Bilionário português eleva padrão de vida da cidade natal

Filantropo melhorou indicadores de salário e longevidade de vila pobre no Alentejo

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Campo Maior (Portugal)

Fundador da Delta, maior marca de cafés em Portugal, e com negócios que se estendem por mais de 20 empresas, do setor de vinhos ao de transportes, Rui Nabeiro virou sinônimo de investimento com responsabilidade social em seu país.

Aos 90 anos e ainda trabalhando, Nabeiro usualmente tem o tamanho de sua fortuna ofuscado pela dimensão de suas ações sociais e benefícios para funcionários. Segundo a revista Exame, seu patrimônio é de 462,2 milhões de euros (cerca de R$ 2,9 bi), o que o põe na 15ª posição no país.

As iniciativas do empresário em sua cidade natal, Campo Maior, transformaram a pequena vila no Alentejo, uma das regiões mais empobrecidas de Portugal, em uma espécie de oásis, com indicadores de salário e envelhecimento populacional melhores do que a média nacional.

Criada em 1961, a Delta emprega mais de mil trabalhadores na cidade de cerca 8.000 habitantes. Nabeiro também construiu um ecossistema de apoio aos moradores que inclui acesso a saúde e educação.

“Nesta terra, toda a gente tem trabalho, toda gente vive razoavelmente bem, para não dizer alguns muito bem”, afirma, sem disfarçar a satisfação.

Vindo de família humilde, diz que sentiu na pele o que é “viver mal”, e por isso quer dar as melhores condições possíveis aos colaboradores. Isso inclui desde benefícios mais tradicionais, como plano de saúde, a acesso facilitado à compra de carros e de casas.

Quando a empresa era menor, o empresário chegou a levar funcionários em excursões com ele e a família nas férias. “Muitos nunca haviam saído de Campo Maior, então os levei para conhecerem um pouco daqui. Comecei pela Espanha, depois pelas ilhas de Portugal. (...) Metemos num avião 300 pessoas, e é claro que isso ficou na memória”, relembra.

As ações de apoio da Delta são conhecidas em Portugal e, em meio à pandemia da Covid-19, parecem ter sido ainda mais valorizadas. Em 2021, a empresa assumiu a liderança do principal ranking de atratividade para o trabalho no país.

“Eu sempre investi nas pessoas. Minha área social é de uma elevação enorme, mas não ando à procura de mostrar, faço no silêncio.”

Não por acaso, é comum que ele seja alvo de solicitações de auxílio que vão do esperado, vagas de emprego, a dentaduras. Em muitos casos, a abordagem é feita no meio da rua, no curto caminho entre sua casa e o escritório.

“Eu não gosto de dizer não, é muito triste. A pessoa que vem para junto de nós tem sempre uma ambição, vêm com uma confiança. É difícil escutar o não.”

Para ajudar a família, ele começou a trabalhar com café aos 14 anos, com um tio que já atuava no segmento, mas voltado para o mercado espanhol. Ele conta que sua decisão de abrir um negócio virado para o público português foi recebida com ceticismo.

“Na altura, ninguém diria que era possível fazer qualquer coisa assim em Portugal. Dizia-se que torrefações que existiam já eram suficientes. Estudei o que as outras empresas estavam a fazer, vi que poderia fazer melhor, e fiz.”

Uma das mudanças foi o meio de transporte. “Eu comecei a levar o meu café numa carrinha, numa caminhonete, sempre à porta do cliente. Investi na proximidade e consegui conquistar o público português.”

Nabeiro estudou apenas até a 4ª série, mas faz questão de exaltar a importância da educação. “A grande arma do ser humano é a escola.” Os projetos educacionais conduzidos pela fundação Coração Delta, a associação que cuida dos projetos sociais de seu grupo, são enumerados por ele com entusiasmo.

Em Campo Maior, o Centro Educativo Alice Nabeiro — batizado em homenagem à mulher do empresário, com quem é casado há 67 anos — oferece atividades complementares para quase 200 crianças. Além de reforço escolar, há atividades esportivas e aulas de música, robótica e noções de programação.

Em entrevista à Folha em seu escritório, onde guarda dezenas de placas, prêmios e homenagens por sua atividade social, Nabeiro disse que não tem planos de parar.

“Como é que eu vou deixar de trabalhar, se estou a trabalhar com gosto? Se eu me sinto feliz e sinto-me orgulhoso de mim próprio? Gosto muito do que faço. Sinto que posso ainda distribuir e fazer pelos outros.”

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior do título deste texto chamou o personagem Rui Nabeiro de cafeicultor. Ainda que seja empresário do ramo, ele não cultiva o grão. O título foi corrigido. 

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