Descrição de chapéu Polícia Federal Governo Lula

PF pagou segurança para diretor-geral em Londres após negar gasto público

Instituição omitiu informação ao responder a questionamento sobre evento, que também reuniu ministros do STF

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Brasília

A Polícia Federal pagou as diárias de um segurança que acompanhou o diretor-geral da instituição, Andrei Rodrigues, em viagem a Londres, no Reino Unido, em abril.

Ele recebeu R$ 9,5 mil dos cofres públicos. As informações são do Siga, sistema do Senado Federal com todos os dados de pagamento do governo federal. A diária para o Reino Unido varia de US$ 350 a US$ 460.

Depois do evento, quando questionada sobre os custos para os cofres públicos da participação de Andrei no 1º Fórum Jurídico Brasil de Ideias, a PF disse que as despesas foram custeadas pela organização do evento no Reino Unido e que o convite para a viagem foi feito pelo site Consultor Jurídico.

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O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, na coletiva de imprensa sobre a prisão de suspeitos da morte da vereadora Marielle Franco. - Ueslei Marcelino -24.mar.2024/ Reuters

"A viagem foi sem ônus para União, tendo a organização do evento custeado passagem, em voo comercial, e hospedagem –no The Peninsula", afirmou a PF na ocasião.

Questionada após a descoberta do gasto, a PF informou que "houve acompanhamento de seguranças, atividade que gerou despesas conforme legislação em vigor".

A PF apontou ainda que, além de participar do Fórum, Andrei compareceu a uma reunião com o comissário-geral da polícia londrina, Peter O'Doherty. "Na ocasião, foram tratados temas como o intercâmbio de policiais em áreas de interesse de ambas as instituições, entre outros assuntos."

O Grupo Voto, presidido pela cientista política Karim Miskulin, organizou o fórum. Em 2022, às vésperas da campanha eleitoral, ele promoveu almoço de Jair Bolsonaro (PL) com 135 empresárias e executivas no Palácio Tangará, em São Paulo.

Também participaram do evento em Londres os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Alexandre de Moraes, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, e os ministros do governo Lula (PT) Ricardo Lewandowski (Justiça) e Jorge Messias (Advocacia-Geral da União).

Prédio cinza de hotel com pessoa caminhando no centro
Fachada de hotel onde ocorreu o 1º Fórum Jurídico Brasil de Ideias em Londres - Vandson Lima - 25.abr.2024/Folhapress

Empresas com ações nos tribunais superiores bancaram palestrantes ou patrocinaram o evento. Entre elas, estão a indústria de cigarros BAT Brasil (British American Tobacco) —antiga Souza Cruz— e o Banco Master.

Jornalistas foram impedidos de acompanhar o fórum, que teve no total a participação de ao menos dez autoridades do Judiciário brasileiro. Na entrada do evento, Gilmar afirmou não saber da proibição à imprensa. "Isso não nos foi informado. Eu não sabia, vou me informar."

Como mostrou a Folha, não foi permitido à imprensa, inclusive, permanecer no mesmo andar em que o evento ocorreu, no luxuoso Hotel Peninsula, ao lado do Hyde Park, cartão postal de Londres, e cujas diárias custam acima de £ 900 (cerca de R$ 5.800).

1º Fórum Jurídico de Ideias

  • O que foi?

    Fórum de debate sobre o papel do Judiciário na democracia, mecanismos de aprimoramento do processo eleitoral, segurança jurídica para atração de investimentos e impacto da inteligência artificial nas eleições

  • Quando foi?

    24 a 26 de abril

  • Onde foi?

    Londres

  • Quem foi ao evento?

    Os ministros do STF Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes e Dias Toffoli; o procurador-geral da República, Paulo Gonet; o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski; e o diretor da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, entre outros

  • Quem bancou?

    British American Tobacco (antiga Souza Cruz) e Banco Master

  • Quanto custou aos cofres públicos?

    O STF desembolsou R$ 100 mil em diárias de um servidor que acompanhou o ministro Dias Toffoli em Londres e Madri (onde o ministro participou de outro evento). A PF pagou R$ 9.500 em diárias de um segurança do diretor da corporação, Andrei Rodrigues

O diretor-geral da PF não foi o único a levar segurança custeado com recursos públicos para Londres.

O ministro Dias Toffoli gastou R$ 99,6 mil de recursos públicos em diárias para um servidor que o acompanhou em viagens para Londres, no Reino Unido, e Madri, na Espanha, onde participou de outros eventos.

O STF omitiu informações sobre as viagens feitas por Toffoli e se negou a confirmar se ele passou 25 dias no exterior, conforme indicam os pagamentos ao servidor que o acompanhou.

Após a Folha revelar o pagamento das diárias, o STF tirou do ar a página de transparência sobre diárias e passagens. O site ficou uma semana desativado e, quando voltou, não tinha mais as informações sobre seguranças de ministros.

"As informações sobre segurança institucional sempre foram divulgadas com restrição, sem detalhamento, de modo a dificultar qualquer planejamento que crie riscos reais para tribunal, seus ministros e servidores. O formato em que estavam sendo divulgadas recentemente as informações sobre diárias e passagens estava em descompasso com essa orientação", justificou o STF.

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