Descrição de chapéu Inovação no Brasil

Universidades precisam pôr em foco aplicação prática de pesquisa, dizem especialistas

Tema foi debatido no 2º seminário Inovação no Brasil realizado pela Folha em São Paulo

Edison Terra, vice-presidente da Braskem, Luiz Roberto Curi, do Conselho Nacional de Educação, Gilson Paulillo, gerente corporativo de inovação do grupo Energisa, Bruno Igel, diretor-geral da Wise, e Everton Lopes Batista, mediador do debate - Reinaldo Canato/Folhapress
Leonardo Neiva
São Paulo

Apesar de o Brasil estar entre os principais países do mundo em termos de produção de conhecimento acadêmico, nossa capacidade de transformação desse potencial em aplicações práticas e em produção para o mercado ainda é baixa.

Ainda que hoje exista um movimento cada vez mais forte de integração entre universidades e empresas, ações como a renovação dos currículos com uma atenção maior para a inovação e a mudança de mentalidade no ambiente acadêmico, estimulando um processo focado na entrega de um produto final,
são fundamentais para incentivar a pesquisa e a produção no país.


Essas foram algumas das considerações levantadas por especialistas e empresários durante debate sobre inovação colaborativa e sustentabilidade, ocorrido nesta segunda-feira (13), no MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo. A discussão faz parte do 2º seminário Inovação no Brasil, promovido pela Folha em parceria com a Embratel, com apoio da Braskem e do grupo Energisa.

A mediação do debate foi feita pelo jornalista da Folha Everton Lopes Batista.

“Enquanto o Brasil concentra cerca de 17% da produção intelectual do mundo, ocupamos apenas o 99º lugar entre as nações no aspecto da transformação dessa pesquisa em produto. Uma posição não muito confortável para nós”, afirmou Luiz Roberto Curi, conselheiro do CNE (Conselho Nacional de Educação).

Segundo Curi, a criação de políticas públicas eficientes voltadas ao processo de inovação depende da articulação de fatores como produção de conhecimento, cultura, economia e inclusão social. A universidade, produtora de conhecimento por excelência, seria, portanto, um ponto de partida importante para promover essa integração.

O conselheiro fez críticas à ausência de uma política pública de distribuição das matrículas pelas regiões do país —que, segundo ele, é concentrada em 40% no Sudeste— e à demora nos processos de aquisição de patente e de introdução de novos produtos no mercado.

Para Gilson Paulillo, gerente corporativo de inovação do grupo Energisa, empresa privada de distribuição de energia, já existem no país boas políticas públicas que estimulem as pesquisas e a inovação. Dentro das universidades, porém, segundo ele, a geração de indicadores acadêmicos ainda é muito mais incentivada do que a criação voltada para os consumidores.

Um passo fundamental para alterar essa situação, segundo ele, seria as instituições começarem a trabalhar a mentalidade interna com o objetivo de modificar aos poucos essa diretriz.

Além da academia, frisou Paulillo, também é importante envolver o público consumidor e startups nacionais e internacionais no processo de inovação, criando um ambiente colaborativo de formulação de ideias, baseado em uma lógica de negócios.

“São iniciativas que vão levar a um grande impacto dentro do nosso negócio, da indústria como um todo e da colocação de novos produtos no mercado, e que nos ajudarão a atender todos os segmentos da cadeia do setor elétrico”, declarou.

O vice-presidente da empresa química Braskem, Edison Terra, também acentuou o regime colaborativo dentro das empresas como iniciativa essencial para o processo de inovação.

“É preciso aplicar um modelo similar ao da Pixar, em que qualquer ideia é fruto do comportamento coletivo”, explicou. “Hoje deve haver uma colaboração muito grande da empresa com clientes e fornecedores. Muitas delas têm buscado colaboração com startups para, além de maior rentabilidade, resolver com um agente externo seus problemas internos, de forma estratégica.”

RECICLAGEM

De acordo com Terra, a inovação colaborativa, se realizada de forma sustentável, é também um pilar fundamental para a construção de um modelo de economia circular, que, em vez de descartar os resíduos gerados no final da cadeia produtiva, seja capaz de reintroduzi-los na economia por meio da reciclagem e do reaproveitamento.

Um exemplo de produto ligado à inovação sustentável, levantado por pergunta enviada por um participante da plateia, foi o do plástico verde, fabricado a partir do etanol de cana-de-açúcar, e que, segundo Terra, tem boa funcionalidade e cuja matéria-prima é de altíssima produtividade.

Para ser mais aplicada pelo mercado, a reutilização do plástico deve mostrar-se viável a partir de uma lógica econômica, de acordo com Bruno Igel, diretor-geral da Wise, companhia que atua na área de reciclagem do material.

“Quando o plástico for como a latinha, produto que tem valor para o mercado, a chance de cair no ambiente é muito baixa”, disse.

Ele afirmou também que hoje, no Brasil, a atividade ainda sofre com barreiras tributárias e falta de infraestrutura. Para que essas dificuldades sejam superadas, o público é um aliado importante.

“No mundo, empresas e governos têm se engajado principalmente por pressão da sociedade, que vem agindo de forma expressiva para aumentar a escala da reciclagem de plástico”, afirmou Igel.

Ele destacou como positiva uma iniciativa recente do clube de futebol espanhol Real Madrid, que produziu uma linha de camisas feitas de resíduos retirados do fundo do oceano. Embora tenha pouca relevância em termos de escala, Iger disse ser um tipo de ação crucial para elevar a conscientização da sociedade.

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