Descrição de chapéu ESG

Pandemia ajudou a impulsionar adesão a conceitos de ESG, dizem debatedores

Adoção de boas práticas ambientais, sociais e de governança marca mudança de paradigma

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São Paulo

ESG. A sigla ainda é pouco conhecida pela maioria, mas virou tópico prioritário na agenda de gestores, grandes empresas e outras nem tão grandes assim. Importada do inglês, diz respeito à cartilha que prega a adoção de melhores práticas ambientais, sociais e de governança e aposta no impacto que isso pode provocar em negócios ou investimentos.

A pandemia impulsionou a prática dentro das empresas, segundo profissionais que participaram de debate que a Folha promoveu na terça-feira (25), com patrocínio da Ambipar, multinacional líder em gestão ambiental, e apoio da construtora MRV Engenharia.

As principais companhias mundiais de administração de patrimônio deram passos significativos nessa direção. A Black Rock, maior empresa do setor, com quase US$ 8,7 trilhões sob sua responsabilidade, declarou em janeiro deste ano que poderia se desfazer de ativos de empresas sem planos claros para questões ambientais.

No Brasil, a tendência também vem aumentando. Segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), os fundos de ações baseados em sustentabilidade e governança acumularam mais de R$ 543 milhões em 2020. A expectativa é que, a partir de agora, atinja o país “como um tsunami”, na imagem criada por Rafael Benke, presidente da Proactiva, consultoria de ESG.

“O capital é o grande motor de qualquer atividade empresarial e hoje ele está se organizando para fazer investimento responsável em ESG”, afirma Benke, citando a Black Rock. Ele vê no cenário sinais de “transformação de paradigma”, e não apenas moda ou reformulação do conceito de sustentabilidade.

Para Rodolfo Sirol, presidente do conselho da Rede Brasil do Pacto Global​ das Nações Unidas, essa guinada conseguiu convencer pessoas que normalmente não se sensibilizariam com questões ambientais e sociais de que ESG é algo bom para a empresa. “Para nós, pouco importa o fator motivador da mudança, mas a direção que isso deu ao mercado.”

Dentro da Pacto Global, houve uma busca crescente das empresas pela sustentabilidade, e a rede atingiu a marca de 1.200 membros no Brasil. Em 2020, 210 novas organizações passaram a se comprometer com os dez princípios de direitos humanos e com os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) previstos na Agenda 2030 da ONU.

Outro fator que impulsionou as práticas ESG no ano passado foi a pandemia, concordam os debatedores. “A Covid-19 fez o mundo viver um conceito muito básico da sustentabilidade, que enxerga personagens de uma maneira integrada”, diz Benke. Sirol complementa: “Percebemos que qualquer coisa que acontece no mundo tem efeito no nosso quadrado”.

Mas, afinal, o que torna uma empresa ESG? Não existe um índice específico do quanto uma empresa é comprometida, e é preciso olhá-la por diferentes ângulos, afirmam os palestrantes. Além dos ODS, há diretrizes do sistema B, do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), que funcionam como norma de planejamento estratégico para as empresas.

“É importante conhecer os indicadores do seu segmento. Hoje você não avalia uma empresa só pelo lucro, está sempre olhando os diferentes ângulos. Grandes investidores têm reuniões só para falar de ESG”, afirma Patrícia Coimbra, vice-presidente de capital humano, administrativo, sustentabilidade e marketing da SulAmérica.

Um exemplo: quando se fala de agronegócio, martela-se a questão do desmatamento, mas as empresas estruturadas em ESG precisam ir além e tratar questões como emissões de carbono, degradação do solo, direitos humanos e conflitos fundiários. Esses assuntos saíram da esfera das ONGs.

Isso vale também para área financeira. Segundo Benke, nessa nova convergência, o capital está interessado em saber como um determinado operador está desempenhando todos os fatores.

Cristina Kerr, fundadora da CKZ Diversidade e mestre em sustentabilidade pela FGV (Fundação Getulio Vargas), concorda que houve grande aposta em governança e sustentabilidade, mas ressalva que a letra S (de social) ainda recebe menos atenção.

“No mundo corporativo temos um grande número de homens brancos, héteros e cisgêneros, e não vemos mulheres, negros, pessoas com deficiência ou LGBTs.”

Ela afirma, porém, que não basta ter diversidade sem inclusão; as pessoas precisam se sentir respeitadas, valorizadas e que não estão ali apenas para cumprir metas.

As mudanças são também alimentadas pelas gerações millennial (nascidos de 1980 a 1994) e Z (a partir de 1995), que estão escolhendo empresas, seja para consumir ou para trabalhar, alinhadas com seus propósitos, e não preocupadas apenas em ter lucro.

A dinâmica do ESG, somada ao cenário de pandemia, provocou uma ruptura total no planejamento estratégico das empresas, concordam os debatedores.

“Antes, olhávamos os últimos anos de desempenho para projetar os outros próximos, mas, se uma companhia fizer isso hoje, ela está fadada ao fracasso”, afirma Rodolfo Sirol.

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