Descrição de chapéu Itamaraty

Brasil negocia com França acordo para combustível nuclear de submarino, diz Itamaraty

Conversas representam mudança de postura de Paris, já que acordo dos países no âmbito do Prosub prevê transferência de tecnologia só para parte não-nuclear da embarcação

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Brasília

O Itamaraty afirmou nesta sexta-feira (22) que o governo do Brasil está em conversas com a França para que o país europeu coopere inclusive na parte do combustível nuclear do submarino "Álvaro Alberto", em desenvolvimento no âmbito do Prosub (o programa brasileiro de submarinos).

"Com relação ao primeiro ponto [da pergunta], do combustível [do submarino] e da cooperação que a França possa ter nessa área, nós acreditamos que sim, que é uma área em que talvez houvesse uma resistência no passado, mas hoje já há conversas sobre essa possibilidade: de que a França coopere conosco inclusive nesse aspecto à luz da energia nuclear, do combustível nuclear", disse a embaixadora Maria Luisa Escorel de Moraes, Secretária de Europa e América do Norte do Itamaraty.

Submarino Humaitá, de propulsão convencional, uma das embarcações produzidas no âmbito do Prosub - Tércio Teixeira - 12.jan.24/AFP

A declaração foi feita pela embaixadora, em resposta a pergunta da Folha, durante briefing realizado no Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, para detalhar aspectos da visita ao Brasil do presidente da França, Emmanuel Macron, na próxima semana.

"Sim, é um assunto estratégico, sensível, delicado, mas sim: os dois países estão conversando sobre isso também", complementou a diplomata.

O Prosub faz parte de um acordo de parceria estratégica assinado entre França e Brasil em 2008.

Estimado em R$ 40 bilhões em valores atuais, o Prosub prevê a construção de quatro submarinos convencionais (dois dos quais estão prontos) e um submarino convencional movido a propulsão nuclear, batizado de "Álvaro Alberto".

A informação de que os franceses estão dispostos a cooperar inclusive na parte de combustível nuclear da embarcação "Álvaro Alberto" representa uma mudança na postura de Paris, com possíveis implicações geopolíticas. Isso porque o acordo assinado em 2008 com a França previa "apoio francês, no longo prazo, para a concepção e construção da parte não-nuclear do submarino".

Na prática, até agora, foi um auxílio para o design do casco do submarino de propulsão nuclear –mas não a tecnologia para acomodar o reator (que o Brasil sabe fabricar) dentro do casco e fazer com que ele conecte e forneça energia até a propulsão.

A negociação sobre o tema é delicada porque os Estados Unidos se opõem à venda dos equipamentos e transferência de know-how que levem a um cenário em que o Brasil alcance a capacidade de operar submarinos de propulsão nuclear.

A principal diferença entre uma embarcação convencional e outra nuclear é a autonomia e o tempo em que ela pode permanecer submersa —o que dificulta sua detecção. Enquanto os convencionais precisam retornar à superfície periodicamente, praticamente não há limite de tempo para os submarinos nucleares (respeitando apenas as necessidades da própria tripulação).

Hoje, só os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU —Estados Unidos, China, Rússia, França e Reino Unido— e a Índia, que não é signatária do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), detêm essa tecnologia. Todos eles têm bombas atômicas.

Apesar de o submarino de propulsão nuclear ser prioridade do governo brasileiro, o projeto avança lentamente, porque o Brasil precisa de mais know-how e equipamentos da França e porque há inconstância orçamentária.

Em outubro do ano passado, a Folha revelou que o chefe do Estado-Maior da França, brigadeiro Fabien Mandon, havia estado em Brasília no mês anterior para participar de uma reunião com o almirante Petrônio Aguiar, diretor-geral de desenvolvimento nuclear da Marinha. O objetivo era discutir os termos de uma complementação do acordo para a construção do submarino de propulsão nuclear.

Nesse acordo complementar, entre outros temas, o Brasil negocia comprar dos franceses equipamentos para a turbina e o gerador, que usariam a energia gerada pelo reator, e não são fabricados no país.

Macron desembarca em Belém (PA) na próxima terça (26) para uma visita de três dias pelo Brasi.

Acompanhado pelo presidente Lula (PT), ele também passa por Itaguaí (RJ), onde participa de cerimônia de lançamento ao mar do submarino convencional Tonelero, também construído no âmbito do Prosub.

A cerimônia deve acompanhar a submersão do submarino. A embarcação, de acordo com a embaixadora Escorel, será inaugurada pela primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja.

A próxima embarcação de propulsão convencional tem entrega previsa para o próximo ano, de acordo dom a diplomata.

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