Descrição de chapéu 4º Fórum Inovação Educativa

Escola deve ensinar o que nos diferencia das máquinas

Estímulo à criatividade e resolução colaborativa de problemas são tendências, segundo educadores

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Uma escola que proporcione ensino de qualidade para todos, onde alunos e professores trabalhem de forma colaborativa e com criatividade, que forme cidadãos globais e prontos para pensar e exercer autonomia é a escola dos sonhos dos profissionais da educação.

“Muita gente pensa que qualidade é uma infraestrutura bonita. Claro que é melhor, mas não é piscina e quadra coberta que fazem a diferença. Qualidade é criança e jovem aprendendo o que é relevante para ser cidadão e para o trabalho na vida adulta”, definiu Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV), na abertura da quarta edição do fórum Inovação Educativa.

Com a chegada da revolução 4.0, que automatiza inúmeras funções antes exercidas por humanos, a principal tendência em educação no mundo passou a ser o ensino da resolução colaborativa de problemas com base na criatividade. “Os robôs podem emular uma sinfonia de Beethoven, mas não criam música de qualidade. Nós podemos criar, interagir e aprender uns com os outros”, afirmou Costin, que é colunista da Folha.

O evento foi realizado pelo jornal na quarta-feira (13), com patrocínio da Fundação Telefônica Vivo. Na plateia do Centro de Convenções Rebouças, havia mais de 500 pessoas.

De acordo com Marcelo Veras, presidente do Instituto Brasileiro de Formação de Educadores, no futuro próximo, as habilidades socioemocionais e criativas serão mais valorizadas que a assimilação de conteúdos. Isso exigirá uma mudança radical na formação de professores, mas também vai gerar a valorização inédita da profissão. “Nós, professores, sempre fomos, por essência, condutores. Deixamos de fazer isso e passamos a ser meros transmissores de conhecimento”, disse.

Descobertas da neurociência podem contribuir para a construção dessa nova escola, que tem um olhar integral sobre as habilidades do estudante. A ciência já provou, por exemplo, que a emoção é fundamental no aprendizado, segundo Guilherme Brockington, doutor em educação e professor da Universidade Federal do ABC.

“Os professores precisam ser capacitados para entender como as emoções impactam seu trabalho. Elas são como uma cola cognitiva, precisa haver uma parcela de emoção para que o aluno aprenda de fato.”

Outra forte tendência é a personalização do processo de ensino através de plataformas digitais daptativas que podem identificar quais são as falhas na aprendizagem, lembrou Claudia Costin. “Elas vão permitir que, no futuro, não precisemos mais reprovar o estudante, porque vamos identificar exatamente o que ele não sabe e trabalhar com isso, seja do ponto de vista de competências socioemocionais ou de conteúdos.”

Os desafios, porém, não são poucos, lembrou a educadora. No Brasil, cerca de 55% dos estudantes com idade acima dos oito anos apresentam níveis insuficientes de leitura e 54% revelam a mesma dificuldade em matemática, de acordo com os resultados da Avaliação Nacional da Alfabetização de 2016, do Inep.

O baixo desempenho persiste no 9º ano escolar, quando só 40% dos alunos tem o nível adequado de leitura e 21% o de matemática. “Nós estamos vendendo aos pais a mentira de que as crianças estão aprendendo”, disse Costin.

Esse acúmulo de insuficiências, que vem desde o ensino fundamental e desemboca no ensino médio, torna o trabalho dos professores ainda mais desafiador. “Ser professor no Brasil de hoje não é para amadores”, afirmou Costin.

A principal dificuldade seria conscientizar os educadores e a direção das escolas a aderir à transição para um formato de escola que estimule a criatividade e privilegie o protagonismo do aluno. “É quase uma evangelização, um trabalho de formiguinha”, definiu Marcelo Veras, do IBFE.

“Em educação, mudar é difícil porque há uma cultura estabelecida que não aposta no potencial do aluno. Se você ouvir conversas de cafezinho no intervalo dos professores, vai escutar coisas que indicam isso”, disse Costin. 

Para ela, educação de qualidade não se faz com ilhas de excelência. “Não adianta dar tratamento de primeira linha para os alunos mais brilhantes e uma educação qualquer para os outros. Sonho com uma escola para todos, até para os que são considerados mais limitados”, concluiu.

Colaboraram Laura Castanho e Susana Terao

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.