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Desafios nas capitais

Prefeitos têm que pôr a mão na massa para gerar emprego qualificado

Trabalho qualificado em regiões carentes é prioridade, melhor do que estímulos tributários

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José Luiz Portella

Engenheiro civil, é doutor em história econômica pela USP, onde faz pós-doutorado em sociologia. Atua como pesquisador do IEA-USP (Instituto de Estudos Avançados) e é professor de pós-graduação

Geração de empregos é a política mais completa. Sua sombra é a informalidade. A questão é qualitativa. Não basta suscitar qualquer ocupação profissional. O emprego bastardo tem dois representantes: a) informalidade; b) ofício desqualificado.

Não basta produzir trabalho remunerado. Emprego qualificado promove dois benefícios: aumento de renda e elevação da produtividade. Aumento de renda gera maior impulso ao consumo de vida qualificada. Desenvolver a produtividade permite crescer sem inflação de demanda.

No caso do Recife, surpreende o fato de haver tanta informalidade, emprego sem direitos, em cidade com o prefeito mais bem avaliado do Brasil, líder disparado para vencer no primeiro turno. Algo está fora da ordem.

Entregadores no Recife; cidade enfrenta desafios de informalidade e geração de empregos - Leo Caldas/Folhapress

Informalidade rima com baixa qualidade de vida. Prefeito bem avaliado harmoniza-se com aprovação da vida em curso. As pessoas estão contentes ou estressadas no Recife?

Dubiedade é a exata expressão do nosso antagonismo formal, signo da alma brasileira. Como recifenses podem estar bem em uma cidade com tanta informalidade e desocupação?

O emprego enfrenta outro repto: a transformação tecnológica, espécie de "destruição criativa", fenômeno "schumpeteriano" (relativo a Joseph Schumpeter, economista), quando se criam formas de produção que destroem as vigentes e inserem novas. Está acontecendo com a transição energética e com a inteligência artificial.

José Pastore, professor especialista, diz: a destruição vem rapidamente, a geração das vagas das novas tecnologias, em passo mais lento. O tempo entre destruição/criação proporciona hiato de desocupação.

Isso ocorrerá com a inteligência artificial. Como se sucedeu com a revolução industrial. Cabe preencher o hiato.

Hoje, temos oferta de trabalho, principalmente na tecnologia de informação, com vagas não preenchidas convivendo com desemprego. Falta qualificação. Tal ferida é patologia conhecida: educação deficiente.

Discurso obrigatório de campanhas políticas. Sem solução ou com escassas ilhas de excelência, como a cidade de Sobral, no Ceará. A dissonância faz parte das doenças crônicas do Brasil. Mesmo bons exemplos não escalam no Brasil.

Outra escoriação: o "precariado", trabalhadores em estado precário, onde se insere a informalidade, assunto tratado com extensão pelo professor Rui Braga, da USP.

O foco do "precariado" é o "trabalho nas ruas" e a terceirização. Que, no Brasil, é filha da alta tributação do emprego, do fato de o empregador pagar quase o dobro do que fornece de salário. Outro problema clássico não decifrado.

A reforma trabalhista não resolveu nem a reforma tributária promete fazê-lo.

O Brasil opta, diante de seus infernos dantescos, por procurar soluções parciais, amenizadoras, que remetem o problema para adiante. Como fez com a reforma da previdência. Melhora na hora, empurra a essência com a barriga.

Outra adversidade dramática: o Brasil ama tratar as coisas de forma genérica. Reflete sobre o emprego pelo agregado geral. O desemprego está caindo, mas isso não é o suficiente. A qualidade no emprego gerado é muito ruim. De cada 10 empregos constituídos, 7 remuneram com até dois salários mínimos. Com R$ 4.500, uma pessoa está entre os 10% mais ricos, devido à distribuição de renda.

Tem saída? Sim.

Porém surge o Barão de Butenval, diplomata, que cravou: no Brasil, as palavras são mais importantes do que as ações.

Primeiro ato é ter o compromisso com a realização completa.

Educação é boleto inarredável. Mas é preciso conectar a qualificação profissional com o mercado. A ojeriza da universidade pública à conexão joga universitários no limbo ou no além-mar. Também, indústria e setor de serviços não conversam, devidamente, com os órgãos do ensino médio.

Cabe ressaltar o Porto Digital, no Recife, paradigma para o Brasil que desejamos, que exalta o oposto da informalidade, a representar os extremos da corda bamba onde se desequilibra o Brasil.

Emprego local qualificado em regiões carentes é prioridade. Melhor do que estímulos tributários, em regra, transformados em mais lucro para o empregador.

Desonerar o emprego e tributar mais lucros, dividendos e outros privilégios recônditos. Prefeitos precisam colocar a mão nessa massa. O trabalho não é só salário, é formador da consciência do ser humano (Hegel).

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