Descrição de chapéu Viver com Dor

Falta capacitação para médico brasileiro tratar o sofrimento do paciente

Para especialistas, manejo correto da dor depende de mudança no currículo de cursos da área da saúde

Mesa de debate do seminário Viver com Dor, no auditório da Folha, em São Paulo
Mesa de debate do seminário Viver com Dor, no auditório da Folha, em São Paulo - Reinaldo Canato/Folhapress
Everton Lopes Batista
São Paulo

Diagnosticar e indicar um tratamento correto para a dor não é tarefa simples. O sofrimento é resultado, muitas vezes, de diversos fatores que dependem de um escrutínio criterioso e complexo para serem encontrados.

Um dos problemas para chegar ao manejo correto da dor é a falta de formação dos profissionais de saúde, segundo especialistas que participaram do seminário Viver com Dor, realizado no dia 17, no auditório da Folha, em São Paulo.

“Se a dor é um sintoma tão prevalente e que afeta tanto a qualidade de vida, por que não tem destaque no currículo?”, disse Guilherme Moreira de Barros, médico e professor do Departamento de Anestesiologia da Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp).

De acordo com Barros, o ensino da dor na universidade é fragmentado. “Professores falam sobre o tema, mas ninguém junta tudo para o aluno.”

A negligência da dor viria da falta de conhecimento, segundo o médico. “Há um sentimento, entre os profissionais, de que sentir dor é normal.”

​Barros disse que, enquanto estava na graduação, o ensino de anestesiologia, hoje obrigatório, ainda era opcional.

Segundo o médico, o acréscimo de outros conteúdos ligados à dor em caráter obrigatório deveria vir por iniciativa do Ministério da Educação e contemplar desde a avaliação até o tratamento da dor.

Para Jorge Afiume, diretor médico do laboratório Cristália, o sofrimento de pacientes é questão de saúde pública e deve ser enfrentado com a formulação de políticas públicas, inclusive na educação.

Uma ação encabeçada pelo Ministério da Educação tornaria possível um currículo único para o tema no país, uniformizando procedimentos e aumentando a qualidade dos atendimentos, defenderam os especialistas.

O reconhecimento neste ano da dor como doença pela Organização Mundial da Saúde vai contribuir para mudar o cenário, segundo João Batista Garcia, professor da Universidade Federal do Maranhão e presidente da Federação Latino-americana das Associações para o Estudo da Dor.

“Antes, era território de todos, e, por isso, as faculdades não assimilavam como uma disciplina. Agora, não há desculpa. A mudança vai facilitar o ensino e o reconhecimento da dor”, afirmou Garcia.

Esse conhecimento precisa chegar ao profissional para que outra etapa seja concluída: a educação do paciente, de acordo com Angela Sousa, chefe do Centro Multiprofissional de Tratamento de Dor do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira).

“Não é incomum receber paciente que não toma o medicamento porque tem medo de ficar viciado. É nosso papel educar, explicar do que se trata o remédio prescrito”, disse.

A abordagem multiprofissional para o tratamento da dor foi uma unanimidade entre os participantes do seminário. Dessa forma, ações educativas devem incluir profissionais de diversas áreas para que sejam eficientes.

“Todo paciente com dor crônica tem chances maiores de desenvolver transtornos psiquiátricos, por exemplo. Ele deve passar por outros profissionais, como o educador físico, o terapeuta e o psicólogo”, afirmou Aline Turbino, neurologista especializada em dores de cabeça, crânio e face.

O exercício físico foi um dos fatores importantes no tratamento das dores da artrose de Priscila da Costa Barros, ex-jogadora profissional de basquete e criadora do projeto Vencendo Artrose, que auxilia pessoas com a doença.

“No começo, eu chorava com medo de fazer os movimentos. Mas tem de ter paciência e persistência. Eu lutei por dois anos para conseguir viver sem dor”, afirmou.

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