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Nunes avalia cenário para decidir como (e se) irá usar Bolsonaro na propaganda

Sistema automatizado armazena horas de gravação entre os dois políticos e, acionado, pode disparar material de campanha

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São Paulo

Basta apertar um botão para que Jair Bolsonaro (PL) entre de vez na campanha de Ricardo Nunes (MDB).

Os estrategistas do prefeito de São Paulo, que agora busca a reeleição, armazenam, em um banco de dados, horas de gravação em que os dois políticos aparecem juntos. A tecnologia por trás das redes de Nunes permite que um tema da campanha seja selecionado e editado, em um vídeo com ambos os políticos, em apenas um clique.

Mas a decisão sobre apertar o botão, segundo integrantes da campanha de Nunes, vai depender do que as pesquisas disserem: o ex-presidente só vai aparecer, nas ruas ou na propaganda, se for mesmo necessário. Há quem diga que Bolsonaro é assunto para o segundo turno. Afinal, a maneira como ele deve participar da campanha vai se adequar ao eventual adversário do prefeito em um provável segundo turno.

Jair Bolsonaro (PL), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e prefeito Ricardo Nunes na convenção do MDB que oficializou sua chapa - Rafaela Araújo/Folhapress

Se Nunes passar para o segundo turno e tiver um embate contra Pablo Marçal (PRTB), Bolsonaro será uma figura determinante para que o eleitorado identifique o prefeito como um político de direita. Já em caso de confronto com Guilherme Boulos (PSOL), a estratégia é ter o apoio tal como manifestado no primeiro turno, mantendo um certo distanciamento.

Integrantes da campanha afirmam que nem seria preciso promover uma agenda de rua com Bolsonaro. Bastaria uma live entre os dois. Há também uma segunda alternativa: o prefeito ir até o ex-presidente para gravar novos vídeos.

Os estrategistas do MDB têm uma leitura otimista do cenário político. A pesquisa Datafolha mais recente mostra Nunes na liderança com 27% das intenções de voto, seguido por Boulos (25%) e Marçal (19%).

Os números revelam uma melhora do prefeito, cuja candidatura apresentava tendência negativa. Por isso, parte dos seus aliados quer manter a estratégia atual, o que inclui a adesão protocolar de Bolsonaro a Nunes, seguindo o acordo firmado antes da eleição.

Com o surgimento de Marçal, Bolsonaro passou semanas fazendo acenos dúbios. Pouco a pouco, o ex-presidente, que viu seu posto de líder da direita ameaçado pelo influenciador, foi sendo convencido a estreitar laços com Nunes.

Depois da melhora do prefeito nas pesquisas, o ex-presidente resolveu aparecer, há uma semana, em transmissão ao vivo, em um jantar promovido em prol do emedebista. Mesmo assim, ainda restava a dúvida sobre quando Bolsonaro participaria de um compromisso eleitoral com ele.

Nunes e Tarcísio têm dito que Bolsonaro espera aparecer uma brecha em sua agenda para entrar na campanha. Enquanto isso, o político do PL cumpriu agenda em diversas cidades, no interior de Santa Catarina e no próprio interior de São Paulo.

Com ele alheio à capital paulista, a adesão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) à campanha se mostrou fundamental, sendo um dos motivos listados por aliados para que Nunes tenha alcançado a liderança. Outra razão, afirmam, é o tempo de televisão, o maior da história das eleições municipais de São Paulo.

Manter Bolsonaro à espreita combina com a resistência da campanha de Nunes em trazer a polarização para o primeiro plano.

Por trás da aposta dos marqueteiros, está a orientação de alicerçar a campanha em fatos da gestão e não em percepções, tática dominada por Marçal. Não à toa, a ideia é aproveitar o horário eleitoral para listar as obras que Nunes entregou. Seguindo o raciocínio, essa fórmula, associada a Tarcísio e ao tempo de TV, foi suficiente para a recuperação nas pesquisas.

O mote aparece também nas redes, em vídeos curtos, intitulados "Ricardo faz/Ricardo Fez", ou no "Pod Fez/ Pod Faz", podcast em que Nunes debate com Tarcísio prioridades para o eventual segundo mandato.

Ao contrário da TV, a internet representa um desafio para o prefeito, que, antes das eleições, pouco usava as suas contas como vitrine. Um levantamento da empresa de análise de dados Bites, realizado a pedido da Folha, mostra que Nunes não tem transferido a popularidade da televisão para as redes.

De 30 de agosto, dia do início da propaganda, até 11 de setembro, ele teve um aumento de 19,5 mil seguidores. No período anterior, entre os dias 18 e 30 de agosto, a alta foi de 11,4 mil seguidores. "Ele não tem engajamento, o que pode virar um problema, porque a rede customiza o discurso para um público específico", diz André Eler, diretor técnico da Bites.

Em comparação, Boulos, desde o início da propaganda, somou às suas redes 22,7 mil contas. Enquanto isso, as mídias de Tabata Amaral (PSB) ganharam 33,5 mil integrantes, e as de Marçal, que não tem tempo na TV, conquistaram quase 700 mil apoiadores.

O dia 4 deste mês foi o de maior popularidade de Nunes nas redes —naquela data, Tarcísio passara a pedir votos para ele na TV. A campanha não espera que, em dois meses, as mídias digitais tornem-se o principal meio de comunicação do prefeito.

Além disso, argumenta que TV e redes são veículos paralelos, com públicos distintos. O esforço digital tem como objetivo criar um diálogo entre Nunes e o eleitorado jovem. Segundo a pesquisa Datafolha, Nunes tem só 12% no segmento e fica em quarto lugar.

Estar no cargo também tem sido um diferencial para o prefeito, diz Christian Lynch, professor de Ciência Política da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

"Ter a máquina significa dispor de aparato administrativo, prometer cargos, contratar serviços para quem precisa, significa fazer pactos", ele afirma. "São Paulo é uma cidade burguesa. Entre o fantasma comunista e um lacrador, Nunes é um nome viável para essa burguesia."

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