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Datafolha: Só Maluf e Pitta venceram em SP com patamar de rejeição semelhante ao de Boulos

Deputado do PSOL é rejeitado por 34%, ante 26% de Nunes, mas aliados minimizam e veem influência da polarização

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São Paulo

A rejeição de 34% de Guilherme Boulos (PSOL) impõe um obstáculo para que ele chegue à Prefeitura de São Paulo superado nas últimas décadas apenas por Paulo Maluf, em 1992, e Celso Pitta, em 1996, segundo dados do Datafolha.

Pesquisas do instituto feitas logo antes do primeiro turno das respectivas eleições mostram que 38% declaravam não votar em Maluf de jeito nenhum. Para Pitta, o índice era de 30%.

Comemorada por partidários do prefeito Ricardo Nunes (MDB), empatado com Boulos na corrida, a rejeição do deputado do PSOL dificilmente diminuirá na visão de alguns dos seus aliados na esquerda, mas tampouco é considerada por eles impeditiva da vitória.

O pré-candidato a prefeito Guilherme Boulos (PSOL) durante plenária, em dezembro de 2023 - Marlene Bergamo - 14.dez.23/Folhapress

Parlamentares do PT e do PSOL lembram que, na véspera do segundo turno de 2022, 46% diziam que jamais votariam no hoje presidente Lula (PT), de acordo com o Datafolha, e ainda assim ele foi eleito (a rejeição de Jair Bolsonaro à época era de 50%).

Na eleição paulistana de 1996, com uma taxa de rejeição que variou de 22% a 30% naquele ano, Pitta venceu Luiza Erundina, mas ela tinha índices ainda maiores —entre 39% e 45% a depender do mês.

Já em 1992, Maluf, cuja taxa negativa era de 27% a 38% ao longo do período eleitoral, derrotou Eduardo Suplicy (PT), que tinha rejeição mais baixa, 31%. Foi a única vez que isso aconteceu.

Em geral, os candidatos que venceram as eleições paulistanas desde então tiveram rejeição abaixo dos 25%, chegando a cerca de 30% só com, além de Pitta e Maluf, Gilberto Kassab (hoje no PSD), em 2008, mas com queda para 21% até antes da eleição, e Bruno Covas (PSDB), em 2020, que também foi a 24% antes do pleito.

Aqueles que perderam no segundo turno, por outro lado, tinham rejeição acima dos 30% e, muitas vezes, até acima dos 40%.

Outra eleição que fugiu desse padrão, além da de Maluf, foi justamente a de 2020, entre Boulos e Covas —ambos tinham taxas semelhantes, 23% e 24%, antes do pleito.

Há quatro anos, a parcela dos que declaravam não votar em Boulos de jeito nenhum variou de 22% a 24%. Neste ciclo eleitoral, no entanto, ele marcou 29% em agosto passado e 34% agora.

Nunes manteve os mesmos 26%, patamar que, segundo a tendência histórica, está dentro de um limite possível entre os que venceram no passado.

Integrantes do PSOL afirmam que, em 2020, a campanha de Boulos não era um alvo prioritário —sua chegada ao segundo turno surpreendeu. Já nesta eleição, como o psolista largou na frente, acaba tendo a rejeição amplificada por críticas dos adversários.

Aliados de Boulos dizem que a rejeição do deputado não assusta e já está precificada —poderia impedir uma vitória por maioria ampla, mas a aposta é a de que o resultado será apertado de qualquer forma.

Parte dos interlocutores do pré-candidato afirma acreditar que a rejeição não vai diminuir e trabalham para ao menos não aumentá-la, mas alguns dizem ser possível melhorar o quadro.

O entorno de Boulos atribui a avaliação negativa a uma série de fatores, como ataques e fake news que seriam perpetrados pela pré-campanha de Nunes e pela máquina do bolsonarismo e também a cristalização da polarização na sociedade.

Nesse sentido, a sólida divisão entre petistas e bolsonaristas faz com que, de início, cerca de um terço do eleitorado descarte o voto em Boulos. Para integrantes da sua equipe, a polarização diminui a parcela de eleitores que é passível de ser conquistada.

Ainda de acordo com aliados de Boulos, ele já teve sua história, inclusive sua liderança no movimento sem-teto, apresentada em outras campanhas e, por mais que seja tão conhecido quanto Nunes segundo o Datafolha, o eleitor ainda não teria a mesma ciência a respeito da trajetória do prefeito.

"O atual prefeito ainda deve ver sua rejeição aumentar bastante à medida que a população conheça sua relação com [Jair] Bolsonaro e as recentes denúncias de corrupção", diz o coordenador da pré-campanha de Boulos, Josué Rocha, que promete trabalhar para rebater mentiras contra o psolista.

"Temos um caminho longo, vamos intensificar para que as coisas sejam esclarecidas e atenuar a imagem que Nunes está tentando atribuir a Boulos", diz o deputado estadual Simão Pedro (PT), para quem há uma tentativa de carimbar o psolista como um invasor radical e ligá-lo ao movimento terrorista Hamas.

Presidente do MDB na capital e secretário municipal, Enrico Misasi diz que a liderança de Boulos no quesito não surpreende. "Boulos segue fazendo o que sempre fez: desconstruindo, destruindo, agredindo, discutindo e atacando."

O professor da FGV George Avelino observa que, a sete meses da eleição, o cenário não está consolidado, mas aponta que a rejeição de Boulos corresponde ao núcleo duro do bolsonarismo, que é engajado politicamente.

"Lula mostrou envolvimento direto na campanha do aliado [ao trazer Marta Suplicy para a vice] e isso estimula o bolsonarismo a rejeitar Boulos", diz. Avelino afirma ainda que a rejeição representa um teto para Boulos e que será uma eleição muito difícil para o psolista.

Por outro lado, o professor observa que Nunes se blinda do desgaste do elo com Bolsonaro, mas ainda passará por um escrutínio maior do eleitor.

"Nunes ainda vai ser vidraça, lugar onde Boulos está agora. Mas o prefeito não é claramente vinculado a Bolsonaro. Está fazendo tudo apenas no limite do necessário para atender a demanda do eleitorado bolsonarista, o que faz com que ele não seja tão rejeitado pelos petistas."

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