condenado por mentiras e ataques ao sistema eleitoral e está proibido de concorrer eleições por oito anos, contados a partir do pleito de 2022.

Durante a cerimônia, quando o prefeito da cidade litorânea, Rogério Santos (Republicanos), fez referência ao fato do vice-presidente Geraldo Alckmin ser torcedor do Santos, Lula fez comentários novamente ao ouvido do governador e os dois riram. Lula é corintiano e Tarcísio, flamenguista.

governador conversa com lula no gabiente presidencial
O governador Tarcísio de Freitas (São Paulo) se reúne com o presidente Lula (PT) para tratar do túnel Santos-Guarujá, uma obra do Novo PAC. - Ricardo Stuckert-31.01.2024/Palácio do Planalto

"Nós disputamos com o Tarcísio [o governo estadual, em 2022] e perdemos as eleições. Não dá para querer dar um golpe em São Paulo, invadir um prédio em São Paulo, não. É voltar para casa, se preparar, e disputar outra vez", disse Lula em fala indicando referência aos ataques do 8 de janeiro em Brasília.

"Quero te dizer que você terá da Presidência da República tudo aquilo que for necessário, porque eu não estou beneficiando o governador, eu estou beneficiando o estado mais importante da federação, com 42 milhões de habitantes", ele disse ao governador.

Apesar dos desagravos entre dois adversários, o ato também foi marcado pelas diferenças ideológicas entre os dois. Lula e integrantes do governo ressaltaram que são favoráveis a manter o Porto de Santos sob administração pública.

"Queremos provar que nós vamos fazer tanto ou mais que um empresário faria nesse porto", disse Lula, arrancando aplausos de militantes petistas.

O assunto chegou a opor as duas gestões no início do ano passado —Tarcísio era favorável à privatização do complexo portuário, e encontrou resistência do ministro Márcio França (PSB), que ocupava a pasta Portos e Aeroportos.

Na saída do evento desta sexta, o governador ressaltou suas divergências. "Não quer dizer alinhamento político, não quer dizer que a gente vai pensar igual", disse Tarcísio, quando questionado sobre a aproximação com o governo para viabilizar o projeto. "Continuo sendo liberal, continuo tendo a minha crença no atingimento de resultado."

Esse foi o segundo encontro entre Lula e Tarcísio nesta semana. Na terça (30), eles tiveram uma reunião em Brasília com pragmatismo, clima leve e conversas sobre futebol e o Novo PAC (Programa de Aceleração e Crescimento) —selo de obras do governo federal.

A agenda durou cerca de meia hora, no Palácio do Planalto, em meio ao acordo do governo paulista e federal sobre a construção do túnel no litoral sul de São Paulo. Segundo relatos, o futebol, uma das principais estratégias de quebrar o gelo de Lula, esteve presente.

No encontro no Planalto, o governador de São Paulo, que é frequentemente criticado pela militância de direita pelo diálogo com o petista, falou ainda de outros projetos que espera poder contar com o apoio do governo federal, como a extensão da linha 4 do metrô até Taboão da Serra ou a alça do acesso a Guarulhos do Rodoanel Norte, obras que, disse ele, não são possíveis sem o apoio do governo federal.

Lula indicou na ocasião, assim como tem dito, que tem interesse em trabalhar junto do estado, mas não sinalizou especificamente nenhum projeto. Auxiliares palacianos falam que a postura deste governo difere do anterior ao promover interlocução do Executivo federal com os estados —apesar de declarações do Lula que possam incentivar a polarização.

O encontro de terça foi registrado por Lula nas redes sociais, com direito a fotos. O governador, por sua vez, apesar da postura de pragmatismo, preferiu evitar maiores exposições da reunião e não postou sobre ela nos seus perfis.

De acordo com aliados, Tarcísio de Freitas esteve com Bolsonaro há cerca de duas semanas e, na ocasião, teria afirmado que provavelmente iria a Brasília nas semanas seguintes para tratar do Porto de Santos. O ex-presidente teria compreendido a necessidade, disseram.

Após o encontro em Brasília, a militância bolsonarista nas redes sociais não se mobilizou, como em outras vezes, contra o governador. A principal preocupação dela, naquele momento, era com as operações da operação da Polícia Federal que na última semana colocaram na mira os deputados Carlos Jordy (PL-RJ) e Alexandre Ramagem (PL-RJ), ambos pré-candidatos às prefeituras de Niterói e do Rio de Janeiro, e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos).

No passado, o governador já foi criticado pelos apoiadores do ex-presidente por sua postura de diálogo com o Planalto. Aliados de Bolsonaro mais radicais apontam para falta de lealdade, enquanto aliados de Tarcísio alegam ser necessária a proximidade para poder tirar do papel projetos importantes para o estado.

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