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Lula filia Anielle, troca afagos com Paes e rebate crítica no Rio

Presidente participa de eventos e diz que ministra não tem pretensão de disputar cargo em 2024

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Rio de Janeiro e Salvador

O presidente Lula (PT) trocou afagos com o prefeito Eduardo Paes (PSD) e participou da filiação da ministra Anielle Franco (Igualdade Racial) ao PT em eventos nesta terça-feira (2) no Rio de Janeiro.

O presidente, no entanto, esfriou a pressão da ala da sigla que defende a indicação de Anielle para a vice na chapa do prefeito Eduardo Paes (PSD), pré-candidato à reeleição. O nome da ministra é defendido pela primeira-dama Janja, mas não conta com apoio no PT-RJ.

"A Anielle tem uma coisa nova. É jovem e ela pode construir uma perspectiva muito importante no estado do Rio de Janeiro. Tenho certeza que ela não tem nenhuma pretensão de disputar nenhum cargo em 2024. Ela quer ser ministra até 2026", disse ele à noite, em evento no Circo Voador.

Anielle Franco e Lula em cerimônia de filiação da ministra ao PT, no Rio - Mauro Pimentel/AFP

Paes quer indicar o deputado Pedro Paulo (PSD), seu braço-direito, como vice da chapa. O prefeito avalia que um vice do PT pode nacionalizar a campanha, que terá como o principal adversário o deputado Alexandre Ramagem (PL), ex-diretor da Abin na gestão Jair Bolsonaro (PL) e fortemente ligado ao ex-presidente.

Reforça a leitura o fato de Paes pretender disputar o governo estadual em 2026, motivo pelo qual sua vaga à vice é visada politicamente.

Em seu discurso, Anielle não comentou planos políticos futuros. Recordou seu passado como apoiadora do PT e a irmã, a vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada em 2018.

"Minha trajetória não começou no 14 março [dia do homicídio de Marielle], nem no dia 10 janeiro [quando tomou posse como ministra]. Ela se forja na favela da Maré, quando ainda muito nova minha mãe me protegia de receber bala perdida", disse ela.

"Chego aqui também por Marielle Franco. Não pela covardia e brutalidade que fizeram com ela. Mas pelo que significa, pelo que ela me ensinou, pelo que ela é."

Mais cedo, na inauguração do Impa Tech, primeiro curso de graduação do Impa (Instituto de Matemática Pura Aplicada), especializado em tecnologia e inovação no Rio, o presidente exaltou projetos de seu governo na área da educação e rebateu críticas de que está "fazendo o mesmo" em seu terceiro mandato como presidente da República.

"Tem gente que fala assim: 'ah, mas o Lula está fazendo o mesmo'. Quisera Deus que eu tenha saúde para fazer o mesmo. Mais escola de qualidade, mais escola de tempo integral, mais Pé de Meia, mais escolas técnicas, mais ciência e tecnologia", afirmou.

A um público formado por estudantes, Lula defendeu mais investimentos em educação superior. "O gol de bicicleta é o mais bonito do futebol. Leônidas da Silva, em 1932, jogando pelo Bonsucesso do Rio de Janeiro, marcou o primeiro gol de bicicleta que se tem notícia. Hoje, estamos marcando um gol de bicicleta no Rio de Janeiro criando a faculdade de matemática", disse.

"O momento que estamos vivendo é um momento delicado na história do Brasil. Eu tenho 78 anos e não conheci nenhum momento de negacionismo, de mentira, de ódio, de fake news como a gente vive hoje. Se a gente não investir na educação, a gente está dando de graça aos negacionistas, ao crime organizado, os nossos jovens."

Lula enfrenta um momento de queda da aprovação de seu governo e tem sido alvo de críticas por priorizar a retomada de programas de seus dois primeiros mandatos, entre 2003 e 2010.

Há duas semanas, ele cobrou seus ministros que saiam em defesa do governo federal, pediu transversalidade para rebater críticas, mais viagens e maior presença nas redes sociais.

Durante o evento, o presidente mostrou sintonia com o aliado Eduardo Paes. No final do ato, ao ser saudado pelos estudantes, chamou Paes para o seu lado, segurou a mão do prefeito e a ergueu.

Lula e Paes em evento no Rio - Mauro Pimentel/AFP

No palco da solenidade, estiveram dois dos cotados para a vaga de vice na chapa de Paes nas eleições de outubro: Pedro Paulo e Anielle Franco.

A disputa acirrada pela vaga de vice-prefeito acontece pela possibilidade de Paes concorrer ao governo estadual nas eleições de 2026, deixando o município sob o comando do vice se vencer a reeleição. O PT tenta emplacar um nome para a chapa, mas o desejo do entorno do prefeito é ter um vice do próprio PSD.

Em 2012, o PT apoiou Eduardo Paes, então no PMDB, e emplacou Adilson Pires como vice-prefeito. Na eleição seguinte, em 2016, Pedro Paulo foi o candidato para suceder Paes, mas nem sequer chegou ao segundo turno, em campanha que naufragou devido à acusação de violência contra a então esposa. O parlamentar acabou absolvido em ação sobre o caso no STF (Supremo Tribunal Federal).

Lula e Paes trocaram elogios como já haviam feito em fevereiro, quando o presidente esteve no Rio para inaugurar um terminal de integração de transportes. Durante discurso nesta terça, Paes afirmou que até 2025 quase 40 mil pessoas deverão morar na região portuária do Rio.

"Isso o que a gente vê hoje no Porto Maravilha começou lá atrás com a derrubada da Perimetral, e o presidente Lula estava ao nosso lado. Essa é a diferença de ter um presidente que faz e olha pelo Rio de Janeiro", afirmou Paes.

Também nesta terça o presidente participou da cerimônia de início das obras de dragagem em canal portuário em Niterói ao lado do governador Cláudio Castro (PL), um dos principais aliados de Bolsonaro no Rio.

Ao ser anunciado, Castro foi vaiado pela plateia, formada majoritariamente por sindicalistas e trabalhadores do setor naval.

Em discurso ao lado de Castro, o presidente afirmou que o Rio de Janeiro "não pode aparecer nos jornais somente nas páginas policiais", citou a presença das milícias no estado e defendeu investimentos na indústria naval. Sem fazer referências a Bolsonaro, disse ter recebido o país "desmontado".

O evento também teve a presença do presidente da Embratur, Marcelo Freixo, e o secretário-executivo do município de Niterói, Rodrigo Neves, ambos adversários derrotados por Castro na eleição de 2022.

Financiado pelos ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e, o Impa Tech foi inaugurado na zona portuária, em um galpão batizado pela prefeitura de Porto Maravalley.

O nome é uma derivação do Porto Maravilha, projeto de habitação e revitalização iniciado em 2011, na segunda gestão de Paes. O Porto Maravilha não avançou como o esperado por impasses nos repasses da Caixa Econômica Federal para a prefeitura.

As obras no galpão onde vai funcionar o Porto Maravalley começaram em novembro de 2022, com investimentos iniciais de R$ 30 milhões do caixa da prefeitura. Depois de pronto, uma associação de empresas será responsável por gerir e manter o espaço.

A graduação do Impa Tech terá custo de R$ 55,9 milhões em quatro anos, e espera atender até 400 estudantes de forma gratuita. O curso terá duração de quatro anos, com duas etapas. Na primeira, os estudantes serão matriculados em um ciclo básico de um ano e meio. Depois, poderão escolher entre quatro ênfases, matemática, ciência da computação, ciência de dados e física.

O processo seletivo para a primeira turma do Impa Tech destinou 80% das vagas para estudantes com os melhores desempenhos em diferentes olimpíadas do conhecimento, como a Olimpíada Brasileira de Matemática e a Olimpíada Brasileira de Física.

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