Avanço da oncologia molecular está longe de pacientes no sistema público

Pesquisadores avaliam que tecnologia leva à melhoria da qualidade de vida e economia de recursos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Apesar de ter avançado e elevado o nível da medicina de precisão nas últimas duas décadas, a oncologia molecular ainda está distante da maioria dos usuários do sistema público de saúde.

O diagnóstico é de pesquisadores ouvidos durante a 5ª edição do seminário sobre câncer, realizado pela Folha na terça e quarta-feiras (10 e 11), com patrocínio do Hospital Sírio-Libanês e da Progenética.

Importante para o avanço das pesquisas, o segmento aprimora o diagnóstico e o tratamento da doença. A análise de amostras de DNA permite identificar mutações que indicam a predisposição a um tipo de câncer —uma espécie de assinatura genética do tumor— e apontam o melhor tratamento.

“Uma mesma doença, que se comporta com os mesmos sintomas, tem características biológicas diferentes nos pacientes”, diz o assessor médico do Grupo Pardini, Luiz Henrique Araujo.

Ele exemplifica que os cânceres têm uma espécie de sobrenome: o mesmo tumor pode se desenvolver em diferentes pacientes, mas a origem da doença, como uma mutação específica na carga genética, difere.

Em pacientes já diagnosticados, o teste molecular pode determinar o tratamento mais preciso e até mudar o método que vinha sendo adotado.

O assunto ocupou o debate público quando a atriz norte-americana Angelina Jolie fez uma dupla mastectomia preventiva em 2013, após descobrir, por meio de teste molecular, que tinha predisposição ao desenvolvimento de câncer de mama.


Veja vídeo do debate abaixo.


“Na época, houve aumento da demanda por diagnósticos moleculares”, conta Anna Claudia Evangelista, pesquisadora do Inca (Instituto Nacional do Câncer). “Mesmo pacientes que não precisavam realizar o teste nos procuraram. O lado positivo foi que o episódio pautou a importância da hereditariedade.”

A professora da USP (Universidade de São Paulo) Eugenia Costanzi-Strauss diz que, além do uso na prática clínica, todo o conhecimento acumulado com as descobertas das características genéticas do câncer está sendo aproveitado na academia para oxigenar as estratégias terapêuticas.

Apesar de melhorar a qualidade de vida dos pacientes, diagnóstico e testes moleculares ainda estão pouco presentes no SUS. O prejuízo é social, mas também econômico, afirmam os pesquisadores, já que o diagnóstico precoce e o tratamento mais preciso poderiam poupar recursos.

Na prática, relatam, a situação faz com que os usuários não acessem alguns novos medicamentos de medicina de precisão disponíveis, já que a falta de teste não permite identificar se os pacientes devem ou não ser tratados com determinada droga.

O pesquisador da Fiocruz Paraná Fábio Passetti acrescenta que o avanço no sequenciamento de genomas, como o realizado pelo programa Genomas Brasil, que prevê a criação de um banco de dados com 100 mil genomas de brasileiros, é outro ponto positivo a médio e longo prazo.

“O conhecimento do conteúdo genético dos tumores e da população em geral também pode ajudar no entendimento sobre a frequência com que cada tipo de câncer atinge diferentes segmentos populacionais”, afirma.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.