Descrição de chapéu Governo Lula

Lula reclama da imprensa e fala em 'notícia tirada do contexto' após gafes

Declaração ocorre após frase sobre violência doméstica e ruído com mercado; mais cedo, disse que leria discurso para evitar deslizes

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Brasília

O presidente Lula (PT) se queixou, nesta quarta-feira (17), da imprensa e, sem citar declarações suas, falou em "notícia tirada de contexto", após um dia de gafe e ruídos com o mercado. Disse que, em meio a essas intrigas, todos os projetos importantes para o governo foram aprovados no Congresso Nacional.

Em um evento no Palácio do Planalto, Lula condenou a violência doméstica, mas, "se o cara for corintiano, tudo bem". Ele também afirmou precisar ser convencido sobre a importância do corte de gastos para realizá-lo, apesar de defender o respeito ao arcabouço fiscal.

O petista tem acumulado uma série de gafes neste seu terceiro mandato. Com temas variados, a verborragia do mandatário provocou preocupação em aliados e integrantes do governo e gera críticas de oposicionistas.

O presidente Lula (PT) participa de cerimônia de Sanção de dois projetos de lei, um que trata de direitos para mulheres pesquisadoras que tem filhos e outro educação ambiental, no Palácio do Planalto. - Pedro Ladeira-17.7.2024/Folhapress

"Muitas vezes [a gente] está vendo telejornal e o que predomina no telejornal não é a notícia completa, é uma frase da notícia tirada de contexto que, de preferência, se puder fazer intriga, melhor. Se não puder, não tem problema", disse Lula, sem especificar a que fala se referia.

O presidente disse que mesmo com a polarização, "com essa coisa ideológica, que todo mundo fala que está acabando mundo, que não sei quem não concorda com não sei quem", não houve um projeto significativo rejeitado pelo Congresso Nacional.

A declaração do político ocorreu durante a sanção de projeto sobre os prazos de conclusão do ensino superior para mães e insere a proteção à diversidade e a mudança climática na Política Nacional de Educação Ambiental.

O chefe do Executivo se queixa de que, segundo ele, os "grandes temas" estão fora da cobertura da imprensa e das discussões do Congresso --que, apesar de ter sido muito elogiado na fala de Lula, também não escapou da crítica.

Ele contou ainda que ligou para o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), para pedir uma intervenção junto aos deputados, porque as brigas estavam "promovendo degradação da função política".

"Chega os adversários de vocês e xinga, você xingar, todo mundo xinga todo mundo. A gente tem comportamento que leva a cometer erros e ser achincalhado, como muitas vezes é o Congresso Nacional, o Executivo, a Suprema Corte", completou.

Lula não falou quando conversou com Lira. Mas ele propôs e aprovou uma proposta de resolução na Casa que altera o Regimento Interno da Casa e permite a suspensão cautelar do mandato parlamentar por até seis meses para quem for alvo de representação por quebra de decoro.

A medida ocorreu uma semana depois de um embate físico ao final da sessão do Conselho de Ética que livrou André Janones (Avante-MG) da suspeita de "rachadinha" e de a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP), 89, ter passado mal e ser internada após discussão sobre um projeto de lei na Comissão de Direitos Humanos.

Mas, apesar do puxão de orelha, Lula fez uma fala em que agradeceu os parlamentares por ajudarem a aprovar as propostas consideradas importantes para o Brasil, e disse não ter problema quando o texto é alterado no Congresso.

"Quero agradecer os congressistas brasileiros, aqueles os que votaram favor e contra. Voto contra é tão importante ou significativo quanto o favorável, se a gente quiser respeitar comportamento democrático das pessoas", disse.

Mais cedo, Lula já havia dito que leria seu discurso para evitar gafes e que precisa aprender com a plateia de pessoas com deficiência. "A Janja falou 'amor, tome cuidado com cada palavra que você vai falar, porque essa gente tem a sensibilidade aguçada'", disse, sob aplausos da plateia.

"Então, eu decidi ler para não falar nenhuma palavra que possa me criar problema. Também se eu falar alguma palavra, vocês sabem que nesse assunto vocês são especialistas, vocês sabem que eu sou um analfabeto e preciso aprender muito com vocês pra gente aprender a cuidar de vocês com carinho e respeito necessário", afirmou.

A declaração foi dada durante a solenidade de encerramento da 5ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência.

A fala crítica à imprensa nesta quarta ocorre na esteira de uma gafe do presidente, na véspera, e de um trecho de uma entrevista sua que vazou antes de ela ser veiculada, fora de contexto, abalando o mercado.

Em nota, a Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência) afirmou que em nenhum momento Lula endossou a violência contra as mulheres. "O respeito às mulheres é valor inegociável em todas as esferas do Governo Federal e desde o início de 2023, a atual gestão tem atuado de forma sistemática para ampliar continuamente as oportunidades e a proteção para este público."

No segundo caso, um trecho da entrevista concedida pelo presidente chegou ao conhecimento do mercado cerca de uma hora antes da divulgação da emissora por intermédio de uma agência da qual a entrevistadora é sócia.

Pouco antes das 13h, uma corretora divulgou aos investidores a declaração em que Lula dizia que ainda precisava ser convencido sobre a necessidade de cortes de gastos e que a meta fiscal não necessariamente precisava ser cumprida, embora tenha se comprometido com o arcabouço fiscal.

A menção a cortes "entre R$ 15 bi e 20 bi", presente no comunicado da corretora, não foi dito por Lula e apenas na pergunta da jornalista.

Lula ainda afirmou que precisa ser convencido de corte de gastos em 2024. As contenções devem ser formalizadas no próximo dia 22 de julho, quando será divulgado o próximo relatório de avaliação do Orçamento deste ano.

À tarde, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou que as declarações estariam fora de contexto. E que outros trechos da entrevista mostrariam o compromisso do governo com o arcabouço.

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