Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Prefeitura no RJ convocou servidores para evento com Lula, mostram mensagens

Ministério Público vai investigar ponto facultativo decretado em Belford Roxo em dia de visita do presidente

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Rio de Janeiro

A Prefeitura de Belford Roxo (RJ) decretou ponto facultativo na cidade para a visita do presidente Lula (PT) nesta terça-feira (6). Áudios e mensagens de servidores públicos mostram que o prefeito, Waguinho (Republicanos), determinou que o dia não fosse uma folga, mas uma convocação para que todos os funcionários comparecessem à agenda com o chefe do Planalto.

Waguinho é aliado de Lula e foi o coordenador da campanha eleitoral do petista na Baixada Fluminense durante o segundo turno da eleição de 2022.

O presidente foi à cidade para anunciar investimentos na área da saúde e educação e para inaugurar uma escola com o nome de seu neto, Arthur Araújo Lula da Silva, morto aos 9 anos em 2019 após uma infecção generalizada.

Lula abraça Waguinho, que dá um beijo na bochecha do presidente
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o prefeito de Belford Roxo Waguinho, durante anúncio de investimento na saúde e na educação, no centro de Belford Roxo, no estado do Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli/Folhapress

Em uma mensagem que circulou nos grupos de WhatsApp de professores e servidores da educação municipal, uma servidora diz que "todos estão convocados para o dia 6 de fevereiro". No texto, ela acrescenta que é "ordem do prefeito para todos irem".

"Colégio São Bento, Posto Jardim do Ipê, Cras do Wona, as pessoas que vão trabalhar na creche, os meninos da conservação, todos os professores. Todos estão convocados para o dia 06 de fevereiro. Às 10h iremos sair da casa verde para o evento com o Presidente Lula. Será ponto facultativo porém é para todos ir, teremos dois ônibus. Vai ter almoço, água e coca-cola para todos", diz a mensagem. Ela continua:

"Estamos contando com todos, nem eu e nem o prefeito aceitamos desculpas. Ordem do Prefeito para todos irem".

O decreto de ponto facultativo foi feito no final do mês passado e publicado no Diário Oficial da cidade. Nele, a prefeitura justifica a decisão pelo aumento do fluxo de veículos e pelos protocolos de segurança do cerimonial da Presidência.

A prefeitura e a Presidência da República foram procuradas pela reportagem, mas não responderam aos questionamentos até a publicação desta reportagem.

Por causa do ponto facultativo, unidades de saúde e de centro de assistência social ficaram fechadas.

O Ministério Público do Rio informou que abriu uma investigação para apurar se houve improbidade administrativa por omissão pela falta de funcionamento do serviço público.

Presença de todos os funcionários

Em um áudio gravado por professores e funcionários de uma escola municipal em Belford Roxo, duas diretoras da unidade dão orientações sobre o comício, desde como chegarão ao evento, o que vestir e como se portar.

A gravação, feita no dia 1º de fevereiro, foi revelada pelo portal Metrópoles. A Folha também teve acesso ao áudio.

"Todo mundo sabe que terça-feira é ponto facultativo, mas não é ponto facultativo para gente ficar em casa. O objetivo do ponto facultativo foi porque queremos todos nós na inauguração [da escola, evento com o presidente]", diz uma das diretoras.

"Não é um ponto facultativo para emendar, porque segunda é normal. Conclusão, todos nós terça-feira lá. O que vai ser feito? Vai ter a rota do presidente [...] E precisamos de todos. 'Ah, eu não posso ir, eu trabalho de tarde'. Nosso horário, igual foi falado, é de 8 horas e, sendo que uma coisa de emergência, pode passar [do horário]. Porque o dia que a gente precisa, eles também cedem, Então, quer dizer, que hora que vai terminar? Não sabemos", ela completa.

Em outro momento, as diretoras explicam que haverá almoço para os servidores e serão dados materiais como camisas, bonés e faixas.

"Nós vamos distribuir a camisa pra vocês, vai ter almoço, vai ter tudo direitinho", diz. "Nós precisamos obviamente da presença de todos os funcionários".

Em outro momento, elas orientam que os servidores ergam e balancem as faixas durante as vinhetas e músicas tocadas no evento. "Na hora que qualquer pessoa do palanque for falar, abaixa a faixa, porque quem tá lá atrás também quer ver", completa a servidora.

Outra orientação dada no áudio é sobre a cor da roupa que a pessoa deve usar, se ela não conseguir receber as camisas da prefeitura. Uma das diretoras explica que, embora ela vá de vermelho por ser apoiadora do Lula, a cor não é obrigatória.

"Não tem cor, porque hoje o presidente é presidente de todos [...] Não é obrigado ir de vermelho, porque ele não é o presidente do partido mais só. Ele é presidente de todos, independente de cor".

Na orientação dada, as diretoras afirmam ainda que quem quiser pode levar a bandeira do Brasil. Nesse momento, elas fazem uma rápida referência ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

"Pode levar bandeira do Brasil, não tem problema porque nós somos todos brasileiros. Isso daí não é do outro, isso daí é de todos nós".

À Folha uma servidora da educação disse, sob anonimato, que o serviço municipal é usado como voto de cabresto pela prefeitura. Na terça, durante a visita de Lula, uma parte de professores fizeram uma manifestação reclamando do atraso dos salários na cidade.

No entanto, segundo essa servidora, a faixa que eles levavam foi arrancada por homens a mando do governo municipal.

O evento de Lula na cidade aconteceu à tarde, após uma agenda do presidente em Magé, outra cidade da Baixada Fluminense. A maior concentração de pessoas em Belford Roxo se deu em uma praça em frente à prefeitura, onde foi colocado um palco para o petista discursar.

Havia pontos de distribuição de água e de bolinhos no meio do público. Pela cidade, também foram colocados outdoors com a foto de Lula e frases de boas-vindas e agradecimentos.

Waguinho é visto como aliado chave para Lula por ser uma ponte do presidente com a Baixada Fluminense, onde Bolsonaro tem mais força, e com eleitores evangélicos e conservadores. Em Belford Roxo, o ex-presidente teve 60% dos votos contra o petista no segundo turno da eleição.

No evento de terça, Lula afirmou que Waguinho "não teve medo dos negacionistas e dos malucos" e resolveu o apoiar em 2022. Antes disso, porém, o prefeito chegou a fazer parte da base bolsonarista no estado fluminense.

No início do novo mandato de Lula, Waguinho conseguiu emplacar sua mulher, a deputada federal Daniela Carneiro (União Brasil-RJ) como Ministra do Turismo. A parlamentar, porém, foi retirada do cargo após vir à tona relações do casal com a milícia.

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