Descrição de chapéu Open Banking open banking

Setores de varejo e de pagamentos correm para se adaptar ao open banking

Sistema possibilita melhores experiências para clientes e redução das taxas de juros

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Florianópolis e São Paulo

Se grandes instituições bancárias e fintechs correram para adaptar seus serviços para o início da implementação do open banking no Brasil, movimento semelhante ocorreu nas maiores redes de varejo, pagamentos e soluções.

O reforço do time de engenharia de dados e as novas estratégias de segurança da informação mudaram a dinâmica das empresas que querem aproveitar a chegada do open banking para ampliar o leque de serviços oferecidos aos consumidores.

O relato é de participantes do seminário virtual Open Banking, realizado pela Folha na quinta-feira (26), com apoio da Mastercard.

No caso da multinacional de pagamentos, as adaptações começaram há cinco anos, influenciadas pelo calor da discussão sobre a proteção de dados e o sistema financeiro aberto na Europa.

"Vínhamos nos preparando para isso porque sabíamos que o momento chegaria", diz João Pedro Paro, presidente da Mastercard Brasil e Cone Sul.

Buscar conhecimento em tecnologia foi a primeira etapa, explica. Mudar o manejo de dados foi essencial. No caso da empresa, uma cláusula interna garante que os dados dos clientes sejam apenas numéricos, sem a informação de nome e documento pessoal.

"Mudamos a empresa de A a Z", diz Paro. "A Mastercard de antes representava mais ou menos um terço do tamanho que tem hoje."

Com o open banking em um horizonte próximo, o executivo relata que a multinacional planeja um pacote de soluções para oferecer aos clientes —tanto empresas, quanto consumidor final. Ferramentas de mais transparência nas transações financeiras e para evitar fraudes estão nos planos.

Já no varejo, a chegada do open banking tende a acelerar um movimento emplacado entre as grandes redes de lojas: a financeirização. Muitas delas já têm instituições financeiras que atuam como bancos digitais e, se autorizadas pelo Banco Central, poderiam aderir ao sistema de compartilhamento de dados.

É o caso da Renner, grupo com mais de 600 lojas em operação e proprietário da instituição financeira Realize.

O diretor-presidente, Fabio Faccio, diz que o open banking é visto com bons olhos. "Quando algo tende a melhorar a concorrência, isso gera um custo mais baixo e uma economia para os clientes, o que é o nosso objetivo."

A possibilidade de a empresa acessar o histórico bancário do cliente, afirma, permite oferecer melhores taxas. "Podemos ter uma gama maior de clientes e um risco menor."

Mesmo as varejistas que não tiverem expandido seus serviços para o financeiro têm como aproveitar o open banking, diz Davi Cunha, head de fintech, pagamentos e open banking na SouthRock Lab e fundador da Comunidade Open Banking Brasil.

A SouthRock Lab nasceu como o braço de inovação da SouthRock Capital, holding que opera no Brasil as empresas Brazil Airports Restaurantes, Starbucks e TGI Fridays.

"É possível fazer acordos bilaterais entre a instituição autorizada pelo Banco Central e a varejista, por exemplo, e se estabelecem regras para acesso aos dados", explica. O acesso, mesmo que indireto, deverá ser autorizado pelo cliente.

Cunha afirma que o momento é de fortalecer parcerias para acelerar a experiência digital dos clientes, como entre fintechs e empresas de varejo.

Segundo ele, há uma tendência de verticalização —quando uma companhia concentra todas as etapas de um produto, unificando o serviço.

"O cliente está no aplicativo do varejista e, além de comprar, pode acessar serviços financeiros e mesmo conseguir crédito para adquirir algo que deseja", exemplifica.

Faccio, da Lojas Renner, afirma que outro possível benefício do open banking e das demais transformações do sistema financeiro, como a digitalização e o Pix, é a diminuição da taxa de juros, estimulando a competitividade.

"São movimentos conjuntos que tendem a forçar essa queda, tanto pela maior disponibilidade de informação com os dados fornecidos pelos clientes, o que mitiga riscos para as empresas, quanto pela livre concorrência que é estimulada", explica.

Apesar de os custos e desafios para a adaptação ao novo sistema onerarem as empresas, Davi Cunha diz que é preciso olhar o outro lado da moeda. Os benefícios para os clientes e novas possibilidades de receita para as empresas compensam.

"Não podemos encarar o open banking somente como custo, mas como uma janela para novos negócios. É natural haver aumento de gasto com infraestrutura, mas é possível reverter o custo em oportunidades."

Novo sistema abre parcerias entre bancos e fintechs

Mesmo antes do open banking entrar em vigor, as parcerias de negócios entre os atores desse novo mercado já vêm acontecendo.

"Existem bancos brasileiros que estão com grandes programas de participação de fintechs como parceiras", afirma Marisa Albuquerque, vice-presidente da fábrica de softwares e inovação da Globalweb, empresa brasileira de TI criada há 25 anos, que oferece serviços de segurança e identidade digital, proteção de dados e conformidade.

"O relacionamento dessas novas empresas com as grandes instituições teve muitas mudanças nos últimos meses. Está migrando para uma parceria mais ativa, com ganho de receita compartilhado", completa Albuquerque.

Marcelo Prado, coordenador acadêmico do MBA em Estratégia de Mercado da FGV, observa esse cenário com otimismo.

"Fornecedores que integrarão esse modelo de negócios entre empresas (também conhecido como b2b, business to business) serão parceiros, não mais fornecedores. É positivo para todos os envolvidos", diz.


Assista aos debates do seminário:


Uma das fintechs que atuam no mercado de open banking é a Quanto, que recebeu neste ano aporte de US$ 15 milhões (R$ 80 milhões) dos dois maiores bancos privados do país, Bradesco e Itaú Unibanco. Para o diretor-executivo, Ricardo Taveira, o sistema financeiro aberto vai revolucionar a maneira com que os clientes encaram o banco.

Taveira faz uma comparação para explicar seu ponto. "As pessoas vão parar de olhar para o supermercado e focar em escolher o produto na prateleira. Cada área do banco deve conseguir aproveitar essa oportunidade. Alguns segmentos já estão mais acostumados a distribuir os seus produtos na plataforma de terceiros, como as companhias que oferecem crédito imobiliário e financiamento de carro."

Open banking só dá certo com lei de proteção de dados

Como todo serviço que envolve a comercialização de dados dos usuários, a segurança das informações também está no centro dos debates sobre o open banking.

Na opinião de Ricardo Taveira, da Quanto, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), em vigor no Brasil desde setembro, é "indissociável" do novo sistema.

"Se a LGPD diz que o usuário é proprietário dos seus dados, o open banking é o sistema em que esse conceito se torna realidade. O cliente pode escolher como entregar suas informações a outro banco para conseguir produtos ou taxas melhores."

Marisa Albuquerque, da Globalweb, diz que há uma novidade que o sistema deve trazer para os consumidores neste aspecto.

"Será necessário que eu possa ter a liberdade de autorizar ou revogar o compartilhamento dos meus dados a qualquer momento", explica. "As soluções de curadoria e cuidados com esses dados é que têm de ser o foco das instituições com o open banking."

O seminário foi mediado por Alexa Salomão, editora de Mercado da Folha.

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