Descrição de chapéu STF Folhajus

PF conclui inquérito sobre hostilidade a Moraes e família em Roma sem indiciar ninguém

Delegado vê injúria contra filho de ministro, mas diz que regras vedam indiciamento em crime de menor potencial ofensivo

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Brasília

O inquérito da Polícia Federal que investigou a conduta de brasileiros suspeitos de hostilizar o ministro Alexandre de Moraes em Roma chegou à conclusão de que o empresário Roberto Mantovani Filho cometeu o crime de injúria real contra o filho do integrante do STF (Supremo Tribunal Federal).

Apesar da conclusão, o delegado responsável, Hiroshi de Araújo Sakaki, disse que não indiciou o empresário porque há uma instrução normativa que veda o indiciamento por crime de menor potencial ofensivo, de pena máxima de um ano. As investigações foram encerradas.

A injúria real se caracteriza no Código Penal pelo "emprego de violência ou vias de fato" para ofender a dignidade ou o decoro de alguém.

"São exemplos de injúria real, conforme ensinado pela doutrina, desferir um tapa, empurrar, puxar a roupa ou parte do corpo (puxões de orelha ou de cabelo), arremessar objetos, cuspir em alguém ou em sua direção etc", diz relatório assinado pelo delegado.

Imagem do relatório da Polícia Federal com o suposto tapa do empresário Roberto Mantovani no advogado Alexandre Barci de Moraes, filho do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes
Imagem do relatório da Polícia Federal com o suposto tapa do empresário Roberto Mantovani no advogado Alexandre Barci de Moraes, filho do ministro do STF Alexandre de Moraes - Polícia Federal

O delegado também afirma que para que haja a extraterritorialidade da lei penal —ou seja, para que a lei brasileira se aplique a episódios acontecidos no exterior— o crime deve estar "incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição", o que não é o caso da injúria real.

A confusão aconteceu em julho do ano passado, no Aeroporto de Roma. Segundo o delegado, as imagens mostram que Mantovani se dirigiu "de modo incisivo" a Alexandre Barci de Moraes, filho do ministro, e o "atinge no rosto com a mão direita, causando o deslocamento dos óculos do atingido".

"Observa-se também que, logo após tal contato físico, Alexandre Barci de Moraes revida, empurrando Roberto Mantovani Filho com o braço esquerdo. Em seguida, um homem se coloca entre ambos, apartando o conflito, e Alexandre Barci de Moraes é conduzido para dentro da sala VIP [do aeroporto] por sua irmã", acrescenta.

Moraes acionou a PF após a hostilidade contra ele e sua família na Itália. A polícia instaurou inquérito para apurar as circunstâncias da abordagem e também de uma possível agressão ao filho do ministro.

O episódio mobilizou autoridades pelo país, que prestaram solidariedade ao ministro do Supremo. O presidente Lula (PT) comparou o caso a um ato de "animal selvagem".

A polícia investigava, além de Mantovani e de sua esposa, Andreia Munarão, o genro do empresário, Alex Zanata Bignotto, e seu filho, Giovanni Mantovani.

Na ocasião, o ministro do Supremo e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) relatou ter sido chamado de "bandido, comunista e comprado", segundo informações colhidas pelos investigadores. A família, que vive em Santa Bárbara d'Oeste (SP), sofreu ação de busca e apreensão, ordenada pela então presidente do Supremo, Rosa Weber, quatro dias após a confusão na Itália.

Os defensores dos envolvidos no episódio disseram que não partiu deles a hostilidade contra o magistrado.

Nesta sexta-feira (16), começam julgamentos em plenário virtual de recursos do advogado de Mantovani, Ralph Tórtima, no inquérito. As sessões vão até o dia 23 de fevereiro.

Em nota após a divulgação do relatório da PF, Tórtima afirmou que o delegado se pautou por "análise parcial das imagens, as quais a defesa e o Ministério Público Federal foram impedidos de ter cópia. Inclusive, as autoridades italianas tiraram conclusão diversa da dele".

A PF, diz o advogado, "conclui ao final de seu relatório que o suposto crime de injúria real não está entre aqueles que, quando ocorridos no exterior, podem ser apurados em território brasileiro".

"Ou seja, essa investigação jamais poderia ter existido e essa família não poderia ter sido submetida a tamanhos excessos. Vejo que boa parte da verdade foi esclarecida, faltando apenas aquela que as imagens sonegadas estariam a desnudar. Caberá agora ao Ministério Público Federal a última palavra, que acreditamos seja o arquivamento dessa investigação", afirmou ele.

Em outubro, a Polícia Federal fez uma reconstituição do episódio no inquérito, de acordo com as imagens do circuito interno do aeroporto internacional da capital italiana. A PF disse que Mantovani e sua esposa, Andreia Munarão, aparentemente discutiram e gritaram com o filho de Moraes.

Enquanto Andreia gritava com Barci, dizia a análise da PF, Mantovani "se prostra diante do filho do ministro e em seguida parece desafiá-lo".

"Roberto [Mantovani] parece afrontar e desafiar o filho do ministro, confrontando-lhe, enquanto Andreia, aparentemente, continua a gritar, apontando o dedo indicador para ele ou para alguém próximo", afirmava o documento da PF.

Em seguida, a imagem mostra que Mantovani, mais alto que Barci, "parece se impor" e decide afrontar o filho do ministro "de forma intimidativa, 'peitando-o'". "De repente, Roberto começa a levantar o braço com as costas da mão direita voltadas para Barci", descreve a reconstituição.

"Na sequência, Roberto Mantovani parece bater as costas de sua mão direita no rosto de Alexandre Barci, vindo a atingir os óculos deste e, aparentemente, deslocá-los. Os óculos não chegam a cair no chão devido a uma discreta esquiva da vítima."

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