Descrição de chapéu 7º Fórum A Saúde do Brasil

Sequelas da Covid-19 requerem integração de redes de saúde

Medo fez população deixar de buscar atendimento para doenças comuns, e o país vai pagar preço alto por isso

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São Paulo

Com altos custos sociais, a pandemia de Covid-19 trouxe lições para a atenção integral à saúde. O impacto para os brasileiros poderia ter sido diferente, e a expansão do vírus, mais controlada, se o país já tivesse um investimento de longa data na integralidade dos cuidados físicos e emocionais.

Remediar as sequelas da crise na saúde da população passa por superar os principais entraves para que o país tenha uma rede de cuidado integrada nos sistemas público e privado. O diagnóstico é dos participantes do debate de encerramento do fórum A Saúde do Brasil​, realizado pela Folha na quinta-feira (27).

Denize Ornelas, diretora da Associação Paulista de Medicina de Família e Comunidade, explica que a crise empurrou para um futuro próximo problemas importantes. Um deles é a parcela da população que, por medo da infecção pelo novo coronavírus, deixou de buscar tratamento para doenças crônicas e acompanhamento pré-natal.

Parte da justificativa para esse comportamento veio das lideranças, argumenta o vice-presidente médico da Rede D’Or São Luiz, Leandro Reis. “As autoridades orientaram a população a ficar em casa e só procurar assistência se tivesse falta de ar. Vamos pagar um preço alto por isso durante um bom tempo, porque quem está passando mal precisa de assistência.​”

Retomar os cuidados desses pacientes é um dos desafios que batem à porta da atenção primária à saúde (APS) e requer maior integração com as demais estruturas. A necessidade, porém, esbarra em problemas de outras ordens.

“A gente ainda tem avançado pouco em ferramentas de tecnologia da informação que poderiam ajudar na integração”, afirma Ornelas. Segundo ela, é preciso ampliar estratégias de fluidez de informação, como o prontuário eletrônico unificado, modelo que garante acesso imediato ao histórico de atendimento do paciente em qualquer unidade do SUS.


Veja vídeo do debate abaixo.


Leandro Reis afirma que os desafios para o cuidado integrado têm raízes estruturais e critica os efeitos da emenda constitucional 95/2016, que congela os gastos públicos por 20 anos. “O Brasil passa por um longo período de desinvestimento no setor público”, diz.

Ainda que seja um dos princípios do SUS (Sistema Único de Saúde), Reis defende que a integralidade deve ser tomada também como princípio fundamental na saúde privada.

Lídia Abdalla, presidente do grupo Sabin Medicina Diagnóstica, argumenta que uma das primeiras etapas para a rede de cuidado integrada é aproximar os sistemas público e suplementar. Tecnologias e soluções desenvolvidas pela rede privada para facilitar o acesso aos dados clínicos dos pacientes devem estar preparadas para serem integradas às informações dos serviços públicos.

“Com isso, poderíamos ter o conhecimento da jornada de todo paciente no sistema de saúde, e fazer um cuidado mais coordenado”, explica. Como exemplo, cita o sistema integrado desenvolvido pelo Ministério da Saúde para agrupar dados sobre a Covid-19 tanto do sistema público, quanto do privado.

Abdalla pontua que a medicina diagnóstica também é peça-chave. O setor ganhou mais visibilidade com a corrida por testes para o novo coronavírus, mas o momento também foi oportuno para observar que são poucos os laboratórios privados que dispõem de tecnologia e profissionais altamente especializados.

Segundo a presidente do grupo Sabin, mudar esse cenário e ampliar o acesso a exames mais especializados passa por um amplo investimento em ciência e pesquisa que proporcione a formação de mais especialistas e maior desenvolvimento tecnológico.

Investir na educação continuada também será essencial, acrescenta Maria Helena Palucci Marziale, diretora e professora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP. A demanda vem principalmente para lidar com a mudança na pirâmide etária brasileira, que aponta para o envelhecimento da população.

Nesse sentido, afirma, será preciso atenção especial à experiência e às necessidades dos mais de 2 milhões de profissionais da enfermagem que compõem o sistema de saúde no Brasil.

A professora cita ainda a telenfermagem​, modalidade que tem ganhado força no país. Em março, o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) autorizou as teleconsultas como ferramentas para ajuda no combate ao novo coronavírus.

Mas o histórico do setor com o digital já é antigo. Palucci explica que a teleducação, com o desenvolvimento de aplicativos e plataformas que fornecem orientações sobre a aplicação de insulina e a amamentação, por exemplo, tem se expandido e feito a diferença na assistência aos pacientes.

O debate teve mediação de Mariana Versolato, editora de Ciência, Saúde, Ambiente e Equilíbrio da Folha. O evento foi patrocinado por FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar), Rede D’Or São Luiz​ e SulAmérica.

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