O acordo assinado ao final de junho entre os países do Mercosul e da União Europeia representa uma oportunidade inédita de negócios para o Brasil, mas dependerá do compromisso do país com o meio ambiente e com o aprimoramento das cadeias produtivas para ser devidamente aproveitado.
Essa foi a conclusão do primeiro debate do 3º Fórum de Agronegócio Sustentável, nesta segunda-feira (26). Promovido pela Folha, o evento foi patrocinado pela BRF e teve o apoio da CNA (Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária) e do governo de Mato Grosso.
Para Annelise Vendramini, coordenadora do núcleo de pesquisa em finanças sustentáveis da FGV, o acordo é uma oportunidade única para o Brasil. Não só ele deve abrir portas para um mercado que o país tem condições de atender, mas tem potencial para reduzir desigualdades, impulsionar o desenvolvimento e diferenciar os produtos brasileiros.
Para que isso se concretize, no entanto, o Estado e o setor privado deverão investir de vez em políticas de desenvolvimento sustentável e adaptar as cadeias produtivas a essa mentalidade. “Vamos ter que ir até o fim se a gente quiser, de fato, manter o Brasil nessa agenda competitiva —e há dinheiro na mesa para isso”, disse Vendramini.
Esse processo passa, necessariamente, por repensar toda a produção agrícola, das colheitas mais rudimentares às fazendas industriais. “Não importa o que você acredita em relação à mudança do clima. Pega um, pega geral, vai pegar você também.”
A pesquisadora ressaltou a necessidade de ver os recursos naturais brasileiros como bônus, e não como algo a ser combatido, e citou como bons exemplos os programas Agricultura de Baixo Carbono e o Crédito Ambiental Rural. “Precisa investir para ter retorno. É isso o que está faltando no Brasil.”
Para Lígia Dutra, superintendente da CNA, o acordo entre o Mercosul e a União Europeia não só amplia as possibilidades para o agronegócio, como pode desenvolver cadeias subaproveitadas no país, como a fruticultura, a aquicultura e a produção de laticínios.
“O Brasil ainda é um país muito fechado. O potencial do agro é pequeno perto do que podemos exportar e produzir”, afirmou. “Vamos finalmente poder concorrer em igualdade de condições.”
Dutra acredita que um alvo a ser combatido pelo setor, no futuro, são os subsídios agrícolas oferecidos aos produtores rurais da Europa, dos Estados Unidos e de países em desenvolvimento como China e Índia.
“Tem que atacar os subsídios agrícolas. Eles afetam o produto brasileiro. Ninguém tem a pretensão de que em dez ou 15 anos o Estado brasileiro seja capaz de subsidiar qualquer setor.”
Questionada sobre a possibilidade de a França sair do acordo —aventada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, como resposta às queimadas na Amazônia—, Dutra a descartou. “Seria esquisito do ponto de vista econômico. As empresas francesas têm muito a ganhar com o Brasil.”
Grazielle Parenti, diretora de relações institucionais da BRF, concordou com essas duas teses. E ressaltou: “Não se pode generalizar que agronegócio tem a ver com crime ambiental”.
Ela esteve presente nas discussões que conduziram ao acordo, em Bruxelas (Bélgica), e relatou que a experiência de diálogo constante com autoridades foi “emocionante”.
“Temos uma expectativa muito positiva. Porque a gente está ali junto, especialmente do Ministério da Agricultura, abrindo esses mercados. É quase uma coisa meio bandeirante. De você ir a um lugar onde as pessoas não te conhecem e levar os nossos produtos.”
Parenti afirmou que vê uma oportunidade enorme de expandir o negócio da BRF, que já exporta para 140 países.
O coordenador-geral de negociações extrarregionais do Ministério da Economia, Carlos Degrazia, frisou a percepção do acordo como trampolim para o desenvolvimento econômico. Juntos, os países da União Europeia e do Mercosul representam um quarto da economia mundial. Além disso, a UE é a maior importadora e exportadora de produtos agrícolas do mundo. “É o acordo comercial mais ambicioso que o Brasil já celebrou”, resumiu.
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