Lula minimiza embate com Congresso, refuta 'eterna briga' e nega reforma ministerial

Presidente cita embates recentes como 'coisas da política', mas se nega a revelar saldo de conversa com Lira

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Brasília

O presidente Lula (PT) afirmou, em café com jornalistas nesta terça-feira (23), que não há crise com o Congresso Nacional, mesmo após uma série de embates que mobilizou seu governo nos últimos dias. Ele minimizou problemas de articulação com o Legislativo e tratou dos episódios recentes como "coisas normais da política".

"A gente não vai viver em uma eterna briga. Porque se você optar pela briga não aprova nada. O país é prejudicado, vamos conviver com todo mundo", afirmou Lula, que no dia anterior havia cobrado seus ministros para reforçar a articulação política.

Parte dessas movimentações foi a iniciativa de o próprio presidente procurar encontros com os presidentes de Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

A conversa com Pacheco ainda não aconteceu, mas Lula já esteve com Lira. O presidente se recusou, no entanto, a relatar os termos tratados no encontro ocorrido na noite de domingo (21). Segundo ele, foi uma "conversa", e não uma "reunião", do contrário teria levado seus líderes do Congresso.

"Como é conversa entre dois seres humanos, eu peço a vocês que não sou obrigado a dizer a conversa que eu tive com Lira", afirmou no café da manhã no Palácio do Planalto.

O presidente Lula, durante café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto - Gabriela Biló/Folhapress

Ao ser questionado sobre a relação do governo e dele próprio com o presidente da Câmara, Lula minimizou os embates recentes.

"Eu sinceramente não acho que a gente tenha problema no Congresso. A gente tem situações que são as coisas normais da política. Vamos só lembrar um número. Nós temos 513 deputados, e meu partido só tem 70. Nós temos 81 senadores, e o meu partido só tem 9", afirmou o presidente, comentando que seu governo não tem maioria no Legislativo.

Desde que Lula tomou posse, a relação entre o governo e Lira foi marcada por altos e baixos, com alguns momentos de distensão.

A crise mais recente teve início após a decisão da Câmara de manter a prisão do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco. Apontado como um dos derrotados durante o episódio, Lira disparou contra o Planalto, em particular contra Alexandre Padilha (Relações Institucionais).

Em entrevista, afirmou que o ministro era um "desafeto" e um "incompetente". Lula saiu em defesa de Padilha, mas intensificou o trabalho para melhorar a articulação com o Congresso.

Assim, Lula voltou a mobilizar seu entorno. Convocou para um almoço de emergência, no Planalto, ministros palacianos e líderes do governo na sexta (19).

Na segunda-feira (22), Lula fez uma cobrança pública a ministros. Pediu que o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), seja "mais ágil". Também falou ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deixar de ler livro e passar mais tempo discutindo com parlamentares.

O governo também vive um momento delicado com o risco de avanço da pauta-bomba, que pode ter impacto bilionário para as contas públicas. O principal item é a PEC (proposta de emenda à Constituição) que turbina salários de juízes e promotores e, no texto aprovado na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, foram incluídas novas categorias.

A chamada PEC do Quinquênio é capitaneada por Pacheco. Como a Folha mostrou, ele não abre mão de avançar com o tema, mas admite desidratar o texto e manter os benefícios apenas a juízes e promotores.

Lula espera um encontro com Pacheco em breve. O mandatário disse que tentou no fim da semana passado, mas soube que o senador estava em fase de recuperação, após ter tomado uma vacina.

O presidente também foi questionado sobre a presença recente no Congresso do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que capitaneou o impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Para ele, a volta de Cunha à Câmara é normal uma vez que ele não está preso e tem uma filha deputada. "O que eu acho anormal é [se] ele tiver tendo influência política nas decisões do Congresso Nacional, que eu não acredito. Que eu não acredito, ele tentou ser candidato à reeleição, teve uma votação pífia, vergonhosa, sabe, então eu acho que ele tem que saber que o poder que ele tinha, ele jogou no lixo", completou.

APROVAÇÃO NAS PESQUISAS

O presidente também minimizou a queda na aprovação das pesquisas. Mas, ao comentar isso, afirmou não ter esquecido do preço "da cervejinha e da picanha", promessa de campanha.

Pesquisa Datafolha divulgada em 21 de março mostrou que a aprovação da gestão Lula empatou tecnicamente com a sua rejeição: 35% a 33%. Em dezembro, o placar estava em 38% a 30% —a margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

"Tudo isso vai acontecer, no momento que as coisas começaram a acontecer, o povo vai fazer avaliação correta", disse. "Podem não gostar de um presidente, mas vão gostar das políticas que estão sendo colocadas em prática nesse país, isso também já aconteceu no Brasil. Não tenho nesse instante preocupação [com pesquisas de aprovação]", disse.

"Pensa que esqueci da cervejinha e da picanha? Não esqueci. Preço da carne já baixou, mas tem que baixar mais, muito mais. Ou abaixa preço da comida ou sobe salário do povo."

REFORMA MINISTERIAL

Lula também negou que vá realizar uma reforma ministerial em breve, apesar de interlocutores apontarem o contrário. "Não existe reforma ministerial neste instante. Única coisa na minha cabeça é que esse país tem que dar certo porque o povo brasileiro precisa disso", afirmou.

O café de Lula com jornalistas nesta terça foi o primeiro deste ano. Em 2023, foram 4, dos quais a Folha participou de 3.

Diferentemente dos outros cafés, o encontro com os jornalistas desta vez foi transmitido ao vivo pelos canais oficiais do governo. A decisão foi tomada em cima da hora, uma vez que os participantes haviam sido informados de que o encontro era fechado. Assim como nos outros cafés, o ministro Paulo Pimenta fez uma introdução no início e, em seguida, foram abertas para perguntas de jornalistas selecionados pela equipe do presidente.

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