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Aldo dá indireta a Lula, e Nunes cita presunção de inocência para defender ato de Bolsonaro

Prefeito empossa novo secretário, busca diluir bolsonarismo ao exaltar vacina, mas mantém defesa de ex-presidente

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São Paulo

O evento de posse de Aldo Rebelo e José Renato Nalini no secretariado de Ricardo Nunes (MDB), nesta segunda-feira (19), teve uma crítica velada do ex-ministro a Lula (PT) e serviu para que o prefeito fizesse uma contraposição com Jair Bolsonaro (PL), seu principal apoiador. Ao mesmo tempo, porém, Nunes defendeu a manifestação convocada pelo ex-presidente, da qual ele participará.

Na cerimônia na prefeitura, Aldo, que é ex-ministro de governos petistas e ex-deputado, discursou a respeito do papel do Brasil nos conflitos mundiais, numa espécie de recado a Lula, envolto em uma crise diplomática após comparar a ofensiva militar de Israel em Gaza ao Holocausto.

"O Brasil está vocacionado ao caminho da conciliação e do entendimento. [...] O Brasil tem que ser sempre o caminho da solução, o Brasil não pode ser parte do problema", disse, mencionando os conflitos EUA versus China, Rússia versus Ucrânia e árabes versus judeus. Nesse momento, a plateia o aplaudiu.

Aldo assumiu a Secretaria de Relações Internacionais após a demissão de Marta Suplicy (PT), que será vice de Guilherme Boulos (PSOL), enquanto Nalini ocupa a Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas.

Aldo Rebelo durante posse na Secretaria de Relações Internacionais - Danilo Verpa/Folhapress

Questionado pela imprensa sobre sua fala ser voltada à declaração do presidente Lula sobre Israel, ele respondeu que deu sua opinião sobre o assunto no discurso.

"Eu não vou aqui fazer avaliação das falas do presidente Lula, porque ele tem o Itamaraty para falar por ele. Ele tem a imprensa para fazer a apreciação crítica das falas. [...] Então, Lula é responsável pelo que diz", respondeu.

Como mostrou a Folha, a entrada de Aldo na gestão Nunes reconfigura o secretariado com vistas à eleição municipal e ajuda o prefeito a acenar ao bolsonarismo e sinalizar amplitude em seu arco de apoiadores.

Nunes, por sua vez, aproveitou o evento e seu discurso para calibrar sua associação com o bolsonarismo, depois de ter declarado que vai ao ato em defesa de Bolsonaro e ter sido alvo dos adversários e até de aliados, que não concordam com sua presença no palanque do ex-presidente.

A manifestação marcada para o próximo domingo (25), na avenida Paulista, é uma resposta de Bolsonaro à ação da Polícia Federal que investiga um plano golpista.

Em seguida, no entanto, questionado por jornalistas, Nunes voltou a sair em defesa do ex-presidente. "Todos são inocentes até que sejam julgados. A gente precisa verdadeiramente ser democrata. A presunção da inocência está prevista na Constituição."

"O que eu escutei do vídeo dele [Bolsonaro] é que ele está fazendo um evento, uma manifestação pública, que é um ato da democracia", disse o prefeito.

"Uma manifestação é um ato da democracia. Quando você tem alguém que vai a uma manifestação para apresentar uma defesa, uma versão, apresentar à população aquilo que ele acha que é importante, desde que seja pacífica, desde que, como a gente tem visto, não seja para atacar ninguém, seja para fazer o exercício da sua cidadania como um cidadão democrático, acho que é válido. [...] Como vocês conseguem achar problema nisso?", questionou.

Rodrigo Garcia, Michel Temer, Ricardo Nunes e Gilberto Kassab no evento de posse - Danilo Verpa/Folhapress

Líderes do MDB, incluindo o ex-presidente Michel Temer, marcaram presença em peso na posse, além de políticos de partidos diversos, o que deu à cerimônia o ar de frente ampla que Nunes busca para diluir Bolsonaro. Também estavam presentes bolsonaristas, como Fabio Wajngarten.

"Nos tornamos a capital mundial da vacina", discursou o prefeito, afirmando que não deixou faltar oxigênio ou outros insumos na pandemia —uma contraposição a Bolsonaro. "Aqui a gente não prega ódio, a gente prega resultado e cuidar das pessoas", emendou.

Como noticiou a coluna Painel, a pré-campanha de reeleição do prefeito vai se ancorar no MDB e na defesa da vacina para se diferenciar de Bolsonaro.

Nunes também alfinetou Boulos ao dizer, por exemplo, que veio da periferia e não se mudou para lá por oportunismo eleitoral. "As pessoas sabem que podem investir porque nós temos segurança jurídica, nós respeitamos a lei", disse também em crítica ao psolista.

Questionado sobre o evento representar uma atenuação da sua aliança com Bolsonaro, Nunes negou e disse que suas falas e a de aliados apenas ressaltaram sua história de vida.

"Não estou preocupado [em ir] para a direita ou para a esquerda, estou preocupado em cuidar das pessoas. A escolha do Renato Nalini e do Aldo Rebelo mostra isso. A gente não está preocupado com essas questões ideológicas, mas sim em reforçar o nosso time", respondeu.

Ao ser questionado se sua presença no ato não o classifica como bolsonarista, Nunes disse que "carimbo é só papel", que tem um histórico de posições e que "tem uma forma de viver e de pensar verdadeiramente democrática". "Basta olhar meu governo", emendou. Ele afirmou ainda que, como prefeito, libera uma série de manifestações da esquerda.

Questionado, contudo, se apoia Bolsonaro, Nunes respondeu: "não sou advogado, quem defende o presidente Bolsonaro é o advogado dele".

Nunes disse não ter discutido se vai discursar na manifestação, mas afirmou não ter a pretensão de fazê-lo. Já Aldo, indagado se irá ao ato, respondeu: "fazer o quê [lá]?" e sorriu. Depois emendou: "não fui convidado". O agora secretário voltou a dizer que uma reunião preparatória de golpe não seria gravada, como foi a de Bolsonaro.

Em seus discursos, os emedebistas exaltaram o partido, defenderam a reeleição de Nunes e fugiram da polarização nacional. A pré-campanha do prefeito colocou como estratégia inverter a crítica de que "Nunes apoia Bolsonaro" para "Bolsonaro é quem apoia Nunes".

Temer, por exemplo, afirmou que os "conceitos de direita e esquerda estão superados". O ex-presidente chamou Nunes de "prefeito de hoje e prefeito de amanhã".

Já o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), afirmou que "São Paulo não é da esquerda nem da direita" e disse ter sido reeleito ao mostrar que não governa para os extremos.

Entre as autoridades presentes estavam o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI); o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP); o ex-governador Rodrigo Garcia (PSDB); os deputados federais Paulo Bilynskyj (PL-SP), Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) e Paulinho da Força (Solidariedade-SP); os secretários estaduais Gilberto Kassab (PSD) e Sonaira Fernandes (Republicanos); os governadores Barbalho e Paulo Dantas (MDB-AL); os ex-ministro Celso Lafer e Moreira Franco; o cardeal dom Odilo Scherer; além dos demais secretários municipais e vereadores.

No vídeo institucional da prefeitura sobre Aldo, foi mencionado seu bom trânsito entre políticos de esquerda e direita. Foi ressaltado que ele deu voz de prisão a um grupo sem-terra que invadiu a Câmara e que ele venceu o movimento "Não vai ter Copa", mas sem menção a Boulos. "Agora, Aldo volta a integrar uma frente ampla democrática", disse a narração.

Ex-ministro dos governos Lula e Dilma Rousseff (PT) e ex-deputado federal (1991-2015), Aldo militou no PC do B e hoje é filiado ao PDT, mas pediu licença do partido para integrar a gestão do emedebista, já que a legenda apoia Boulos.

Ao mesmo tempo, Aldo tem boa relação com Bolsonaro e atualmente tem a simpatia dos bolsonaristas por defender bandeiras nacionalistas, a defesa da Amazônia e ter boa interlocução com os militares.

Aldo foi autor da lei que declarou o dia 20 de novembro como data de homenagem a Zumbi dos Palmares e foi relator do Código Florestal.

Em um sinal da aproximação entre Aldo e Bolsonaro, o ex-presidente publicou neste sábado (17) um trecho de uma entrevista em que o ex-ministro diz que não se pode "atribuir nenhum tipo de seriedade" à tentativa de golpe que a PF aponta.

Em seu discurso, Nalini afirmou que Nunes foi pioneiro em criar uma pasta para Mudanças Climáticas e que o estado atual é de emergência climática no mundo.

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