Descrição de chapéu operação lava jato

Processo sobre empresa alvo da Lava Jato que admitiu propina no exterior trava no Brasil

Ação penal foi interrompida para definir qual setor da Justiça deverá julgar o caso

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São Paulo

A empresa comercializadora de petróleo Trafigura confessou nos EUA ter pago subornos no Brasil, mas o processo da Operação Lava Jato que envolve os ex-executivos da companhia está parado aguardando uma definição sobre qual setor da Justiça deverá julgar o caso.

A causa criminal começou em 2018 sob a acusação da prática de "crimes de corrupção e lavagem de ativos praticados para beneficiar a Trafigura em operações de compra e venda de óleo combustível realizadas com a Petrobras no mercado internacional".

Os ex-executivos da Trafigura Marcio Pinto de Magalhães e Mariano Marcondes Ferraz são réus na ação penal. Os dois foram acusados de oferecer vantagens indevidas ao ex-gerente da Petrobras Marcus Antonio Pacheco Alcoforado, também acusado no processo. Ferraz firmou um acordo de colaboração na operação.

Logo na sede da Trafigura na Suíça - Denis Balibouse - 11.mar.12/Reuters

Em maio de 2022, o juiz federal Luiz Antonio Bonat, que sucedeu Sergio Moro em Vara Federal de Curitiba, interrompeu o andamento do caso porque o STJ (Superior Tribunal de Justiça) havia enviado à Justiça Federal outras causas que aparentemente resultaram de uma linha investigativa semelhante à do processo da Trafigura. O magistrado pediu então que as partes se manifestassem sobre o tema.

Mais de um ano depois, em outubro de 2023, outro juiz federal que atuou na causa, Fábio Nunes de Martinho, pediu que o Ministério Público se posicionasse sobre outros temas.

Um deles era "eventual reflexo nessa ação penal da decisão proferida pelo STF [Supremo Tribunal Federal] que anulou as provas obtidas pelo acordo de leniência da Odebrecht", especialmente aquelas relacionadas aos supostos sistemas eletrônicos usados na contabilidade ilegal da empreiteira.

O outro assunto era a eventual repercussão da Operação Spoofing na causa, com "possíveis nulidades processuais, além da sustentada incompetência deste juízo".

A Spoofing recolheu arquivos hackeados de celulares de autoridades e foi deflagrada em 2019 pela PF após o vazamento de mensagens de autoridades da Lava Jato, que mostrou proximidade entre o então juiz Moro e os investigadores.

Em novembro passado, o Ministério Público se manifestou em favor do prosseguimento da ação no Paraná, mas ainda não houve decisão judicial sobre o tema.

Nos Estados Unidos, a empresa firmou um acordo com o Departamento de Justiça em um tribunal federal em Miami na quinta-feira (28), no valor de cerca de US$ 127 milhões (R$ 635 milhões).

A trading de petróleo se declarou culpada de uma década de subornos no Brasil. "Estes incidentes históricos não refletem os valores da Trafigura nem a conduta que esperamos de cada funcionário. Eles são particularmente decepcionantes, dados os nossos esforços sustentados ao longo de muitos anos para incorporar uma cultura de conduta responsável", disse o CEO, Jeremy Weir, em comunicado.

Rivais da Trafigura, as empresas Vitol e Glencore, já haviam admitido que pagaram subornos no Brasil e firmaram compromisso para resolver investigações de corrupção mais amplas.

Rodrigo Berkowitz, ex-operador da Petrobras, se declarou culpado nos EUA, em 2019, de acusações de que recebeu subornos de várias tradings e concordou em cooperar com os investigadores.

Em 2020, a Trafigura também se tornou alvo de uma ação civil pública do Ministério Público Federal no Paraná sobre suposto favorecimento ilícito. À época, a companhia disse que as acusações "não foram apoiadas por evidências".

A Trafigura revelou a investigação nos EUA em dezembro, dizendo que seria resolvida "em breve" e que havia feito uma provisão de US$ 127 milhões. A trading enfrenta também um caso separado na Suíça, onde a empresa e um de seus principais executivos de longa data foram acusados de suborno de funcionários públicos em Angola.

OUTRO LADO

A Folha procurou as defesas dos ex-executivos da Trafigura e do ex-gerente da Petrobras acusados na ação penal aberta no Paraná.

A defesa de Márcio Pinto de Magalhães disse reafirmar a inocência dele, "amplamente comprovada pelo conjunto probatório dos autos processuais".

"O Sr. Márcio foi vítima da atuação persecutória no contexto da Operação Lava Jato, inclusive já tendo ocorrido o reconhecimento e anulação, pelo Supremo Tribunal Federal, de parte das ilegalidades pelas quais foi atingido."

O advogado Carlos Eduardo Machado, que defende Mariano Marcondes Ferraz, disse que os emails juntados aos autos mostram que funcionários da Petrobras pressionaram a Trafigura a fazer pagamentos, sob pena de não realizar negócios com a Petrobras.

Machado também disse que o cliente dele sempre defendeu a realização de acordos de colaboração com as autoridades do Brasil e do exterior.

O defensor de Marcus Alcoforado, Leandro Raca, disse que seu cliente é inocente e "a acusação tem por base emails que ele desconhecia, trocados por terceiros e obtidos por decisão nula". "O processo está contaminado por parcerias ilegais com autoridades estrangeiras e colaborações premiadas mentirosas. Portanto, não temos dúvida de que ele será absolvido."

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