Descrição de chapéu Seminário Coração Fraco

Falta orientação adequada para paciente aderir ao tratamento de insuficiência cardíaca

Para especialistas, incompreensão da importância dos remédios e da reabilitação pode levar à desistência

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Amanda Gonzales (esq.), do Hospital das Clínicas, da USP; Susana Basilio, do Hospital São Paulo, da Unifesp; Fernando Bacal, especialista em transplante cardíaco, e a mediadora Cláudia Collucci, no seminário Coração Fraco
Amanda Gonzales (esq.), do Hospital das Clínicas, da USP; Susana Basilio, do Hospital São Paulo, da Unifesp; Fernando Bacal, especialista em transplante cardíaco, e a mediadora Cláudia Collucci, no seminário Coração Fraco - Reinaldo Canato/Folhapress
São Paulo

​​Apesar de avanços recentes no tratamento da insuficiência cardíaca, grande parte dos pacientes ainda não segue as recomendações médicas e abandona medicamentos e exercícios, aumentando as chances de novas internações no futuro.

Para especialistas, que trataram do tema durante o seminário Coração Fraco, a falta de compreensão da importância dos remédios e do programa de reabilitação é o que muitas vezes leva os pacientes a desistirem do tratamento.

“A insuficiência cardíaca traz consigo uma polifarmácia, e o paciente não entende por que tem que tomar tudo aquilo, ou então para porque está sentindo algum efeito adverso”, afirmou Sabrina Bernardez Pereira, coordenadora dos Protocolos Assistenciais Gerenciados e do Escritório de Valor do Hospital do Coração (HCor).

Segundo a representante do HCor, há também os que desistem por negarem ter a doença, em função da depressão associada a ela.

Os pacientes não são, porém, os únicos responsáveis pela descontinuidade do tratamento. “A gente joga muito no colo do paciente o controle da doença e deixa de lado a responsabilidade do médico. Menos de 50% recebem orientação adequada em relação à piora de sintomas e ao que fazer”, disse Sabrina.

Essas informações são importantes para evitar a falta de adesão e reduzir as reinternações. Cerca de 50% dos pacientes internados por insuficiência no país voltam a ser hospitalizados em até seis meses após a alta, segundo pesquisa divulgada em 2014 pela Sociedade Brasileira de Cardiologia.

De acordo com Susana Basilio, enfermeira coordenadora da Cardiologia Clínica e Cirurgia Cardíaca do Hospital São Paulo, da Unifesp, muitos ainda sentem vergonha de perguntar ao médico sobre o que não entenderam e acabam recorrendo aos enfermeiros. Por isso, segundo ela, o papel desses profissionais é essencial para reconhecer e sanar dúvidas.

Participantes do evento concordaram que nem sempre uma consulta dura tempo necessário para abordar os diversos aspectos da vida de um paciente, daí a importância de um tratamento que envolva múltiplos profissionais.

A unidade onde Susana trabalha é exemplo de local que oferece acompanhamento multidisciplinar após a alta, incluindo fisioterapeuta, nutricionista e farmacêutico.

“A alta hospitalar feita por um médico é uma coisa; por uma equipe multidisciplinar, é outra. Quando uma enfermeira pergunta se o paciente [após consulta com médico] entendeu, é absurdo ver como muitas vezes ele não entendeu nada”, disse Salvador Rassi, presidente do Departamento de Insuficiência Cardíaca da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

A orientação médica é essencial também para a continuidade de uma rotina de reabilitação que envolve hábitos cotidianos, como a prática de exercícios e boa alimentação.

“Pacientes bem orientados na alta médica aderem muito mais a modificações de estilo de vida”, afirmou Amanda Gonzales, cardiologista da Unidade de Reabilitação Cardiovascular e Fisiologia do Exercício do InCor.

Gonzales defendeu a implantação de mais equipes multidisciplinares na saúde pública. Para a cardiologista, a solução é descentralizar o atendimento, instalando unidades de tratamento nas UBS (Unidades Básicas de Saúde).

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