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Governo Lula põe Ratinho no topo de propaganda e repete o que criticou sob Bolsonaro

Paulo Pimenta, atual ministro da Secom, citou Goebbels em 2020 por anúncios de Bolsonaro no mesmo programa

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Brasília

O governo Lula (PT) veiculou no ano passado anúncios publicitários de ao menos R$ 3,6 milhões durante o programa de Carlos Roberto Massa, o Ratinho, do SBT.

A cifra é a maior distribuída em 2023 para as atrações de auditórios, à frente do Domingão com Huck, que recebeu propagandas superiores a R$ 2,4 milhões, Encontro (R$ 2,1 milhões), Silvio Santos (R$ 1,8 milhão) e Hora do Faro (R$ 1,4 milhão).

Lula (PT), então candidato a presidente, durante entrevista ao apresentador Ratinho - 22.set.22/Reprodução

Em 2020, ao compartilhar nas redes sociais texto sobre propaganda do governo Jair Bolsonaro no Ratinho, o atual chefe da Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência, ministro Paulo Pimenta (PT-RS), escreveu que "Goebbels morreria de inveja" —em uma referência a Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista.

Em outra publicação do mesmo ano, Pimenta chamou de "mamatinha" o valor pago pela gestão Bolsonaro a Ratinho para divulgar a reforma da Previdência.

"Eu tenho uma opinião pessoal sobre isso. Agora, eu estou aqui na condição de Secom. Isso é uma relação institucional. O que eu gosto ou não gosto das pessoas não pode interferir na decisão institucional da aplicação do recurso público", disse o ministro à Folha sobre as críticas do passado.

Pimenta afirmou que a propaganda no Ratinho se justifica por causa do alcance do programa.

"Quem propõe plano de mídia são as agências. Por exemplo, a campanha de recadastramento do Bolsa Família. Qual é o público que eu quero atingir? É o público do C, D e E, eu não vou botar na GloboNews. Entre os programas de auditório, [Ratinho] é o que tem maior audiência nesse público", afirmou.

O ministro também disse que retirou verba da Jovem Pan por informações falsas disseminadas pela emissora, mas manteve anúncios no Ratinho por não existir investigação sobre golpismo relacionado à atração do SBT.

"Não tem inquérito de divulgação de fake news nem de conteúdo antidemocrático. Quem tem inquérito é a Jovem Pan", afirmou Pimenta.

Ratinho acumula declarações preconceituosas e atritos com a esquerda.

Procurados pela reportagem, SBT e Ratinho não quiseram se manifestar sobre as campanhas do governo e declarações do apresentador.

Do total recebido pelo Programa do Ratinho, ao menos R$ 280 mil foram destinados para ações de merchandising, que é quando o próprio apresentador lê a propaganda. Em abril de 2023, Ratinho leu um texto da campanha "O Brasil voltou", de 100 dias do governo petista, por exemplo.

O valor de publicidade no Ratinho considera campanhas da Secom e do Ministério da Saúde de 2023 e pode sofrer alterações até a etapa final de liquidação e pagamento feito pelo governo. A verba foi direcionada ao canal nacional do SBT e para redes locais.

Bancos públicos e estatais, como a Petrobras, não divulgam a destinação dos gastos com propaganda.

O programa do Ratinho recebeu mais verba sob Bolsonaro. Apenas em 2022 foram desembolsados R$ 11,8 milhões.

Pai do governador Ratinho Jr. (PSD), do Paraná, o apresentador se alinhou a Bolsonaro, mas foi próximo de Lula em gestões passadas do petista.

Na campanha de 2022, Lula chegou a lembrar que tomou uma "cachacinha" com Ratinho no passado, em resposta dada durante entrevista ao apresentador.

Ratinho fez comentários machistas e sugeriu, em 2021, que a deputada federal Natália Bonavides (PT-RN) fosse metralhada.

"Natália, você não tem o que fazer?", perguntou o apresentador, ao vivo, ao citar de forma distorcida uma proposta da parlamentar. A sugestão que se tornou alvo de Ratinho era utilizar a expressão "declaro firmado o casamento" em uniões civis em vez de citar "marido e mulher", para evitar constrangimentos a casais homoafetivos.

"Vai lavar roupa, costurar a ‘carça’ do seu marido, a cueca dele. Isso é uma imbecilidade, querer mudar esse tipo de coisa", disse. "Tinha que eliminar esses loucos. Não dá para pegar uma metralhadora?", declarou ainda o apresentador.

Pimenta criticou os ataques à deputada. "Ratinho é covarde, violento e nojento", escreveu à época, quando o atual chefe da Secom também exercia o mandato de deputado federal.

Em junho de 2023, cerca de dois meses após divulgar a campanha de 100 dias do governo, Ratinho foi criticado por declarações contrárias aos participantes da Parada do Orgulho LGBT+.

"Vai lá no sambódromo. Lá você fica pelado, faz o que você quiser. Deixa a avenida Paulista para as famílias, que querem ir lá brincar com as crianças. Faz a Parada Gay lá no diabo do sambódromo, que lá pode fazer o que vocês querem", disse o apresentador.

"Na minha opinião, a Parada Gay é o Carnaval dos viados e sapatões", disse Ratinho durante o seu programa.

Além do merchandising de 100 dias do governo, o programa do Ratinho também recebeu anúncios federais das campanhas de vacinação e contra fake news, entre outras.

O governo Lula aprovou anúncios de cerca de R$ 2 milhões em merchandising, segundo os dados da Secom, principalmente para campanhas do Novo PAC, Plano Safra, 100 dias do governo e do Desenrola Brasil.

O programa que mais recebeu verba para este formato de publicidade foi a edição paulista do Cidade Alerta, da Record, cerca de R$ 410 mil. O governo ainda direcionou ao menos R$ 237 mil para merchandising no Brasil Urgente, apresentado por José Luiz Datena na Band.

"Critérios são de técnicos, que refletem a audiência, o objetivo das campanhas, o plano de mídia proposto pelas agências para atender um determinado objetivo. Então, toda distribuição se dá a partir de critérios técnicos, objetivos, de alcance, de mídia e assim por diante", disse Pimenta sobre a partilha da verba.

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